Éramos um.
Era uma vez uma andorinha solitária que, qual Ícaro encarcerado por Minos, cansou-se de desviar seus vôos de tamanho baixo nível na mídia. Pensando que as andorinhas unidas poderiam voar mais alto, e melhor, suspendeu todas as revoadas de fins de tarde para os bares e calçadas da fama, pois achava que deveria fazer a sua parte.
Lembrando-se do Barão nas árvores, do escritor italiano Ítalo Calvino, sentou num galho, pegou uma de suas penas e redigiu um manifesto conclamando, via espaço sideral, outras ainda ilustres desconhecidas para cancelarem as assinaturas de um jornal que as vinha maltratando verão após verão.
A bem da verdade, o absurdo do que era publicado lhe fazia tanto mal quanto o frio minuano, pois, todos sabem, andorinha gosta mesmo é do verão. A informação vinha destemperada, provocando os mesmos estragos que o efeito El Niño. E, nós sabemos, quando a verdade morre, o primeiro a chegar é o urubu.
Vejam só, pensava a andorinha, enquanto o Brasil se cobre com o manto de uma via-láctea, as andorinhas gaúchas sofrem nas asas o efeito maligno do buraco da camada de ozônio que, estacionado sobre o céu pampeano, mostra todo seu poder de fogo através de pesquisas. Pesquisas estas urdidas, canta-se, com o único propósito de nos abater. Pesadelo igual só mesmo o de Ícaro, ao ver a cera de suas asas derretendo.
Mas, para a andorinha, o sonho não acabou!
Movimento vai às ruas
Em pleno vôo, aquela ave solitária mandou, via internet, seu manifesto. Em menos de 24 horas obteve retorno que jamais fizera parte de seus sonhos. Outras, da mesma espécie mas que estavam dispersas por outros galhos da rede, uniram-se à revoada. Algumas dessas foram recolhendo novos aliados de lutas antigas e muitas vezes solitárias.
E, agora, todas tinham em comum a mesma perspectiva. Além disso, começaram a chegar informações de cancelamentos espontâneos das assinaturas. Não demorou para descobrir que, como aquele jornal é apenas um dos tentáculos da hydra, mais do que nunca a união da espécie determinaria o destino de ambos: das andorinhas e da hydra. Era preciso unificar toda essa energia. A demanda reprimida, afinal, começava a encontrar um canal de escoamento. Foi assim que as iniciativas dispersas, das mais diferentes origens, foram se reunindo, formando aquela revoada bonita nos céus de Porto Alegre, já magistralmente cantada em prosa e verso por Mário Quintana.
Um grupo de andorinhas, as andorinhas acadêmicas, dirigiu-se à magnífica reitora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul buscando entender que interesses moviam o instituto de pesquisa do Curso de Administração daquela instituição. De outra banda, andorinhas estudantes, profissionais liberais, donas de casa, professoras, profissionais da comunicação, empresárias, agricultoras, servidoras públicas, enfim, de várias categorias da sociedade programaram encontro para 3/11, ao abrigo das árvores do Parque Redenção, próximas ao Brique de mesmo nome, em Porto Alegre.
Novas adesões
Antes mesmo desse primeiro encontro, o Minos que conduz a hydra com controle remoto veio a público se desculpar, tentando trocar espelhinhos, digo, seu jornal, pela liberdade de voar de suas ex-assinantes. A desculpa era sofisticada, cheia de sofismas e cínica como são os cínicos. Buscava o desonroso, infantil e primário argumento de transferir para as pilhas "raiovac" de seu controle a responsabilidade pelos "excessos" cometidos após divulgação das pesquisas do falso instituto – porque empresa – Ibope. A crescente revoada de ex-assinantes motivou ainda mais. Viram que já estava doendo no bolso de Minos o resultado da credibilidade definitivamente enxovalhada.
O vôo seguinte foi a criação de uma homepage para canalizar o fluxo imenso de contribuições da comunidade gaúcha de andorinhas. Surgia o MIDI@ÉTICA, com seu site[6.900 acessos em menos de quatro dias]. Para surpresa geral, com poucos dias no ar, mensagens de fora do habitat gaúcho, e até mesmo de fora do país, vinham turbinar a iniciativa. Refletiam, na verdade, a agonia de quem se vê de asas cortadas, engaiolada, mas que nem por isso deixa de acompanhar as barbáries perpetradas pelos tentáculos que mexem com meios de comunicação.
Voar, até um besouro, contra todas as leis da aerodinâmica, voa. Por isso, o sonho de toda andorinha é voar livre, curtindo um final de tarde. Foi aí que a iniciativa virou notícia. E a expressiva quantidade de acessos à página impressionou a ponto de merecer atenção e comentários da Agência Carta Maior.
A segunda revoada (5/11/2002) aconteceu, como gostam as andorinhas, nos altos do Mercado Público. Já eram 67. Na seqüência, uma revoada na Feira do Livro, pois não há lugar mais adequado para quem gosta de voar do que os jacarandás floridos da Praça da Alfândega. Foi nesta oportunidade que o canto das andorinhas se fez ouvir até pelo rei Minos, e demais membros da hydra ali presentes. A marca Midi@ética (camisetas, adesivos, manifesto) também está sendo um sucesso na 48ª Feira do Livro de Porto Alegre. Era o mercado reprimido encontrando a demanda sufocada...
E a revoada continua crescendo e ganhando cada vez mais adesões. Agora, a andorinha indignada lá da primeira linha já não voa só. Fez-se verão no Sul do Brasil!
Lembrando-se do Barão nas árvores, do escritor italiano Ítalo Calvino, sentou num galho, pegou uma de suas penas e redigiu um manifesto conclamando, via espaço sideral, outras ainda ilustres desconhecidas para cancelarem as assinaturas de um jornal que as vinha maltratando verão após verão.
A bem da verdade, o absurdo do que era publicado lhe fazia tanto mal quanto o frio minuano, pois, todos sabem, andorinha gosta mesmo é do verão. A informação vinha destemperada, provocando os mesmos estragos que o efeito El Niño. E, nós sabemos, quando a verdade morre, o primeiro a chegar é o urubu.
Vejam só, pensava a andorinha, enquanto o Brasil se cobre com o manto de uma via-láctea, as andorinhas gaúchas sofrem nas asas o efeito maligno do buraco da camada de ozônio que, estacionado sobre o céu pampeano, mostra todo seu poder de fogo através de pesquisas. Pesquisas estas urdidas, canta-se, com o único propósito de nos abater. Pesadelo igual só mesmo o de Ícaro, ao ver a cera de suas asas derretendo.
Mas, para a andorinha, o sonho não acabou!
Movimento vai às ruas
Em pleno vôo, aquela ave solitária mandou, via internet, seu manifesto. Em menos de 24 horas obteve retorno que jamais fizera parte de seus sonhos. Outras, da mesma espécie mas que estavam dispersas por outros galhos da rede, uniram-se à revoada. Algumas dessas foram recolhendo novos aliados de lutas antigas e muitas vezes solitárias.
E, agora, todas tinham em comum a mesma perspectiva. Além disso, começaram a chegar informações de cancelamentos espontâneos das assinaturas. Não demorou para descobrir que, como aquele jornal é apenas um dos tentáculos da hydra, mais do que nunca a união da espécie determinaria o destino de ambos: das andorinhas e da hydra. Era preciso unificar toda essa energia. A demanda reprimida, afinal, começava a encontrar um canal de escoamento. Foi assim que as iniciativas dispersas, das mais diferentes origens, foram se reunindo, formando aquela revoada bonita nos céus de Porto Alegre, já magistralmente cantada em prosa e verso por Mário Quintana.
Um grupo de andorinhas, as andorinhas acadêmicas, dirigiu-se à magnífica reitora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul buscando entender que interesses moviam o instituto de pesquisa do Curso de Administração daquela instituição. De outra banda, andorinhas estudantes, profissionais liberais, donas de casa, professoras, profissionais da comunicação, empresárias, agricultoras, servidoras públicas, enfim, de várias categorias da sociedade programaram encontro para 3/11, ao abrigo das árvores do Parque Redenção, próximas ao Brique de mesmo nome, em Porto Alegre.
Novas adesões
Antes mesmo desse primeiro encontro, o Minos que conduz a hydra com controle remoto veio a público se desculpar, tentando trocar espelhinhos, digo, seu jornal, pela liberdade de voar de suas ex-assinantes. A desculpa era sofisticada, cheia de sofismas e cínica como são os cínicos. Buscava o desonroso, infantil e primário argumento de transferir para as pilhas "raiovac" de seu controle a responsabilidade pelos "excessos" cometidos após divulgação das pesquisas do falso instituto – porque empresa – Ibope. A crescente revoada de ex-assinantes motivou ainda mais. Viram que já estava doendo no bolso de Minos o resultado da credibilidade definitivamente enxovalhada.
O vôo seguinte foi a criação de uma homepage para canalizar o fluxo imenso de contribuições da comunidade gaúcha de andorinhas. Surgia o MIDI@ÉTICA, com seu site
Voar, até um besouro, contra todas as leis da aerodinâmica, voa. Por isso, o sonho de toda andorinha é voar livre, curtindo um final de tarde. Foi aí que a iniciativa virou notícia. E a expressiva quantidade de acessos à página impressionou a ponto de merecer atenção e comentários da Agência Carta Maior.
A segunda revoada (5/11/2002) aconteceu, como gostam as andorinhas, nos altos do Mercado Público. Já eram 67. Na seqüência, uma revoada na Feira do Livro, pois não há lugar mais adequado para quem gosta de voar do que os jacarandás floridos da Praça da Alfândega. Foi nesta oportunidade que o canto das andorinhas se fez ouvir até pelo rei Minos, e demais membros da hydra ali presentes. A marca Midi@ética (camisetas, adesivos, manifesto) também está sendo um sucesso na 48ª Feira do Livro de Porto Alegre. Era o mercado reprimido encontrando a demanda sufocada...
E a revoada continua crescendo e ganhando cada vez mais adesões. Agora, a andorinha indignada lá da primeira linha já não voa só. Fez-se verão no Sul do Brasil!
Midi@ética (13/11/2002)
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