20.10.08

SERRA,YEDA,PSDB E PRBS, a turma

A mídia corporativa é um museu de tragédias. “O Drama com final trágico” é a manchete da edição de 18.10.2008 de Zerolândia, do PRBS (Partido Rede Brasil Sul de Comunicação). “Segurança Pública - A receita paulista contra a Violência” é a matéria das páginas de Polícia de Zerolândia, em 20 de janeiro de 2008, assinada por Etchim com fotos de Fotonaldo. Uma matéria enaltecendo a política de segurança pública do José Serra, do PSDB. Poderíamos produzir uma grande seqüência sobre o tema violência e a receita paulista, mas preferimos: ENTENDA MELHOR CLICANDO AQUI.

AQUI, A PORRADA TAMBÉM CORRE SOLTA
As fotos de são de Eduardo Seidl. Os movimentos sociais, no Rio Grande do Sul, são tratados como nos tempos da ditadura. Este é o final da Marcha dos Sem, da última quinta-feira.

ROSTOS DAS VÍTIMAS DA POLÍCIA
O fotógrafo parisiense, que se indentifica como JR, mudou a paisagem no morro da Providência, no Rio de Janeiro, estampando o rosto de vítimas da violência policial em painéis gigantescos nas fachadas das casas.

O sociólogo Francisco de Oliveira concedeu uma entrevista ao jornal “Folha de São Paulo”, publicada em página inteira na edição de 19.10.2008.
FOLHA - Apesar da sua provável derrota em São Paulo (acrescentamos, provável em Porto Alegre), o PT continua sendo o partido que mais cresceu no país. Em 2004 o sr. escreveu que isso mostrava o envelhecimento de um partido nascido para reformar o país. O sr. ainda mantém essa opinião: o PT foi engolhido pelo atraso ou o atraso que se modernizou?
OLIVEIRA - Eu acho que o PT, como força transformadora, foi engolido pelo atraso. Qual é a modernização que existe aí? É uma modernização de políticas sociais que são políticas de ajustamento, não são políticas sociais transformadoras - elas se ajustam à realidade. O Bolsa Família é uma política de ajustamento, uma política conformista. E isso reflete essa situação um tanto ambígua de uma classe que não é classe, desse enorme exército informal que representa mais de 50% da força de trabalho. Então, o PT foi engolido pelo atraso. A modernização das políticas sociais é uma regressão da classe para a pobreza, enquanto o movimento histórico vai da pobreza para a classe. A extensão das políticas sociais é uma regressão da classe para a pobreza; elas são políticas para os pobres.”

“Recodermos a etimologia, mais uma vez, que faz com que trabalho derive de tripalium, um instrumento de tortura, explicando com clareza o que seria preciso achar de toda a atividade laboriosa e assalariada, se estivéssemos submetidos, os punhos atados aos pés, as épistémés que, no dizer de Foucault, resultam do ódio do corpo e jubilam co todas as atividades que permitem a castração, a contenção, a rentenção, a suspeição no lugar, da carne, dos desejos e dos prazeres. A religião do trabalho fez do desempregado um mártir. O fervor que ela existe e os sacrifícios que espera transformam os solicitantes de um emprego em pecadores e em penitentes que podem obter o perdão e a salvação à medida que merecem e receberem uma redenção à custas das impassibilidade e da submissão às necessidades das leis, se não da fatalidade, pelo menos de um mercado que faz reinar seu terror por meio da penúria organizada do trabalho no lugar da partilha. Considera-se ainda que um outro modo de repartição diminuiria as penas coletivas dos que sofrem de um excesso de trabalho e dos que penam por não tê-lo.” (Página 79 do livro “A política do rebelde - tratado de resistência e insubmissão”, de Michel Onfray, editora Rocco).
Fonte: Blog Ponto de Vista

O PODER TEME O PODER DAS MÁSCARAS

Dispondo, desde o início, da informação de que a Brigada Militar iria baixar a porrada nos participantes da Marcha do Sem, o Fotonaldo (fotógrafo de Zerolândia) passou todo o tempo em cima do caminhão de som utilizado pelas lideranças. Assim, o carinha não só conseguiu “boas fotos” como também não correu nenhum risco de sair ferido com algumas das bombas lançadas pela polícia. Ou de tomar uma porrada na correria. É “estranho”(?) que as fotos mostrem a ação da Brigada, mas de nenhum manifestante levando porrada ou ferido. Fotos que possibilitem indentificar participantes da marcha deve ter um monte. “Nenhuma”(?) identificando políciais espancando ou lançando bombas. Nada é por obra do Divino Espírito Santo nesse showrnalismo, criminoso. O Fotonaldo não tem diploma. Começou como contínuo da redação. Não deve ter lido um único livro na vida. Mas é inaltecido nos cursinhos de “comunicologia” e já ganhou alguns prêmios ARI-Gó, da Associação Riograndense de Imprensa. Tem platéia garantida no Sindicato dos Jornalistas do RS.É estranho, também, o fato de que o cara passa todo o tempo grudado no telefone celular. Não há nenhuma razão (showrnalística) para estar em contato permanente com o seu editor ou com qualquer pessoa da redação. Nem tão pouco, num clima de tensão, estar de papo com a namorada. O Fotonaldo é um agente disfarçado de fotógrafo. Ele é tri ”malandro.”
Jornalistas não vinculados à mídia corporativa, cuja atividade foi realizada no chão, foram tratados com truculência. Enquanto a porrada comia solta, diaristas, pagos pelo PT, sacodiam suas bandeirolas no Largo Glênio Peres e na esquina democrática, no centro de Porto Alegre. É triste.
Ainda sobre o conflito. Segundo o coronel Mendes, comandante da Brigada, a “manifestação não foi ordeira nem pacífica. Os envolvidos simplesmente partiram para cima da Brigada, que não teve outra saída senão reagir (…) o motorista do caminhão de som possou por cima dos PMs (…)Também quebraram um escudo da Brigada e usaram pedras, paus e banderias pontiagudos e cobriram o rosto.”
O poder teme o poder das máscaras. Esta é uma idéia zapatista. Os movimentos sociais precisam perder toda a ilusão de que vivemos em plena democracia. Os manifestantes precisam retomar algumas das práticas dos tempos da ditadura. Não é por acaso que as polícias mais violentas do país, em todos os sentidos, são de Estados governados pelo PSDB. Serra e Yeda são a vanguarda da repressão. Aqui, amplamente, apoiados pelo PRBS.Na junção das duas imagens - governadora na pág.12 de Zerolândia - temos a idéia do bê-á-bá básico do governo Yeda, porrada.
Entenda que não há transformação, revolução, luta, caminho, saída. Você é que comanda a sua própria vida. Sua liberdade é inviolável e se complementa com a liberdade dos outros. Lute por uma política de sonhos. Espalhe muitos panfletos em lugares - públicos e privados - onde em algum momento você teve uma revelação ou viveu uma experiência sexual. Fique nu para simbolizar algo. Participe, intensamente, da preparação de uma greve protestando por eles não estarem satisfazendo sua necessidade de indolência, de ócio.
Não reivindique porra nenhuma. Só vandalize.

Só pra não perder a oportunidade: o Causowagner não dispõem de informações privilegiadas do MST.
Fonte: Blog Ponto de Vista

19.10.08

Carta a um radialista do PIG

Abaixo, publicamos a carta que o Secretário Geral do CPERS encaminhou ao programa de rádio "Sala de Redação". Espanta-nos que um sindicalista confesse que dá audiência a um programa transmitido pela empresa de mídia que foi a grande articuladora da chegada de Yeda Crusius ao poder no RS.
Esse é mais um dos "programas", onde se faz a legitimação de todo esse estado de coisas que ora presenciamos e que o Secretário descreve em sua carta.
Os participantes, nitidamente conservadores, completamente despreparados para fazer uma análise conjuntural do que quer que seja, palpiteiros, "emitem opinitões" sem o menor fundamento e conhecimento de causa.
Uma afirmação canalha como a de que o movimento sindical quer produzir um cadáver para jogá-lo nas portas do Piratini só poderia sair da cabeça de gente descerebrada e mau caráter. Uma trabalhadora, mãe de família, miliante política, iria para uma manifestação com a intenção de se imolar numa batalha campal com uma polícia fascista?
Será que o Secretário percebe o quanto é degenerada a pessoa que levantou essa hipótese? Será que o Secretário percebe o quanto esse tipo de afirmação cala fundo na visão que uma população desinformada, como a nossa, tem da realidade?
Isso, caro Secretário, chama-se formação de subjetividade, onde, num jogo de palavras, as vítimas são transformadas em algozes e os algozes transformados em vítimas. E o mais chocante é que, depois de ouvir essas aberrações, o Secretário ainda afirma que gosta do programa!
Enquanto houver sindicatos e sindicalistas assinando ZMentira, dando audiência para rádio e TV da mídia corporativa e sendo incapazes de identificá-la como o inimigo de classe mais insidioso de todos, assistiremos a toda ordem de tropelias contra o estado de direito.
A mídia corporativa é uma mera extensão do poder que está instalado no Piratini. E não seria nenhum exagero dizer, que, na verdade, o tipo de poder que se instalou no RS é uma extensão do poder e dos interesses da mídia.
Melhor faria o Secretário, se conclamasse os seus pares a um boicote à mídia corporativa, atingindo-a naquilo que é o seu ponto mais vulnerável: o interesse econômico. Uma campanha, por exemplo, de cancelamentos de assinatura de ZH, porque temos certeza que muitos sindicalizados assinam esse pasquim, produziria um resultado muito mais eficaz e imediato que mil cartas como essa enviadas ao tal sala de redação.

Assunto: Aos cuidados do "Sala de Redação"
Data: Sábado, 18 de Outubro de 2008, 20:16
Senhores radialistas do “Sala de Redação” da Rádio Gaúcha
Ouvi, de um dos senhores no programa da última 6ª feira, o comentário de que os movimentos populares e sindicais queriam uma vítima entre os participantes da Marcha dos Sem de 16 de outubro, para usá-la como trunfo contra o governo. Esta afirmação fantasiosa, ofende o movimento dos trabalhadores. Não agimos assim. Somos lutadores e não oportunistas. Não queremos e não precisamos de feridos e muitos menos de mortos para divulgar as nossas idéias.
Mas vamos denunciar sempre as agressões contra os trabalhadores.
Passo, aos senhores, duas fotos feitas no dia 16 de outubro, que mostram a nossa colega Marli Helena Kümpel da Silva, Diretora do Núcleo de Erechim do CPERS, ferida pela explosão de uma “bomba de efeito moral”, como são chamadas eufemisticamente e com impropriedade estes artefatos, tanto pela Brigada Militar como pela imprensa. O impacto em Marli foi direto, deixando-a com uma fratura exposta na perna. Nossa colega, ainda agora, encontra-se em recuperação no Hospital Ernesto Dornelles.
Marli é uma dirigente do CPERS e participa do nosso Conselho Geral. Não queremos nossos dirigentes fora de combate ou imolados em sacrifício. Queremos todos vivos e saudáveis, dirigindo a luta dos educadores.
A Brigada Militar jogou de forma covarde, três bombas sobre a passeata, o suficiente para ferir 17 pessoas, a maioria na cabeça, com cortes feitos pelos estilhaços e queimaduras pela pólvora, o que por si só atesta o alto poder explosivo dos artefatos.
Quem está querendo fazer vítimas? Será que não está claro?
Foi afirmado, no “Sala de Redação”, que poderíamos ter feito uma concessão, e falado de onde foi detido o carro de som, abrindo mão de chegar ao Palácio Piratini. Mas, porque teríamos que fazer esta concessão? Vejam nossas razões:
A “Marcha dos Sem” é uma tradicional manifestação unitária dos movimentos sindicais e populares do Rio Grande do Sul, que se repete todos os anos, desde 1995, terminando sempre em frente ao Palácio Piratini, quando então é entregue uma carta reivindicatória dos participantes ao Governador do Estado. Será que não dá para compreender e aceitar o significado simbólico desta manifestação?
Em 13 anos, nunca aconteceu nenhum incidente. Desta vez, a Marcha do Sem foi reprimida com selvageria pela Brigada Militar, a poucos metros da Catedral Metropolitana, do Palácio Piratini e da Assembléia Legislativa, quando chegaria então ao seu final. O que temiam o Governo Estadual e a Brigada Militar? Era a paranóia de sempre com o MST? Saibam que a maior parte dos 17 feridos na Praça da Matriz, eram educadores, filiados ao CPERS.
Depois da manifestação, com a Praça da Matriz esvaziada, um policial militar recolhia dos canteiros alguns pequenos galhos apodrecidos de jacarandá, daqueles que se quebram com facilidade, ali caídos, e algumas pedras portuguesas soltas na calçada. Depois mostraram para a televisão aquelas “armas” dizendo que haviam sido usadas contra a Brigada Militar. Uma farsa. Os achados foram feitos exatamente no local onde estavam os manifestantes, e não no trecho da Rua Duque de Caxias, onde haviam estado antes os policiais militares, e onde deveriam estar as pedras caso tivessem sido arremessadas contra os soldados.
Quero ainda lembrar que, em 16 de setembro, o BOE e a cavalaria da Brigada Militar investiram contra uma manifestação do CPERS, que buscava uma audiência com a governadora, agredindo com violência a categoria e a Diretoria do Sindicato.
Será o destino do Rio Grande do Sul ser transformado em um estado policial militar, onde a questão social é tratada como questão de polícia, como era na República Velha e na ditadura, onde sindicalista era tido como “baderneiro”?
Atentem na repressão que está sendo desencadeada contra os movimentos sindicais e populares. Ela já está fora de controle e representa uma ameaça às liberdades democráticas.
Gosto muito do “Sala de Redação”, até mesmo quando o programa transcende o futebol e os senhores falam da realidade em que vivemos, mas faço um apelo para que não ignorem os argumentos daqueles que lutam pelos seus direitos.
Em 18/10/2008
CLOVIS CARNEIRO DE OLIVEIRA
Secretário Geral do CPERS-Sindicato

18.10.08

Corretora de Armínio Fraga compra 12,6% do grupo RBS


Fraga é o que Marx chamava de “economista vulgar”

John Kenneth Galbraith (1908-2006), um respeitado economista liberal-burguês, diga-se de passagem, também tinha uma opinião sobre os “economistas vulgares” (Marx) de mercado, talvez mais apurada e atualizada que a do velho Karl.

O grande escritor e economista keynesiano dizia que essa gente não pode ser levada a sério. Apresentam-se como especialistas na mídia, estão em todo o lugar e hora dando pitaco sobre macroeconomia, tendências, política de gastos públicos, etc. Minutos depois apanham um telefone e vão operar com altas e arriscadas jogatinas financeiras, com dinheiro... dos outros. Invariavelmente, estão combinados com jornalistas bem posicionados na grande mídia, que são seus porta-vozes nas orientações mais convenientes – não para a sociedade – mas para seus próprios interesses especulativos e de fração de classe.

Galbraith certamente não conheceu o senhor Armínio Fraga Neto, mas traçou um figurino que cabe à perfeição no perfil do ex-presidente do Banco Central (1999-2003), na gestão do professor Cardoso, justamente quando o Brasil quebrou. Fraga, antes disso, foi diretor-gerente do fundo de George Soros, o maior especulador do planeta. Hoje, ele tem a corretora que acaba de comprar parte da RBS, e é membro do Conselho de Administração do Unibanco.

A RBS, hoje em ZH, se apressa em dizer que não haverá nenhuma modificação editorial na linha jornalística da empresa. Uma pessoa ligada a Armínio Fraga Neto fará parte do Conselho de Administração da RBS.

A notícia não informa o montante de recursos injetados pela corretora na empresa midiática, limitando-se a dizer que significa o equivalente a 12,6428% do capital da RBS Comunicações S/A.

Fonte: Diário Gauche

17.10.08

Semana da Democratização da Comunicação


19 de Outubro “Dia Nacional Contra a Baixaria na TV”
Campanha promove 5º edição do dia contra a Baixaria na TV

Por Ana Lúcia Bonfim

No próximo dia 19 de outubro (domingo), a Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) e a Comissão de Legislação Participativa (CLP) da Câmara dos Deputados, juntamente com mais de 60 entidades parceiras da campanha “Quem Financia a Baixaria é Contra a Cidadania”, promove a 5º Edição do “Dia Nacional Contra a Baixaria na TV” com o tema Publicidade Infantil. Haverá uma programação especial para este dia, com o objetivo de conscientizar a população a participar do esforço por uma televisão mais comprometida com a ética, a qualidade e a diversidade, uma TV que respeita o direito humano à comunicação.
As emissoras públicas (TV Brasil, TV Câmara, TVs Universitárias, TVs legislativas e comunitárias), irão levar ao ar, ao vivo, o programa Ver TV Especial. Participarão do debate Isabella Henriques coordenadora do Projeto Criança e Consumo do Instituto Alana, Orlando Fantazzini, um dos idealizadores da campanha e André Porto Alegre, publicitário e membro da Associação dos Profissionais de Propaganda. O programa contará também com a participação da população ao vivo no Parque da Cidade, no link montado pela TV Brasil. O Programa será transmitido das 13h30 às 15h00 na TV Câmara e na TV Brasil.
A campanha “Quem financia a baixaria é contra a cidadania” alerta a sociedade a ficar atenta com relação à publicidade dirigida à criança, uma vez que esta pode trazer malefícios à saúde e a educação de crianças e adolescentes.
A Semana Nacional pela Democratização da Comunicação que ocorre entre 13 a 18 de outubro será marcada por diversas atividades espalhadas pelo país. A campanha “Quem Financia a Baixaria é Contra a Cidadania” se soma a estas iniciativas e irá transmitir o programa VER TV ao vivo.
Assista ao VER TV especial e colabore para a construção de uma televisão mais consciente, que respeita e contribui de forma positiva para a formação de nossos jovens. Durante o programa, o telespectador poderá participar enviando perguntas para o endereço eletrônico vertv@tvbrasil.org.br e também ligar gratuitamente para o telefone 0800.619.619. Para mais informações acesse www.eticanatv.org.br.
Fonte: Ética na TV

16.10.08

RBS é a central de justificação ideológica do governo Yeda



ZH faz pregão imobiliário disfarçado

O mito da neutralidade garante o sucesso político da mídia oligárquica. A sentença vale para a ação combinada entre o jornal ZH e o governo Yeda Crusius.

Abrir mão da neutralidade fabricada seria o começo da ruína da mídia comprometida com governos impopulares e que realizam políticas anti-populares.

Haja vista a matéria que domina a página 36 de hoje em Zero Hora (acima). A política emergencial para os menores infratores da Fase se resume a medidas paliativas que não irão sequer mitigar o problema da infância/adolescência pobre e excluída, mas visam espetacularizar “soluções” e mercadejar patrimônio público para beneficiar investidores do capital imobiliário urbano.

A manchete “Crises aceleram reestruturação da Fase” além de justificar ideologicamente o projeto yedista, pretende dizer aos incorporadores e investidores do solo urbano de Porto Alegre que uma área de 72 hectares estará chegando em breve ao mercado imobiliário da Capital. Quem vai querer?

É um verdadeiro pregão imobiliário disfarçado em roupagens jornalísticas.

Se os veículos da RBS não fossem “neutros” (com muitas aspas), como poderiam sustentar e justificar diariamente a irresponsabilidade de um governo (seu aliado) que desmonta o Estado e o vende em pequenas partes para não dar na vista?

Como?

Fonte: Diário Gauche

8.10.08

Parte 1: A arte de desconstruir um governo e de construir uma ilusão

Abaixo, a série produzida pelo jornalista Ayrton Centeno sobre as capas de Zero Hora, do Grupo RBS, em 2008. Apesar de não se tratar de um projeto de pesquisa propriamente dito, vale pela denúncia do tipo de jornalismo que esta empresa de comunicação promove, um atentado à integridade do povo do RS.
Cancele a sua assinatura! Leia o conteúdo da bendita na Internet, já que você chegou até aqui e não consegue se livrar desse tipo de leitura.

A arte de desconstruir um governo e de construir uma ilusão
Ayrton Centeno para RSurgente
5 de abril de 2008

Expostas nas bancas e nas sinaleiras, apregoadas pela publicidade em cartazes, rádio e TV, percebidas mesmo pelos mais desatentos, as manchetes de capa são o hall, o espaço mais visitado dos jornais. Mesmo quando apenas vislumbrado, captado num relance, pode-se dizer que seu enunciado se aloja, de algum modo, na mente de leitores e de não-leitores. Por conta desta alta visibilidade, sem a pretensão de ciência que não posso ter, resolvi anotar e catalogar as manchetes de Zero Hora do último trimestre.

Sabe-se que, no jornal, a criação de manchetes de capa observa, num processo de defesa e ataque, alguns padrões de conteúdo. A barragem de fogo político e ideológico destina-se, quase sempre, ao Governo Lula. Sob o ataque das letras graúdas também costumam estar a base parlamentar do governo federal, os movimentos sociais, as propostas de superação da desigualdade, o Estado brasileiro, o próprio Brasil como um país fragilizado, indigno de confiança, os aliados do Governo Lula na América Latina, notadamente Hugo Chávez, Evo Morales, Fidel Castro, Rafael Correa. Aqui, tenta-se desconstruir o Brasil, Lula, seu governo, seus aliados, suas relações internacionais e seus projetos.

O afago benevolente vai para o Governo Yeda Crusius, o agronegócio, as papeleiras, o mercado e o Rio Grande. Aqui, ao inverso, a idéia é de construir o Grande Rio Grande mítico e empreendedor, cavalgando as propostas com o timbre do Piratini ou os planos de indústrias de se instalarem no Estado, muitas vezes montado apenas em intenções. Aqui, constrói-se uma quimera.

Alguém poderá dizer que não seria necessário dar-se a este trabalho já que a realidade nos informa disto suficientemente. Não deixará de ter certa razão. Mas custa apenas alguns minutos diários e uma dose de omeprazol para proteger as paredes do estômago. Além do mais, é bom escarafunchar estes escaninhos, saciar a curiosidade e perceber como se traduz em números e percentuais esta engrenagem de demolição e edificação de pessoas, partidos e poderes.

Provavelmente embalado pelo ócio de final de ano, comecei a registrar as capas sirostskianas no apagar das luzes de 2007, separando as manchetes em categorias. De pronto, descartei as vinculadas às investidas institucionais da RBS. No período, muitas capas de ZH foram dedicadas a si própria, ou seja, à agenda que implementou com sua campanha de trânsito. Neste movimento, os acidentes, as medidas das autoridades, as cifras de feridos e mortos são apropriados pela campanha e noticiados sob o logo e o slogan correspondentes. Coloquei de lado também àquelas que chamei de neutras. Somadas, as manchetes institucionais, auto-referenciadas, e as neutras são maioria absoluta no trimestre. São neutras - pelo menos dentro do proposto embora, de fato, nunca sejam neutras - geralmente as manchetes relacionadas às festas (Carnaval, Navegantes, Natal, Ano Novo), tragédias, meteorologia, ciência, polícia, esporte, etc.

Feita esta depuração e ajustando o foco apenas nas manchetes políticas, ou seja, aquelas que usam um determinado viés para gritar algo associado às disputas de poder na sociedade e que flagram como o veículo se posiciona diante destas mesmas disputas não obstante invoque o véu da imparcialidade, constata-se que 30,2% delas exploraram fatos negativos para o Governo Lula/PT/Aliados/Brasil, ao passo que somente 7,5% trataram de fatos positivos.

E, de inhapa, 7,5% das manchetes ainda abordaram negativamente fatos relacionados aos aliados latino-americanos do Governo Lula. Esta é a mão que apedreja. Em contrapartida, a mão que afaga acariciou o Governo Yeda/Aliados/Rio Grande com 40% das manchetes positivas e somente 12,5% das negativas.

Como as principais forças que comandam os dois governos são antagônicas, pode-se dizer que ZH prestou um serviço ao governo estadual e aos seus aliados, seja ao enfocar seus temas favoravelmente, seja ao enfocar desfavoravelmente seus adversários, ao publicar praticamente 80% de suas manchetes políticas. Desfavoreceu o Governo Yeda e seus aliados em 20% de suas manchetes.

O mais extravagante de tudo é que, excluídas as manchetes referentes às atribulações do pessoal do aprisco da governadora na CPI do Detran, ZH não produziu uma só manchete claramente questionadora de alguma política do Governo Yeda ao longo de três meses. Zero de crítica. De modo que, na avaliação do jornal, a administração Yeda ronda a perfeição, pouco importando que no mundo real arraste-se com um desempenho constrangedor. De outra parte, o Governo Lula padece nas manchetes de ZH embora no mundo real obtenha a aprovação da grande maioria da população e a imagem do presidente seja ótima de acordo com todas as pesquisas de opinião.

Este desligamento da realidade exterior a que Zero Hora se entrega – de resto, ao lado do PIG – desnuda um desejo de viver na fantasia autoproduzida. Um desejo legítimo, embora bizarro, se suas consequências se restringissem à pessoa física do dono do diário. O que parece anti-jornalístico e anti-democrático é usar um jornal - que pratica o marketing da pluralidade e da “vida por todos os lados” - para favorecer a visão de um lado só. Para, no limite, apresentar aos outros ficção como se fossem fatos. E fatos como se fossem ficção.

Parte 2: De como aprender a amar Yeda

Ayrton Centeno para RSurgente
7 de julho de 2008
Embora às voltas com Laíres e Culaus e ouvindo seu vice pedir a abertura de uma nova CPI para investigar o Banrisul, Yeda teve mais manchetes positivas em Zero Hora que o governo Lula.

O que diriam Zero Hora e seus pares se o vice-presidente José Alencar gravasse uma proposta indecente da ministra Dilma Roussef, acompanhada do detalhamento de como funciona a pilhagem no coração do governo, citando partidos beneficiados e estatais extorquidas? E se Alencar não apenas gravasse o tête-à-tête com a chefia da Casa Civil como o levasse a uma CPI? E o diálogo escabroso, quase imediatamente, se tornasse público? O Armagedom seria uma figura pálida para descrever os dias, meses e anos que se seguiriam.

Pois na província do Rio Grande de São Pedro foi isto o que aconteceu. Ocorre que, nesta terra, os jornais são os mesmos, mas o governo é outro. E isto faz toda a diferença. No ano da graça de 2008, as trombetas do Apocalipse soaram para o governo Yeda Crusius. Porém, nas páginas de ZH, não reverberaram tanto quanto poderia se esperar de um jornal que promete “a vida por todos os lados”. É o que aponta a última “pesquisa” - assim, entre aspas, para não se dar a idéia de uma pretensão de ciência que não se tem e nem se poderia ter – sobre as manchetes de capa do diário. Em abril, publicou-se o primeiro levantamento do gênero abrangendo uma avaliação do primeiro trimestre. Agora é a vez do semestre.

Apenas para recordar: a “pesquisa” descarta as manchetes ditas neutras – as que tratam de assuntos de cidade, ciência e tecnologia, festas, polícia, trânsito, esporte, tragédias, meteorologia, turismo, marketing próprio etc. Retém somente as manchetes políticas, que abordam ações ou omissões das várias instâncias do Executivo e de seus aliados. Estas são as que interessam. São elas que, mesmo lidas num relance, ajudam a construir e destruir, simbolicamente, personagens, propostas e políticas. Procura-se então classificá-las conforme facilitem ou atrapalhem a vida deste ou daquele governo, de suas políticas e de suas alianças. Como ZH não gasta sua beleza com Porto Alegre, a esfera municipal, com suas mazelas ou virtudes, quase nunca ganha a capa. O cotejo acontece então, basicamente, entre as administrações estadual e federal e as leituras que são oferecidas do Rio Grande do Sul sob Yeda e do Brasil sob Lula.

É assim que, nos seis primeiros meses do ano, ZH reservou 32,5% de suas manchetes de capa políticas para abordagens negativas relacionadas ao Governo Lula, suas políticas e suas alianças – no parlamento ou na sociedade - além do Brasil. E reservou somente 8,5% delas para enfoques positivos, percentual praticamente quatro vezes menor. O Governo Yeda, seus aliados, suas políticas e o Rio Grande receberam 31,3% de manchetes de capa favoráveis e 27,7% desfavoráveis. Um lucro de 3,6%. Nada mau se considerarmos que, em 2008, por obra da política – e não da física – o Rio Grande subverteu sua própria matéria, transitando do estado sólido ao gasoso. Nada mau para a gestora desta política que, aliás, já jogou ao mar boa parte do primeiro escalão no esforço de salvar a pele. Como os dois partidos que encabeçam uma e outra gestão polarizam a disputa eleitoral no país, é possível dizer que quase dois terços (63,8%) das manchetes de capa políticas no semestre favoreceram Yeda/aliados/políticas/Estado e desfavoreceram Lula/aliados/políticas/país.

Nada de novo sob o Sol. Este é o modus operandi da mídia, através dos processos de ocultação ou exposição. As palavras e o papel nem sempre cultivam uma relação amistosa com os fatos e a vida. Veja-se o caso de maio. Naquele mês, goste-se ou não, ocorreram algumas conquistas importantes para o Governo Lula e o Brasil além de qualquer subjetivismo: o avanço do emprego com carteira assinada escalou novo recorde; o volume de negócios na Bolsa de Valores de São Paulo atingiu patamares inéditos; a Petrobrás ultrapassou a Microsoft, tornando-se a terceira maior empresa das Américas; as vendas deram um salto no Dia das Mães, deixando os lojistas com a boca nas orelhas; a ministra Dilma sovou a oposição e sepultou a CPI dos Cartões; e a popularidade de Lula, segundo todos os institutos de pesquisa, bateu nos cornos da Lua.

Nada disso foi manchete de capa. Apenas a conquista (01/05) do investment grade. Em suma, o mundo real reservou boas notícias para o governo federal e o país. No entanto, vista através das lentes de ZH, esta mesma realidade transmutou-se no seu exato inverso. ZH obsequiou o Governo Lula, suas alianças, suas políticas e a agenda do Brasil com 43,7% das manchetes de capa negativas. E somente 6,2% das positivas. Embora às voltas com Laíres e Culaus e ouvindo seu vice pedir a abertura de uma nova CPI para investigar o Banrisul, Yeda teve sorte melhor. Seu governo, seus aliados, suas políticas e o Rio Grande receberam 37,5% das manchetes negativas e 12,5% das positivas...

É verdade que Yeda não viajou em céu de brigadeiro nas últimas semanas. Para quem foi acarinhada com 40% das manchetes políticas favoráveis de ZH no primeiro trimestre (apenas 12,5% das contrárias), junho foi um mês complicado para a governadora até no jornal dos Sirotsky. Foram apenas 22,7% manchetes favoráveis contra 40,9% negativas. Também pudera: pode-se duvidar da RBS, mas não de seu senso de sobrevivência...

Mas junho até que começou bem para a governadora. As primeiras capas foram de pura desconversa. ZH deu-se ao direito até, no dia 4, de apresentar uma manchete tão glacial (“Avança plano de transferir presos e demolir o Central”) que nela se poderia embrulhar um linguado e mantê-lo em perfeito estado de conservação por, no mínimo, três meses. Manchete, aliás, que remetia a apenas uma página de texto. Na mesma edição, a redação produzira três páginas com a revelação dos diálogos gravados pela PF, que desmascarou uma enfiada de patranhas ditas na CPI do Detran. Não foi suficiente para galgar a condição de principal fato da capa. Mas o dia seguinte seria notável: 133 edições após a manchete inaugural sobre a esbórnia do Detran, pela primeira vez ZH pespegaria o nome da governadora no principal título da capa sobre o escândalo (“Escutas convencem CPI a convocar o secretário de Governo de Yeda”).

No dia 7, o cataclisma: “Diálogo gravado por Feijó abala o Piratini”. No day after das busatices e feijoladas, é impossível sair da pauta: “Sucessão de crises força Yeda a repensar governo”. No terceiro dia, uma baixada de bola: “Após atrito com aliados, Yeda prefere PSDB no comando da Casa Civil”. Aqui, ZH adota um tom de “recomeço”, e traduz o caos chamado Yeda por “atritos”. No quarto dia – bingo! -- a governadora está governando: “Yeda anuncia gabinete de transição e pente-fino em estatais sob suspeita” (10/06). Não se fala mais sequer em “atritos”. O enfoque é de que Yeda vive, está ativa e tomando providências, plasmado em um título que a assessoria de imprensa do Palácio Piratini teria dificuldades intransponíveis para tornar mais oficial. O gabinete de transição - redigido sem aspas! - é apresentado de modo acrítico, como se não fosse o refulgente factóide que corporifica. No quinto dia, Yeda some da manchete de capa, que se volta para o Tribunal de Contas. E no sexto dia, um velho e bom lombo para bater: “Câmara aprova a volta do imposto do cheque”.

Assim, em seis dias, mesmo tempo que Deus empregou para criar o mundo segundo a Bíblia, ZH recriou uma governadora e um governo. Como um espelho mágico que distorce e doura a percepção das coisas, opera para proteger ambos – e a seus leitores, aqueles que são “donos de um jornal” - desta entidade horrenda chamada Realidade dos Fatos. Yeda volta então ao seu reino encantado, situado em uma galáxia perdida no cosmos, onde sempre conviveu harmoniosamente com elfos, duendes, ninfas, miragens, espectros e, pelo que se descobriu, ogros.

Parte 3: Mais do mesmo

Ayrton Centeno para RSurgente
7 de outubro de 2008
Sem novidades no front. Aquele levantamento sobre a índole das manchetes de capa de Zero Hora que o locutor que vos fala realiza diariamente (com o patrocínio de Engov sem o qual esta empreitada não seria possível) e publica aqui a cada trimestre, aponta um resultado mais vetusto do que as polainas do Brossard. A exemplo dos dois trimestres anteriores, no terceiro de 2008 constata-se que as novidades são antigas na primeira página de ZH. Resumindo: na barca da fantasia do clã Sirotsky, Lula e os seus continuam bufando e movendo os remos no porão enquanto acima, no tombadilho, a governadora repousa rodeada pela vassalagem e sob o afago da brisa marinha. E la nave va.

Por isto mesmo, sentindo a necessidade de criar um fato novo para não frustrar completamente os leitores, aproveitamos o ensejo para anunciar a fundação do Instituto Brancaleone de Pesquisas. Com os uivos deste factóide ainda ressoando nos tímpanos, temos o orgulho de acrescentar que o IBP é pobre porém honrado. Conta com apenas um pesquisador e um toco de lápis. Sob a inspiração de seu patrono e guia espiritual, o cavaleiro Brancaleone da Nórcia, o objetivo primordial do instituto é dar murros em ponta de faca.

Assim sendo, o IBP informa que, no cômputo dos meses de julho, agosto e setembro, Lula continuou apanhando. No mundo real, o presidente bateu sucessivos recordes de popularidade. No universo paralelo em que vivem Zero Hora e seus confrades, a situação é outra. Lula, seu governo, seu partido, seus aliados e o Brasil padecem no pelourinho midiático. O ápice desta pancadaria aconteceu em setembro, onde o presidente e seus aliados foram alvejados com 50% das manchetes políticas negativas sirotskyanas. E acarinhados com apenas 7%. Yeda Crusius e sua grei, mais o Rio Grande Vencedor ficaram com 21% das negativas e o mesmo percentual das positivas. Zero a zero, enquanto Lula tomou uma goleada.

No trimestre, 32,4 % das manchetes de capa de ZH exploraram fatos negativos para o Governo Lula/PT/aliados/Brasil. E somente 13,5% divulgaram fatos positivos. No caso da governadora, de seus aliados e da agenda positiva do Rio Grande velho sem porteira, o tratamento foi outro: 24,3% das manchetes foram favoráveis e 29,7 % desfavoráveis.

Até agora, fechado o nono mês do ano, os percentuais de 2008 indicam que as manchetes de capa anti-Lula/aliados/Brasil foram 32%, enquanto as simpáticas resumiram-se a 10%. Ou seja, para cada positiva mais de três negativas... As manchetes anti-Yeda/aliados/RS foram 28%, ao passo que as positivas atingiram 31,3%.

Mas ZH não é tão levada tão a sério como se pensa. Veja-se, por exemplo, o comportamento dos marqueteiros. Apesar da avaliação camarada do diário, Yeda passou como uma chispa pelo horário eleitoral no primeiro turno da eleição em Porto Alegre. Aparição protocolar e apenas no espaço do candidato de seu partido, o PSDB. Ninguém disputou um milímetro da sua presença ou uma vírgula de seu discurso, embora um punhado de partidos, do onipresente PMDB – aboletado nas administrações de Porto Alegre, do Estado e do país – ao óbvio PTB, transitando pelo PDT, PP, DEM etc, desfrutem das delícias dos CCs em seu governo gasoso.

Na contramão das idiossincrasias de ZH, duas candidatas proclamaram aos quatro ventos sua afinidade com Lula e fizeram um cabo-de-guerra com o presidente no esforço para rebocá-lo até seus programas eleitorais. Desafortunadamente, ao que parece, apenas o Instituto Brancaleone de Pesquisas devota sua atenção ao jornal. Pelo visto, não tem mesmo mais o que fazer...