Porto Alegre,19 de agosto de 2005
A crise política desencadeada a partir das denúncias de corrupção nos Correios e o seu desdobramento no episódio que ficou conhecido como “mensalão”, escancara a conduta da mídia hegemônica como deformadora de opinião.
Esta mídia, histórica e intimamente ligada a auto-denominada elite brasileira e ao capital, e, portanto, completamente divorciada de um compromisso com o restante da sociedade, usa a informação como instrumento para atingir os escusos interesses da classe que representa.
Acompanhando exaustivamente o noticiário a respeito da crise política que ora vivenciamos, tanto da mídia impressa como da mídia eletrônica, salta aos olhos a existência de um denominador comum em toda a cobertura: a intenção de destruir o Partido dos Trabalhadores (PT) como força política. Todo o esforço é feito no sentido de circunscrever ao PT todas as denúncias. A corrupção nos é apresentada pela mídia, praticamente, como se fosse uma invenção do Governo Lula. Não há precedentes históricos. É como se a vida política nacional até 31 de dezembro de 2002 fosse conduzida pela madre do Convento das Virgens dos Pés Descalços.
Na presente crise, a mídia cotidianamente omite fatos, descontextualiza-os, superdimensiona denúncias que no momento seguinte vêm se mostrar sem fundamento e subdimensiona as que envolvem os partidos do campo com os quais ela tem compromisso. Aceitando-se, ao pé da letra, o que a mídia veicula, fica a certeza de que basta eliminar o PT do cenário político, que a corrupção será automaticamente varrida do país.
É importante deixar bem claro, que não se trata de fazer aqui a defesa daqueles que, dentro do PT, agiram na contra-mão dos princípios historicamente defendidos pelo Partido. Trata-se sim, de colocar as coisas nos seus devidos lugares e denunciar o quanto a mídia está sendo manipuladora, tendenciosa e irresponsável na cobertura desses acontecimentos.
Dois pesos, duas medidas
A mídia não cansa de apontar o financiamento privado das campanhas do PT, através do caixa 2, denunciando aquilo que ela considera uma relação espúria entre o interesse público e o privado. Mas só no PT. Vítima de uma amnésia conveniente, ela escamoteia o mesmo problema - Marcos Valério, "mensalões", caixa 2, compra da reeleição do FHC - quando isso atinge os partidos ou políticos com os quais ela tem relação direta.
Por exemplo: já é de domínio público, há cinco anos, que o caixa 2 da campanha presidencial do PSDB em 1998 foi de pelo menos R$ 10 milhões. Nessa época, o tesoureiro da campanha do FHC informou ao TSE a arrecadação de R$ 77 milhões nas campanhas de 1994 e 1998. Mas, na realidade a arrecadação foi em torno de R$ 94 milhões. Uma "irrisória" diferença de R$ 17 milhões. O tesoureiro da campanha era Luis Carlos Bresser Pereira, que agora pede o impedimento de Lula, alegando que “estamos ante a maior crise moral da história brasileira”. E a desfaçatez continua: “Nas democracias, embora o poder seja formalmente do povo, na prática, está com a sociedade civil, que dele se diferencia porque, no povo, cada cidadão tem um voto; na sociedade civil, o peso de cada cidadão depende de seu conhecimento, de seu dinheiro e de sua capacidade de comunicação e organização". O que seria a tal "capacidade de comunicação"? Seria o número de empresa de mídia que a elite controla? Este ato falho de Bresser deixa bem claro o que a chamada elite brasileira entende por democracia.
A mídia faz vistas grossas ao caixa 2 da campanha de 1998 ao governo do estado de Minas Gerais. Naquela ocasião, o senador e atual presidente do PSDB, Eduardo Azeredo, recebeu R$ 20 milhões, sendo que R$ 11,5 milhões pelo caixa 2, onde Marcos Valério injetou R$ 9 milhões. Igualmente, em 1998, a agência SMP&B, de Marcos Valério, deu R$ 50 mil para a campanha de FHC à reeleição, que também não foram contabilizados na prestação de contas enviada ao TSE pela tesouraria tucana.
Já os R$ 50 mil que o Deputado Federal João Paulo Cunha (PT/SP) recebeu do mesmo Marcos Valério a mídia não deixa passar batido. E isso poderá lhe custar o mandato. Nunca é demais lembrar, que Cunha, quando Presidente da Câmara dos Deputados, comandou uma barganha espúria e, a título de liberar a pauta da Casa no final de 2004, aniquilou o Conselho Federal de Jornalismo, desfecho bem ao gosto do coronelato midiático. Brutal ironia: Cunha destruiu o mecanismo que tinha justamente o objetivo de impedir as grosseiras manipulações que a mídia engendra e das quais ele hoje é uma das vítimas.
As empresas de mídia também são empresas
É comum a mídia se apresentar como uma espécie de ente que paira acima do bem e do mal. Ela não tem dono, não tem interesses, é “imparcial” e democrática. Essencialmente, a mídia não discute a si mesma. E tanto isso é um fato, que a Revista Veja, por exemplo, que tem sido uma das pautadoras das denúncias contra o Governo Lula e o PT, insiste na tese de que haveria uma relação promíscua entre estes e o setor privado. No entanto, "esquece" de informar aos seus leitores, de acordo com o jornalista Marco Aurélio Weissheimer, citando dados obtidos pelo gabinete do deputado federal Dr. Rosinha (PT-PR), a partir de informações do TSE., que a Editora Abril, a qual Veja pertence, "doou, nas eleições de 2002, R$ 80,7 mil a dois candidatos do PSDB e a um candidato do PPS. O deputado federal Alberto Goldman (PSDB-SP) recebeu doações de R$ 34,9 mil da editora naquele ano. O deputado federal licenciado Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), ex-ministro da Justiça do governo Fernando Henrique Cardoso, recebeu uma quantia mais modesta, R$ 15,8 mil. Ferreira é hoje secretário de governo do prefeito de São Paulo, José Serra (PSDB). Já o candidato Emerson Kapaz (PPS-SP), que já exerceu mandatos pelo PSDB antes de trocar de partido, recebeu R$ 30 mil".
Segundo Weissheimer, a partir destes dados, Dr. Rosinha tira algumas conclusões, especialmente no caso do financiamento da campanha de Alberto Goldman. "Além de ter relatado a Lei Geral de Telecomunicações durante o governo FHC, Goldman também presidiu a comissão que tratou da flexibilização do monopólio do petróleo. O principal beneficiado pelas doações da Editora Abril foi ainda ministro dos Transportes, quando deu início ao processo de privatização das rodovias e portos brasileiros. (...) E vai mais além. Uma das maiores editoras do Brasil, a Abril possuía um endividamento líquido, em 2002, de R$ 699,5 milhões. Em julho de 2004, fundos de investimento em empresas de capital privado da Capital International Inc. associaram-se ao grupo Abril, beneficiando-se da Lei Geral de Telecomunicações, relatada por Goldman. Ainda segundo Dr. Rosinha, essa negociação permitiu à editora um aumento de capital de R$ 150 milhões - parte desse valor teria sido utilizada no abatimento da dívida. 'O negócio corresponde a 13,8% do capital da Abril. A dívida atual da editora chega a R$ 485,9 milhões', acrescenta, concluindo: 'Como se vê, mesmo endividada, a empresa não deixou de contribuir com campanhas tucanas. Onde fica o princípio de imparcialidade e a independência jornalística dos veículos ligados à editora?', questionou o parlamentar".
Assim, como a Editora Abril não expõe as razões que a leva a financiar determinados candidatos, as demais empresas de mídia não perguntam o por quê desse comportamento, deixando evidente um corporativismo escancarado e que certamente não traz benefício algum à democracia. Como bem observa Weissheimer, a "Editora Abril e a revista Veja poderiam dar o exemplo e explicar com que interesse financiaram campanhas eleitorais de candidatos tucanos. E se esses interesses se manifestam, de algum modo, em suas escolhas e ênfases editoriais. Afinal de contas, a falta de transparência nas relações entre o público e o privado é um dos fatores causadores da atual crise política".
O "discurso afinado"
Toda vez que alguém levanta a necessidade de se conduzir as investigações sobre as denúncias que vêm sendo feitas com o mínimo de isenção, cautela e responsabilidade, a mídia aponta isso como um "discurso afinado" em defesa do PT. Por outro lado, quando a oposição faz, em coro, acusações levianas, sem provas, a mídia não vê nisso uma articulação, um "discurso afinado". Do jeito que a coisa vai, daqui há alguns dias, poderemos assistir o Beira-Mar ser mais um candidato à delação premiada, dizendo que vendeu "fumo" para o Lula e o Presidente que fique com o ônus da prova. Estamos vivendo novos tempos: os postes mijando nos cachorros. E com ampla cobertura midiática. A mídia sabe que tais denúncias, partindo da onde partem, não tem futuro. Mas aposta no desgaste que elas podem produzir.
Não se trata, repetimos, de defender A ou B. Trata-se sim de garantir informação com credibilidade, embasada no factual e com a responsabilidade social que se espera de instituições que são parte de um estado democrático de direito. O incentivo ao denuncismo, endossando a tese de impedimento, cheira a golpe. Poderíamos até falar de um golpismo midiático.
A RBS participa do coro
Não fugindo à regra, a RBS contribui com o seu quinhão a este linchamento moral do PT. É pública e notória a hostilidade que esta empresa de mídia sempre teve em relação ao PT. Se alguém ainda duvida disso, podemos lhe refrescar a memória. A RBS nunca perdeu a oportunidade de atacar às administrações petistas, utilizando-se dos mais insignificantes pretextos. Mas dois episódios se destacaram nesta campanha de desgaste: o caso da Ford e o da segurança pública, durante o governo Olívio Dutra. Particularmente no caso da segurança pública, a RBS articulou os partidos de oposição e instrumentalizou uma canhestra CPI que não produziu nenhum resultado por absoluta falta de provas. Apesar disso, os efeitos desta nefasta campanha, combinados com a divulgação de pesquisa eleitoral manipulada pelo Ibope, através do jornal Zero Hora, fizeram-se sentir no resultado das eleições de 2002 para o governo do RS. Porém, tal manobra não ficou barata para esta empresa: a RBS sofreu um abalo de credibilidade, materializado pelo cancelamento maciço de assinaturas do seu jornal.
Paralelamente, a RBS atravessava uma profunda crise financeira, por conta dos maus negócios feitos na farra das privatizações das empresas estatais de telefonia. Para sanear suas finanças, entra em cena, através de negociações nebulosas, o ministro do apagão do Governo FHC, o sr. Pedro Parente. Ele assume um cargo da diretoria no Grupo RBS, sem respeitar a quarentena que todo ex-funcionário público deve guardar por lei. Como se pode notar, tudo dentro dos mais “rigorosos” preceitos éticos que esta empresa diz defender.
No presente momento, fiel aos seus “rigorosos” preceitos éticos e ao compromisso com a verdade – conforme o seu Guia de Ética e Responsabilidade Social - a RBS está empenhada (como de resto toda a mídia da aldeia) em transformar o PT em um monte de escombros, sepultando debaixo deles, os culpados e os inocentes. Tarefa muito delicada, pois que ela tem de cuidar para que parte desses escombros não lhe caia na cabeça, na sua e na dos outros partidos que ela tenta preservar quando trata das denúncias de corrupção, com a vergonhosa parcialidade que lhe é peculiar.
No afã de atacar o PT, a RBS se deixa pautar até por obscuros jornais de bairro. Ou então permite que seus “formadores de opinião”, como o venal Lasier Martins, façam ilações sobre contas clandestinas nas Ilhas Cayman. Jogar pedra na casa dos outros quando se tem telhado de vidro? Que temeridade! Lasier esquece, ou pensa que os outros esqueceram, que há uma edição inteira da revista Porém que trata exatamente sobre isso: contas clandestinas nas Ilhas Cayman. Só que contas da RBS. Este esgoto que a edição especial da Porém destampou, nunca mereceu um comentário sequer desses “articulistas”. Bem como a citação do nome da empresa na CPI do Banestado. Quem cala, consente.
Em nome da ética e da democracia
Que a mídia não subtraia da população brasileira a verdade. Que se apurem todos os fatos e que se punam todos os culpados, os de agora e os do passado recente, com o rigor que a lei determina. Sem exceção. E que se estabeleça um debate profundo e sério sobre a reforma política, sob pena de que, se isso não acontecer, depararmo-nos, daqui há pouco tempo, com estes mesmos problemas.
Por outro lado, resta saber onde se dará esta discussão. Será nesta mídia corporativa, profundamente comprometida com os interesses que ela supostamente denuncia? Óbvio que não. Antes de debatermos a necessária reforma política, impõe-se um outro debate, muito mais importante e crucial, do qual dependem todos os outros, qual seja: o da democratização dos meios de comunicação.
Este é o princípio que nós do Midi@ética sempre defendemos.
A crise política desencadeada a partir das denúncias de corrupção nos Correios e o seu desdobramento no episódio que ficou conhecido como “mensalão”, escancara a conduta da mídia hegemônica como deformadora de opinião.
Esta mídia, histórica e intimamente ligada a auto-denominada elite brasileira e ao capital, e, portanto, completamente divorciada de um compromisso com o restante da sociedade, usa a informação como instrumento para atingir os escusos interesses da classe que representa.
Acompanhando exaustivamente o noticiário a respeito da crise política que ora vivenciamos, tanto da mídia impressa como da mídia eletrônica, salta aos olhos a existência de um denominador comum em toda a cobertura: a intenção de destruir o Partido dos Trabalhadores (PT) como força política. Todo o esforço é feito no sentido de circunscrever ao PT todas as denúncias. A corrupção nos é apresentada pela mídia, praticamente, como se fosse uma invenção do Governo Lula. Não há precedentes históricos. É como se a vida política nacional até 31 de dezembro de 2002 fosse conduzida pela madre do Convento das Virgens dos Pés Descalços.
Na presente crise, a mídia cotidianamente omite fatos, descontextualiza-os, superdimensiona denúncias que no momento seguinte vêm se mostrar sem fundamento e subdimensiona as que envolvem os partidos do campo com os quais ela tem compromisso. Aceitando-se, ao pé da letra, o que a mídia veicula, fica a certeza de que basta eliminar o PT do cenário político, que a corrupção será automaticamente varrida do país.
É importante deixar bem claro, que não se trata de fazer aqui a defesa daqueles que, dentro do PT, agiram na contra-mão dos princípios historicamente defendidos pelo Partido. Trata-se sim, de colocar as coisas nos seus devidos lugares e denunciar o quanto a mídia está sendo manipuladora, tendenciosa e irresponsável na cobertura desses acontecimentos.
Dois pesos, duas medidas
A mídia não cansa de apontar o financiamento privado das campanhas do PT, através do caixa 2, denunciando aquilo que ela considera uma relação espúria entre o interesse público e o privado. Mas só no PT. Vítima de uma amnésia conveniente, ela escamoteia o mesmo problema - Marcos Valério, "mensalões", caixa 2, compra da reeleição do FHC - quando isso atinge os partidos ou políticos com os quais ela tem relação direta.
Por exemplo: já é de domínio público, há cinco anos, que o caixa 2 da campanha presidencial do PSDB em 1998 foi de pelo menos R$ 10 milhões. Nessa época, o tesoureiro da campanha do FHC informou ao TSE a arrecadação de R$ 77 milhões nas campanhas de 1994 e 1998. Mas, na realidade a arrecadação foi em torno de R$ 94 milhões. Uma "irrisória" diferença de R$ 17 milhões. O tesoureiro da campanha era Luis Carlos Bresser Pereira, que agora pede o impedimento de Lula, alegando que “estamos ante a maior crise moral da história brasileira”. E a desfaçatez continua: “Nas democracias, embora o poder seja formalmente do povo, na prática, está com a sociedade civil, que dele se diferencia porque, no povo, cada cidadão tem um voto; na sociedade civil, o peso de cada cidadão depende de seu conhecimento, de seu dinheiro e de sua capacidade de comunicação e organização". O que seria a tal "capacidade de comunicação"? Seria o número de empresa de mídia que a elite controla? Este ato falho de Bresser deixa bem claro o que a chamada elite brasileira entende por democracia.
A mídia faz vistas grossas ao caixa 2 da campanha de 1998 ao governo do estado de Minas Gerais. Naquela ocasião, o senador e atual presidente do PSDB, Eduardo Azeredo, recebeu R$ 20 milhões, sendo que R$ 11,5 milhões pelo caixa 2, onde Marcos Valério injetou R$ 9 milhões. Igualmente, em 1998, a agência SMP&B, de Marcos Valério, deu R$ 50 mil para a campanha de FHC à reeleição, que também não foram contabilizados na prestação de contas enviada ao TSE pela tesouraria tucana.
Já os R$ 50 mil que o Deputado Federal João Paulo Cunha (PT/SP) recebeu do mesmo Marcos Valério a mídia não deixa passar batido. E isso poderá lhe custar o mandato. Nunca é demais lembrar, que Cunha, quando Presidente da Câmara dos Deputados, comandou uma barganha espúria e, a título de liberar a pauta da Casa no final de 2004, aniquilou o Conselho Federal de Jornalismo, desfecho bem ao gosto do coronelato midiático. Brutal ironia: Cunha destruiu o mecanismo que tinha justamente o objetivo de impedir as grosseiras manipulações que a mídia engendra e das quais ele hoje é uma das vítimas.
As empresas de mídia também são empresas
É comum a mídia se apresentar como uma espécie de ente que paira acima do bem e do mal. Ela não tem dono, não tem interesses, é “imparcial” e democrática. Essencialmente, a mídia não discute a si mesma. E tanto isso é um fato, que a Revista Veja, por exemplo, que tem sido uma das pautadoras das denúncias contra o Governo Lula e o PT, insiste na tese de que haveria uma relação promíscua entre estes e o setor privado. No entanto, "esquece" de informar aos seus leitores, de acordo com o jornalista Marco Aurélio Weissheimer, citando dados obtidos pelo gabinete do deputado federal Dr. Rosinha (PT-PR), a partir de informações do TSE., que a Editora Abril, a qual Veja pertence, "doou, nas eleições de 2002, R$ 80,7 mil a dois candidatos do PSDB e a um candidato do PPS. O deputado federal Alberto Goldman (PSDB-SP) recebeu doações de R$ 34,9 mil da editora naquele ano. O deputado federal licenciado Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), ex-ministro da Justiça do governo Fernando Henrique Cardoso, recebeu uma quantia mais modesta, R$ 15,8 mil. Ferreira é hoje secretário de governo do prefeito de São Paulo, José Serra (PSDB). Já o candidato Emerson Kapaz (PPS-SP), que já exerceu mandatos pelo PSDB antes de trocar de partido, recebeu R$ 30 mil".
Segundo Weissheimer, a partir destes dados, Dr. Rosinha tira algumas conclusões, especialmente no caso do financiamento da campanha de Alberto Goldman. "Além de ter relatado a Lei Geral de Telecomunicações durante o governo FHC, Goldman também presidiu a comissão que tratou da flexibilização do monopólio do petróleo. O principal beneficiado pelas doações da Editora Abril foi ainda ministro dos Transportes, quando deu início ao processo de privatização das rodovias e portos brasileiros. (...) E vai mais além. Uma das maiores editoras do Brasil, a Abril possuía um endividamento líquido, em 2002, de R$ 699,5 milhões. Em julho de 2004, fundos de investimento em empresas de capital privado da Capital International Inc. associaram-se ao grupo Abril, beneficiando-se da Lei Geral de Telecomunicações, relatada por Goldman. Ainda segundo Dr. Rosinha, essa negociação permitiu à editora um aumento de capital de R$ 150 milhões - parte desse valor teria sido utilizada no abatimento da dívida. 'O negócio corresponde a 13,8% do capital da Abril. A dívida atual da editora chega a R$ 485,9 milhões', acrescenta, concluindo: 'Como se vê, mesmo endividada, a empresa não deixou de contribuir com campanhas tucanas. Onde fica o princípio de imparcialidade e a independência jornalística dos veículos ligados à editora?', questionou o parlamentar".
Assim, como a Editora Abril não expõe as razões que a leva a financiar determinados candidatos, as demais empresas de mídia não perguntam o por quê desse comportamento, deixando evidente um corporativismo escancarado e que certamente não traz benefício algum à democracia. Como bem observa Weissheimer, a "Editora Abril e a revista Veja poderiam dar o exemplo e explicar com que interesse financiaram campanhas eleitorais de candidatos tucanos. E se esses interesses se manifestam, de algum modo, em suas escolhas e ênfases editoriais. Afinal de contas, a falta de transparência nas relações entre o público e o privado é um dos fatores causadores da atual crise política".
O "discurso afinado"
Toda vez que alguém levanta a necessidade de se conduzir as investigações sobre as denúncias que vêm sendo feitas com o mínimo de isenção, cautela e responsabilidade, a mídia aponta isso como um "discurso afinado" em defesa do PT. Por outro lado, quando a oposição faz, em coro, acusações levianas, sem provas, a mídia não vê nisso uma articulação, um "discurso afinado". Do jeito que a coisa vai, daqui há alguns dias, poderemos assistir o Beira-Mar ser mais um candidato à delação premiada, dizendo que vendeu "fumo" para o Lula e o Presidente que fique com o ônus da prova. Estamos vivendo novos tempos: os postes mijando nos cachorros. E com ampla cobertura midiática. A mídia sabe que tais denúncias, partindo da onde partem, não tem futuro. Mas aposta no desgaste que elas podem produzir.
Não se trata, repetimos, de defender A ou B. Trata-se sim de garantir informação com credibilidade, embasada no factual e com a responsabilidade social que se espera de instituições que são parte de um estado democrático de direito. O incentivo ao denuncismo, endossando a tese de impedimento, cheira a golpe. Poderíamos até falar de um golpismo midiático.
A RBS participa do coro
Não fugindo à regra, a RBS contribui com o seu quinhão a este linchamento moral do PT. É pública e notória a hostilidade que esta empresa de mídia sempre teve em relação ao PT. Se alguém ainda duvida disso, podemos lhe refrescar a memória. A RBS nunca perdeu a oportunidade de atacar às administrações petistas, utilizando-se dos mais insignificantes pretextos. Mas dois episódios se destacaram nesta campanha de desgaste: o caso da Ford e o da segurança pública, durante o governo Olívio Dutra. Particularmente no caso da segurança pública, a RBS articulou os partidos de oposição e instrumentalizou uma canhestra CPI que não produziu nenhum resultado por absoluta falta de provas. Apesar disso, os efeitos desta nefasta campanha, combinados com a divulgação de pesquisa eleitoral manipulada pelo Ibope, através do jornal Zero Hora, fizeram-se sentir no resultado das eleições de 2002 para o governo do RS. Porém, tal manobra não ficou barata para esta empresa: a RBS sofreu um abalo de credibilidade, materializado pelo cancelamento maciço de assinaturas do seu jornal.
Paralelamente, a RBS atravessava uma profunda crise financeira, por conta dos maus negócios feitos na farra das privatizações das empresas estatais de telefonia. Para sanear suas finanças, entra em cena, através de negociações nebulosas, o ministro do apagão do Governo FHC, o sr. Pedro Parente. Ele assume um cargo da diretoria no Grupo RBS, sem respeitar a quarentena que todo ex-funcionário público deve guardar por lei. Como se pode notar, tudo dentro dos mais “rigorosos” preceitos éticos que esta empresa diz defender.
No presente momento, fiel aos seus “rigorosos” preceitos éticos e ao compromisso com a verdade – conforme o seu Guia de Ética e Responsabilidade Social - a RBS está empenhada (como de resto toda a mídia da aldeia) em transformar o PT em um monte de escombros, sepultando debaixo deles, os culpados e os inocentes. Tarefa muito delicada, pois que ela tem de cuidar para que parte desses escombros não lhe caia na cabeça, na sua e na dos outros partidos que ela tenta preservar quando trata das denúncias de corrupção, com a vergonhosa parcialidade que lhe é peculiar.
No afã de atacar o PT, a RBS se deixa pautar até por obscuros jornais de bairro. Ou então permite que seus “formadores de opinião”, como o venal Lasier Martins, façam ilações sobre contas clandestinas nas Ilhas Cayman. Jogar pedra na casa dos outros quando se tem telhado de vidro? Que temeridade! Lasier esquece, ou pensa que os outros esqueceram, que há uma edição inteira da revista Porém que trata exatamente sobre isso: contas clandestinas nas Ilhas Cayman. Só que contas da RBS. Este esgoto que a edição especial da Porém destampou, nunca mereceu um comentário sequer desses “articulistas”. Bem como a citação do nome da empresa na CPI do Banestado. Quem cala, consente.
Em nome da ética e da democracia
Que a mídia não subtraia da população brasileira a verdade. Que se apurem todos os fatos e que se punam todos os culpados, os de agora e os do passado recente, com o rigor que a lei determina. Sem exceção. E que se estabeleça um debate profundo e sério sobre a reforma política, sob pena de que, se isso não acontecer, depararmo-nos, daqui há pouco tempo, com estes mesmos problemas.
Por outro lado, resta saber onde se dará esta discussão. Será nesta mídia corporativa, profundamente comprometida com os interesses que ela supostamente denuncia? Óbvio que não. Antes de debatermos a necessária reforma política, impõe-se um outro debate, muito mais importante e crucial, do qual dependem todos os outros, qual seja: o da democratização dos meios de comunicação.
Este é o princípio que nós do Midi@ética sempre defendemos.
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