25.7.09

Forças naturais do barulho



Há um grande problema com a tese - assumida publicamente pelo jornal Zero Hora e brilhantemente pulverizada por Cristóvão Feil - de que a "fragilidade estrutural" do Detran/RS "ajuda a explicar por que" seus presidentes "não duram muito tempo no cargo".

Pelo menos dois deles não duraram muito porque foram alvos da Operação Rodin, que investigou o desvio de mais de R$ 40 milhões da autarquia, e não por sua "fragilidade estrutural".

A tese dessa suposta fragilidade é uma das conclusões da Operação Rodin, e não um de seus princípios investigativos. Logo, não faz sentido se afirmar que ambos, Flávio Vaz Neto e Carlos Ubiratan dos Santos, foram presos provisoriamente durante a referida Operação porque a autarquia que presidiram padecia de "fragilidade estrutural".

Não. Eles foram presos porque "grupos criminosos se apoderam de determinados contratos para (...) escoar recursos da autarquia".

Teria sido bastante estranho ter aberto algum jornal, em 07 de novembro de 2007, e lido que ambos foram presos por conta dessa peculiar fragilidade: - "Os senhores estão sendo presos por conta da fragilidade estrutural da autarquia que presidiram". Baita argumento.





Há menos sentido, ainda, em se defender a tese de que os presidentes que lhes sucederam também não duraram muito tempo no cargo em função dessa teoria da "fragilidade estrutural".

A menos, claro, que ela (A) seja um eufemismo para a expressão "grupos criminosos" que "se apoderam de determinados contratos para (...) escoar recursos da autarquia" (B). Que outra fragilidade seria essa, senão a própria ação dos referidos grupos?

Bem, mas aí teríamos um problema maior ainda, pois indiretamente estaríamos admitindo que recursos da autarquia continuam sendo "escoados", já que reconhecemos identidade entre A e B (A = B). A estaria por B, dito de outro modo.

Mas, se admitirmos tal tese, então também precisamos admitir, no mínimo, que o governo Yeda Crusius está sendo conivente com essa situação, uma vez que existem fortes suspeitas de que Sérgio Buchmann, seu último presidente, teria sofrido pressão de agentes governamentais "por não ter reconhecido uma suposta dívida da autarquia com a empresa de guinchos Atento", "desentendimento" que, como é público e notório, teria motivado a queda de sua antecesssora, Estella Maris Simon.

Sim, pois bem poucas coisas além de uma suposta dívida não reconhecida por seus dois últimos presidentes (C) - e La Vieja acredita que um homem que sacrifica seu interesse privado em nome do interesse público deve ter boas razões para não reconhecer uma dívida supostamente pública - poderiam ser identificadas com "escoar recursos da autarquia" (B). Como C é igual a B e B é igual a A, então A também é igual a C. A também eufemiza C, em outras palavras.





Entretanto, é evidente que a via interpretativa da teoria da "fragilidade estrutural" como eufemismo para a ação de "grupos criminosos" que "se apoderam de determinados contratos para (...) escoar recursos da autarquia" - e, por conseguinte, também como eufemismo para "supostas dívidas públicas não reconhecidas" - é fantasiosa.

A corrupção pública, ao menos no RS, é como que uma espécie de força da natureza. Se não, está prestes a ser naturalizada. Embora grupos criminosos guascas formados por homens de bem costumem se apoderar de contratos para escoar recursos públicos, o problema está na estrutura de nossa administração pública, frágil e suscetível a fraudes. Ela, a corrupção, como que brota dessas fragilidades e suscetibilidades; assim mesmo, despersonalizada e sem pai nem mãe, coitada.

Aliás, La Vieja não entende como homens de bem como aqueles que integram grupos criminosos guascas possam ser responsabilizados, se agem quase contra sua vontade. Eles estão ali, mateando despacitos e como quem não quer nada, zelando pelo bem público, até serem violentamente arrancados desse honesto idílio pelas irresistíveis suscetibilidades e fragilidades estruturais de nossa administração pública. Forças da natureza, só pode.

Erra o homem público gaúcho que, a exemplo de Sérgio Buchmann, nega-se a praticar um crime, ou com ele
compactuar. Buchmann, esse pária, deveria ter usado as informações privilegiadas que recebeu para livrar a cara de seu filho e, depois, como todo homem de bem, ter culpado a fragilidade estrutural de nossa administração pública, cujos apelos, como se sabe, são irresistíveis.





Essa, senhores, é a via interpretativa da razão, como tão bem nos ensina o jornal Zero Hora. Deixemos de lado, portanto, os eufemismos e as fantasias. Isso é coisa para quem associa uma ideia à outra; o que, como bem se sabe ao menos desde Aristóteles, não faz o menor sentido.

Portanto, os dois primeiros presidentes do Detran/RS não duraram muito tempo no cargo por desconhecerem a intensidade das forças naturais responsáveis pelas suscetibilidades e fragilidades estruturais de nossa administração pública - foram suas vítimas, portanto. Os dois que lhes sucederam, por sua vez, também não duraram muito porque, mesmo a conhecendo, erraram o alvo: combateram interesses humanos obscuros, ao invés de neutralizá-las.





"Assim como falham as palavras quando querem exprimir qualquer pensamento,
Assim falham os pensamentos quando quando querem exprimir qualquer realidade.
Mas, como a realidade pensada não é a dita mas a pensada,
Assim a mesma dita realidade existe, não o ser pensada.
Assim tudo o que existe, simplesmente existe.
O resto é uma espécie de sono que temos,
Uma velhice que nos acompanha desde a infância da doença".

Poemas Completos de Alberto Caieiro (Poemas Inconjuntos, 1913-1915).
Poesia heterônima de Fernando Pessoa.





(A matéria de Zero Hora acima reproduzida foi retirada do Diário Gauche)

Quando um jornal não quer informar, faz como Zero Hora


Que grupos criminosos se apoderaram do Detran? Eis a questão.

Quando um jornal não quer informar, faz como Zero Hora. Vejam a matéria intitulada “Uma autarquia do barulho”, na edição de hoje do diário da RBS. Além de se tratar de um texto escrito com o dedão do pé, parece alguma coisa sobre bloco de sujo do carnaval. O Detran é do “barulho”, para o jornal ZH. Que meiguice.

É uma “missão espinhosa” para o Palácio Piratini (o sujeito da oração é o Palácio, pasmem) manter alguém à frente do Detran.

“As conclusões da Operação Rodin indicaram uma fragilidade estrutural, que ajuda a explicar por que os presidentes do Detran não duram muito tempo no cargo”. Fragilidade estrutural? Os caras roubam quase 50 milhões de reais e o jornal (desinformativo) chama de “fragilidade estrutural”. Só falta constatar que há um feitiço no Detran, e por esse motivo – plenamente justificado, à luz da razão e de métodos científicos avançados –, os presidentes da autarquia são ejetados de suas cadeiras institucionais. “Especulações mais ousadas apontam que pode tratar-se da existência de pregos na cadeira da presidência do departamento encarregado do trânsito” - poderia ser uma linha de trabalho do jornal ZH, emprestando um ar misterioso à edição de hoje.

Mais adiante, o texto fica mais atrevido: “Pela tese dos agentes federais, grupos criminosos se apoderaram de determinados contratos...”.

Que coisa! Sério, agentes federais constroem teses? Grupos criminosos se apoderam de contratos? Tudo muito estranho. Que grupos criminosos seriam esses? Seriam gangues de “bebês japonêses”? Seriam quadrilhas de “bêbados de porta de bar”? Ou talvez “comunistas infiltrados”, os mesmos que teriam provocado a morte de Marcelo Cavalcante, segundo o primeiro-ex-marido, Carlos Crusius? Pode tratar-se, também, de “perseguidores macarthistas”? Ou os “inimigos do déficit zero”? Ou a temível máfia dos “montadores de frágeis palanques” que há semanas cometeram um atentado covarde contra a governadora? Quem sabe as "torturadoras de criancinhas"?

Muito bem. Nós fizemos a nossa parte. Apontamos diversos suspeitos de terem se apoderado de “determinados contratos” do Detran.

Que tal, agora, os editores do jornal ZH reunirem dois ou três dos seus consagrados repórteres investigativos e mandá-los a campo para que nos revelem a verdade límpida e fria sobre o Detran/RS?

Mal podemos esperar.

Fonte: Diário Gauche

17.7.09

A imprensa gaúcha pegou leve demais

A governadora gaúcha Yeda Crusius perdeu a linha ontem (http://www.midiamundo.com/2009/07/sem-bola-de-cristal.html) .
Hoje os jornais do Rio Grande mediram palavras para falar do incidente.
Zero Hora fala em "reação ao cerco".
O Sul publica "protesto" e "confusão".
O Correio do Povo consegue ir um pouco mais longe e fala em "protestos e fúria".
Mas é preciso ir às capas do centro do país para entender o que aconteceu na capital gaúcha.
O Estado de S. Paulo dá o incidente na foto principal de capa e fala que Yeda "bate boca".
O Globo não perde tempo e diz "O grito".
E a Folha de S. Paulo vai além de todos os jornais, gaúchos ou não, e como foto principal de capa fala em "Um dia de fúria".

Por que os jornais gaúchos não conseguem ser mais específicos, como a Folha de S. Paulo?
Por que a imprensa gaúcha só começou a falar dos escândalos da governadora depois que a revista Veja trouxe o fato, mesmo que o Ministério Público já esteja com o caso desde o ano passado?
Por que os jornais gaúchos, exemplos de sucesso para todo o Brasil, têm tanta dificuldade em falar do governo e da governadora?







Fonte: Mídia Mundo

5.7.09

BLOGS SÃO MANIQUEÍSTAS - DIZ JORNAL "VALOR ECONÔMICO", CITANDO CLOACA NEWS

Reportagem publicada nesta sexta-feira, 3 de julho, no jornal Valor Econômico - joint venture entre as famiglias Marinho e Frias - traz artigo de Yan Boechat, analisando o papel dos blogs no cenário político. O texto está disponível, também, na edição digital do veículo, mas, considerando que tal conteúdo é de acesso restrito a assinantes, tomamos a liberdade de copiá-lo abaixo, visto que somos citados.
Logo em seguida, a exemplo do que faz o blog Petrobras - Fatos e Dados, publicamos a íntegra da entrevista, feita por e-mail, que este Cloaca News concedeu ao valoroso repórter.
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Militantes partidários trocam as ruas pelos computadores
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Valor Econômico - 03/07/2009

Vão-se lá quase duas décadas de esvaziamento crescente dos militantes partidários que enchiam as ruas brasileiras nas campanhas eleitorais. Sua figura, quase sempre esteriotipada (sic), sempre esteve ligada aos partidos de esquerda, que contavam com a colaboração espontânea de seus filiados e simpatizantes. Foi assim na vitória de Leonel Brizola ao governo do Rio em 1982 e na virada de última hora que levou Luiza Erundina a se tornar a primeira prefeita mulher de São Paulo em 1988.
Desde meados da década de 90 que as esquinas estão sendo tomadas por "militantes" profissionais. São, em geral, jovens desempregados das periferias das grandes cidades contratados pelos partidos para agitar bandeiras, estender faixas ou vestir a camisa de algum candidato em troca de alguns poucos reais ao dia. O militante histórico envelheceu, desiludiu-se e ficou em casa, na frente do computador
Os blogs são as armas dessa nova militância. Em geral, são maniqueístas e dividem políticos - e seus aliados - em anjos e demônios. Eles são feitos em todos os cantos do país e, basicamente, podem ser divididos em duas categorias: críticos ácidos dos partidários do governador paulista, José Serra, ou do presidente Luiz Inácio Lula da Silva..
Dois de seus principais expoentes são jornalistas experientes, Reinaldo Azevedo, colunista da revista "Veja", e Paulo Henrique Amorim, apresentador da "TV Record". Os embates perpetrados nos blogs de ambos reverberam em ampla rede de colunistas online, uma boa parte dela formada por blogueiros anônimos. "Os blogs políticos de cidadãos comuns fazem parte de uma rede ampla de gente que quer ser ouvida, que quer dar sua opinião e que não tinha canal para isso", diz Sérgio Amadeu, professor da faculdade Cásper Líbero e pesquisador da internet.
Afirmando ter a missão de "desmascarar a máfia midiática que infesta nosso país", o blog Cloaca News foca seus ataques no governador de São Paulo, José Serra, e nos partidos que o apoiam, que, para ele, têm a simpatia dos principais veículos de comunicação do país. Criado e tocado por um jornalista gaúcho(*) que não se identifica, a coluna digital tem mais de 200 mil acessos desde que foi criada, no final de outubro de 2008. "Nosso blog, sozinho, não vai a lugar algum, mas temos já a noção do efeito multiplicador instantâneo dos blogs", diz o autor por e-mail, sem se identificar.
Na outra ponta, outro blog também cativa audiência. Batizado de Coturno Noturno, é feito por um morador de Florianópolis (SC) que também não se identifica. Mira os ataques no presidente Luiz Inácio Lula da Silva e na ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. O site, que defende posições polêmicas, como o golpe militar em Honduras, já conta com mais de 1,2 milhão de visitas.
Em ambos os casos, os blogs são tão bem escritos quanto violentos nas críticas e sátiras contra seus opositores. Moriael Paiva, que vem atuando em campanhas políticas por meio da internet desde 2002, não acredita que eles tenham poder para mudar opiniões. Para ele, os blogs servem, na verdade, como reafirmação para grupos que já concordam com as ideias ali expostas. "Quem está ali já tem a opinião formada, não há espaço para fazê-lo mudar de lado", diz Paiva, cotado para comandar a campanha na internet do candidato tucano.
Mas apesar desse poder limitado de influência, os blogs políticos fazem parte de uma rede importante composta por militantes que atuam em diferentes áreas. São eles que podem dar sustentação a discussões em redes sociais, como o Orkut. A estratégia dos partidos passa por fazer com que esses usuários fiéis funcionem como disseminadores das propostas dos candidatos. Foi por meio dessa rede de militantes digitais que Barack Obama conseguiu que os 1,8 mil vídeos que postou no You Tube fossem vistos mais de 20 milhões de vezes. (YB)
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* O cloaqueiro vive em Porto Alegre, mas é paulista. E corinthiano...
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Íntegra das respostas dadas pelo Cloaca News ao questionário enviado pelo repórter Yan Boechat, do Valor Econômico. A nosso pedido, a "entrevista" foi feita por e-mail.
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Há quanto tempo o blog existe?
O Cloaca News estreou na blogosfera no dia 31 de outubro de 2008. Completará oito meses de existência dentro de alguns dias.
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Ele é feito apenas por uma pessoa ou há uma “equipe” envolvida na sua produção?
A equipe do Cloaca News é composta de um pauteiro, um repórter, um pesquisador de imagens, um redator, um editor, um “advogado” e um Diretor de Redação, sendo que todas essas atribuições estão delegadas a uma única pessoa - ninguém menos que este que lhe escreve – que acaba agora de acumular, também, a função de assessor de imprensa.
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Como surgiu a idéia de fazê-lo?
A idéia de fazer o Cloaca News adveio da profunda indignação de seu criador com as práticas desonestas de manipulação por parte dos principais conglomerados da informação brasileiros – e que, mui apropriadamente, o jornalista Luis Nassif denominou “jornalismo de esgoto”. O blog, nesse caso, surgiu como uma alternativa possível para denunciar e execrar esse comportamento da chamada imprensa corporativa, dentro de uma perspectiva muito particular, baseada na visão de mundo e na bagagem político-cultural de seu criador.
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Além do tempo dedicado, há algum gasto para produzi-lo?
Nenhum gasto.
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Há algum auxílio de terceiros para produzi-lo?
Nenhum auxílio. Trabalho solitário.
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Você tem formação jornalística?
Sim.
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Qual a média de visitas diárias à pagina?
Em maio, a média diária foi de 1848 visitantes. No mês em curso, a média se mantém. Ocasionalmente, temos alguns picos. No maior deles, há poucos dias, beiramos 4 mil visitas.

Qual o número total de visitas ate hoje?
Até o momento em que escrevemos estas linhas, o número total é de 210.500 visitas. No rodapé do Cloaca News, encontram-se o contador de visitas e mais algumas ferramentas de monitoramento e estatísticas. Uma dessas ferramentas - o Extreme Tracking - é aberta ao público.

Como você seleciona os assuntos que serão abordados?
Não há, propriamente, uma "seleção". A escolha sobre determinado assunto como tema para uma postagem depende muito da "temperatura" dos noticiários da imprensa corporativa. Às vezes, ao toparmos com determinada notícia - ou determinada abordagem de algum fato - bolamos algo "de estalo". A coisa vem num lampejo. Tem dias em que não falta pauta, mas o cloaqueiro não está "naqueles dias". E tem dias que, mesmo diante de um noticiário modorrento, surge uma boa idéia. Normalmente, ficamos procurando ganchos nas notícias. Ficamos farejando até ver ser sai algum podre. Há nisso um pouco de intuição, um pouco de sorte e, quase sempre, muita paciência de pesquisar. Nestes últimos dias, por exemplo, estamos nos desdobrando. É que estamos em fase de checagem de várias denúncias envolvendo o governo Serra, particularmente na Educação. A pequena série que já publicamos é apenas um tira-gosto. A sujeira grossa, que denunciaremos com exclusividade - e com provas - está sendo rigorosamente verificada. Dá muito trabalho. Enquanto isso, tocamos o blog do jeito que dá, contando com alguma inspiração.
As perguntas que você faria são: que denuncias são essas? Como chegaram ao seu conhecimento? Respondemos: temos alguém infiltrado no ninho - o nosso Garganta Profunda. Mais não diremos.

Qual o teu objetivo principal com o blog?
Nosso objetivo é cumprir o que determinamos como "nossa missão", na medida do possível: desmascarar a máfia midiática que infesta nosso país. Com isso, mesmo com nossa insignificância, estaremos colaborando para valorizar a instituição Imprensa, aquela verdadeiramente comprometrida com o interesse público.
Quanto tempo ele te consome?
Cerca de três horas por dia, em média.

É possível ter alguma remuneração com ele?
Não temos remuneração alguma com o blog.

Como você avalia o sucesso e a repercussão do Blog? A que você atribui isso?
O "sucesso" fica por sua conta. No entanto, felizmente, o Cloaca News já causa algum frisson. Praticamente toda semana o blog vira referência para outros blogueiros de política, entre eles alguns dos mais importantes entre os "independentes". O curioso é que estamos conquistando esse espaço apesar de sermos um blog "anônimo". Então, atribuimos a repercussão que conseguimos à veracidade da informação que publicamos. Por mais que sejamos ora irreverentes, ora raivosos, quando soltamos alguma "bomba" , indefectivelmente ela estará ancorada em fonte segura, geralmente um link acima de qualquer suspeita.
Nesse sentido, o "sucesso" a que você se refere deve-se a isso: quando matamos a cobra, mostramos o pau.
De vez em quando, também produzimos alguns deboches pertinentes, como, por exemplo, no caso do "protesto dos capangas de Mato Grosso", ou na recuperação da ficha policial de Aloysio Nunes Pereira.
Na prática, estamos a caminho de encontrar nossa "identidade blogosférica", algo como uma marca registrada que virá com o tempo. Para nossa surpresa, já há uma pequena legião de leitores que fica aguardando para ver de que maneira trataremos determinado acontecimento.

Ate que ponto você acredita que um blog como o seu tem capacidade de influir na opinião publica?
Nosso blog, sozinho, não vai a lugar algum. Não temos essa presunção de "influir na opinião pública" a ponto de mover as massas. Mas, temos já a noção do efeito multiplicador instantâneo dos blogs. Por enquanto, somos pequenos. E nem sabemos se um dia chegaremos a ser "grandes". Ao mesmo tempo, mesmo insignificantes no aspecto da audiência, funcionamos como "alimentatores" de uma rede, em que os maiores acabam por amplificar nosso trabalho.

Ate que ponto você acredita que ele pode ter alguma influencia nas eleições de 2010?
Além do que acabamos de dizer na resposta anterior, podemos dizer que, a cada falcatrua que descobrimos, alguns votos podem até mudar de rumo. Temos um caso específico, de UMA leitora nossa, que já "virou a casaca" por causa das bandalheiras tucanas que denunciamos.
Mas, repetimos: nosso blog, sozinho, não irá a lugar nenhum sem a "coligação" com os demais blogs com os quais temos afinidades.

Seu blog tem como missão ´Desmascarar a máfia midiática que infesta nosso país. Dar nome aos ratos e aos sabujos”. Como você define essa “máfia midiática”?
Simples: é só juntar as pouquíssimas "famiglias" que controlam os meios de informação mais importantes deste país.

Você entende que toda a grande imprensa está comprometida com os partidos de oposição ao governo Lula?
Considerando que a "grande imprensa" é a que está nas mãos das "famiglias" acima, sim, ela está comprometida. A leitura e a análise do jornalismo que produzem diariamente não nos deixam mentir.

Por conseguinte, você entende que o governo federal não consegue exercer seu poder de pressão junto à grande mídia?
Curiosa esta pergunta, porque é feita já com a certeza da resposta anterior. E, mais curioso ainda: supor que o governo federal poderia exercer "poder de pressão" sobre a "grande mídia".
O verbo "conseguir" não cabe nesta formulação. Não é papel de qualquer governo "exercer pressão" sobre a mídia. Este governo federal, pelo menos, não faz isso, ao que nos consta. E não o faz não por "não conseguir", mas, quem sabe, por princípio.
Bem diferente do governo de José Serra, concorda?
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Nos últimos anos os blogs políticos profliferam-se no país. Sob meu ponto de vista, em sua grande maioria, adotam discursos diametralmente opostos e equivalentemente apaixonados sobre a linha de pensamento que defendem. Ou seja, na maior parte das vezes os embates ideológicos travados por esses blogs acabam adotando uma postura maniqueísta. Qual o seu ponto de vista sobre esses “embates” virtuais?
Somos muito suspeitos para responder com isenção. Aliás, o Cloaca News não é isento. Mas, nossa maior virtude, sem modéstia alguma, é provar que aqueles que se dizem "isentos" - e ganham muito dinheiro com isso - na verdade, não o são.
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Você acredita que eles são resultado de uma cultura política que, apesar de multipartidária, tem se polarizado ao ponto de estarmos nos aproximando de um sistema bi-partidarista?
É incrível, rapaz! Você fez a pergunta já a respondendo!!!
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Ou você entende que trata-se mais de um “embate de classes” no Brasil. Que classes são essas? Como você as define?
Nós não definimos nada. A tese do "embate de classes" não é nossa.
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Alguns dos sites que contrapõem sua linha de pensamento adotam uma postura de admiração à ditatura militar ocorrida n Brasil. Você acredita que essa outra parcela do ativismo político blogueiro que temos no Brasil está de fato ligada à uma cultura/classe que apoiou o sistema ditatorial brasileiro? Ou estamos falando de uma outra geração, que apenas pega alguns desses elementos para atacar personagens importantes dos partidos de esquerda que têm um histórico de combate à ditadura?
A Folha da Tarde emprestava sua frota para uso da OBAN, predecessora do DOI-CODI, que torturava e matava. E, recentemente, a Folha de S.Paulo apelou até para uma falsa ficha de Dilma Roussef para tentar desqualificar a Ministra.
Os blogs "de esquerda" deitaram e rolaram. Os demotucanos mudaram de assunto.
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Dentro dessa ótica de que há uma divisão clara e polarizada entre os blogs políticos, quem você acredita que “lidere” essas linhas. Eu pessoalmente vejo Reinaldo Azevedo e Paulo Henrique Amorim, indo aos extremos, como os principais expoentes dessa disputa. Você concorda, discorda? Como você vê isso?
Discordamos. Não há "líderes", nem liderados.
Em nome do decoro, vamos nos abster de emitir juízos sobre o blogueiro da Veja.
Quanto ao PHA, trata-se de uma audiência extraordinária quantitativamente. Mas teríamos que botar na lista o Luis Nassif, o Luiz Carlos Azenha, o Rodrigo Viana, o Leandro Fortes, o Idelber Avelar... E, claro, o Amigos do Presidente Lula, nosso blog de coração.
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Como são as pressões que você sofre com o site, se é que há alguma pressão.
Acredite: não sofremos pressões, a não ser as nossas próprias. Com nossa audiência crescente, sentimos que temos uma espécie de "compromisso" com os leitores que nos visitam todos os dias.

Já houve alguma tentativa de censura por parte do Estado, de órgãos privados?
Até o momento, nenhuma.
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Essa semana o grupo de trabalho sobre a lei eleitoral está discutindo exatamente como a internet poderá ser usada nas eleições de 2010. Um dos principais argumentos em todas as discussões sobre a questão é de que ela é inevitável e o exemplo mais citado é a experiência da campanha de Obama. Você acredita que há espaço no Brasil para que a internet seja usada da maneira que foi usada nos Estados Unidos?
Sim, acreditamos. A grande ameaça, porém, é o projeto do tucano (tinha que ser tucano...) Eduardo Azeredo, já batizado de AI 5 Digital.

Roupa nova e me devendo

Me devendo um jornalismo cidadão

Me devendo um jornal de verdade. Me devendo um jornal sem comprometimento com os destruidores do bioma Pampa. Um jornal que não seja o intelectual orgânico de arranjos político-eleitorais golpistas, antipopulares e antidemocráticos. [Sem jamais esquecer que a família Sirotsky, dona do grupo RBS e do repaginado Zero Hora, apoiou e se beneficiou do golpe civil-militar de Primeiro de Abril de 1964.]

Um jornal que não seja dissimulado, espetaculoso, senso comum rebaixado e pseudo-apartidário. Me devendo um jornal republicano (não precisa ser de esquerda), com bons textos, defensor de idéias e políticas sem a máscara da “neutralidade” e da “isenção”. Me devendo um jornal que não seja o veículo portador dos interesses do baronato do concreto, da especulação imobiliária e do desfiguramento urbano de Porto Alegre e sua natureza. Me devendo um jornal de verdade. E não um jornal guaribado e com novos cosméticos de superfície.

Em Tempo. É curioso que nos últimos dois anos e meio só duas famílias prosperaram, e estão de casa nova no Rio Grande do Sul: a família RBS/Sirotsky, com seu novo parque gráfico (que propiciou o botox em ZH), e a família Rorato Crusius, com sua flamante casa em bairro metido de Porto Alegre, mas cuja origem é mais enrolada que baile de cobras.

Fonte: Diário Gauche

2.7.09

Governo Yeda bate no fundo do poço


Confesso que eu nunca, jamais, vi coisa semelhante na política guasca

Essa manchete da página 2 do jornal Correio do Povo é inacreditável. O editor está tão confuso e perplexo quanto nós, os leitores. Vejam só: o Piratini, o Executivo, em suma, a governadora Yeda, pressiona para que um subordinado seu não abandone o barco do governo de insensatos.

Confesso que eu nunca, jamais, vi coisa semelhante na política guasca. Um chefe do Executivo afirma que pressiona para alguém ficar a seu lado, que não se vá, que não diga adeus, Mariana.

I-na-cre-di-tá-vel!

Este é o maior e o melhor atestado da fraqueza e da falta de capital político da governadora tucana Yeda Rorato Crusius.

O governo Yeda está nu e a pé. Uma Lady Godiva varicosa e sem cavalo.

Abstraindo os episódios que atentam contra a moralidade pública, politicamente este é o ponto mais cavo e depressivo a que poderia chegar uma administração no Estado do Rio Grande do Sul – em qualquer tempo do seu presente e passado histórico.

Deu, não tem mais o que afundar.

Só pode ser a Mãe Natureza que desmonta a Uergs




Governo Yeda não é mencionado em matéria sobre o sucateamento da Universidade estadual

Sim, a Universidade do Estado do Rio Grande do Sul – Uergs – está sendo encolhida e aos poucos, desmontada. Zero Hora fez, na edição dominical de ontem, um apanhado sobre a situação lamentável da Universidade criada (2001) e organizada pelo governo Olívio Dutra (1999-2003), entretanto, não é atribuída responsabilidade a quem quer que seja pela grave situação pelo qual passa a instituição estadual.

O jornal do grupo RBS esquece de determinar o sujeito da oração. Quem encolhe a Uergs? Quem desmonta a Uergs?

Forças ocultas ou forças ocultadas são os responsáveis pela degradação da Universidade?

É óbvio que são forças ocultadas. Zero Hora esconde ardilosamente o sujeito responsável pelo sucateamento da Uergs. A governadora Yeda Rorato Crusius não está desmontando somente a Universidade estadual, mas o próprio Estado. O novo jeito de governar é sinônimo de desmonte da máquina pública, de corrupção em vários órgãos públicos, de desprezo pelo público em favor do privado, de irresponsabilidade com a saúde pública e com a educação de qualidade, de insolências no trato com os temas do funcionalismo, de repressão aos movimentos sociais, de descaso com a legislação ambiental e – sobretudo – do despreparo com a administração pública e o diálogo político e democrático.

Zero Hora omite o sujeito responsável pelo desmonte da Uergs porque é parte solidária desta sabotagem contra o ensino público e gratuito. O grupo RBS é a estufa morna e maternal onde se gerou e cresceu a hoje governadora Yeda Rorato Crusius. Como, então, nomear a responsável pelo dano proposital à Uergs sem se autoincriminar em definitivo?

Fac-símiles: matéria de ZH dominical (29.06.2009). O atual reitor da Uergs, nomeado pela governadora tucana Yeda Rorato Crusius, toma o cuidado de omitir o nome da própria, ao dizer que tem "conversado com o Palácio". O interlocutor dele é o Palácio. O reitor dialoga com o Palácio. O Palácio é o culpado de tudo. O Palácio é mesmo muito feio e mau.

Sempre a obsessão com Chávez




Líder bolivariano pauta noticiário internacional de ZH

De roupa nova, repaginado, o jornal Zero Hora não consegue esconder as suas compulsões. Uma delas, talvez a mais gritante, é com a figura do presidente venezuelano Hugo Chávez.

O golpe militar sofrido pelo presidente hondurenho, Manuel Zelaya, no dia em que promovia consulta popular para respaldar uma nova Assembleia Constituinte, acaba sendo elemento secundário para os editores de ZH, o mais importante é informar que ele é aliado de Chávez, um certo esforço no sentido de desqualificar o presidente deposto. A manchete de capa passa essa informação e o mesmo acontece na manchete interna da página 26 (acima). É para não sobrar nenhuma dúvida.

O presidente Zelaya foi eleito pela direita liberal hondurenha em 2005. Mas no curso de seu governo começou a buscar apoio popular através de políticas públicas que resgatassem a imensa dívida social das oligarquias locais para com os camponeses e trabalhadores urbanos hondurenhos.

Horas atrás acabou sendo vítima da solução histórica encontrada pelas elites para impor a sua vontade minoritária e intolerante – o uso das forças armadas para golpear um presidente civil que procurava governar com soberania e espírito republicano. Um filme velho e embolorado, mas que continua sendo o predileto das oligarquias latino-americanas.

O inédito é que em nome da legalidade e do direito, os gorilas o tenham golpeado precisamente no dia em o presidente promovia uma consulta popular para preparar uma nova Constituinte, ou seja, por ter respeitado o jogo democrático e promovido a participação popular é que Zelaya foi duramente golpeado.