27.5.09

Zero Hora, 45 anos... O papel de um jornal! Uma ode à hipocrisia!

Zero Hora de 04 de maio de 2009, publicou um editorial comemorativo de seus 45 anos que é uma ode a hipocrisia. Tudo o que ali está dito sobre o jornal, é exatamente tudo aquilo que ZH não é. Nem sob efeito de algum tipo de alucinógeno pode-se concordar que tais características refiram-se ao jornaleco da Azenha.

Certidão do cotidiano das comunidades onde circula...??? Que cotidiano, cara pálida? O cotidiano de ZH é antípoda da realidade! Zero Hora sequestra um protagonismo que não é seu. Pode, sim, fazer de conta, mas está longe de representar o pensamento de um estado que não é hegemônico. O “estado boi”, um estado de vaquinhas de presépio, de pessoas que ainda se acham politizadas. Fizeram duas merdas consecutivas, elegeram um incompetente, Germano Rigotto(PMDB) e não contentes, após quatro lamentáveis anos para não eleger Raul Pont(PT), votaram em uma desequilibrada. Tomem “desequilibrada”como um elogio.

Reciprocidade entre um veículo comprometido com a informação qualificada e independente, e uma comunidade de pessoas bem-informadas, exigentes e participativas. “...Informação qualificada...” Aqui o autor “se puxou”. Qualificada aos interesses corporativos do Grupo RBS e seus parceiros comerciais. Questões como o interesse público vão para o inferno. E isso não é jornalismo nem em Marte. ZH dominical chega a ponto de ser vendida associada com a revista Veja.

A contrapartida de ZH à fidelidade de seu público, é exatamente este compromisso com a verdade, com pluralismo de opiniões,com relevância das opiniões editoriais e publicitárias que divulga, e com a construção de uma sociedade justa e solidária. ”...fidelidade de seu público..” Talvez, ZH deva estar se referindo sobre as reuniões de apoio partidário após o entardecer, com empresários ligados a FEDERASUL para apunhalar Germano Rigotto pelas costas, e que elegeu esta desequilibrada, conspirando contra os interesses de parte de seus eleitorais. Se parte da população atura ser enganada por ZH, e acredita em “Coelinho da Páscoa”, não é difícil de se entender o ponto de descrédito e achincalhamento que o estado chegou. Não foi pela politização de seu eleitorado. Esta crença, o próprio PT contribuiu para forjar.

Guia de ética, qualidade e responsabilidade social... Este guia, coitado, deve servir de calço para algum escaninho na redação de ZH, ou sendo usado como papel higiênico.
Com sua experiência de 45 anos, Zero Hora sabe que o mais importante para o público, é receber informação confiável, opiniões equilibradas, e publicidade útil....

Noventa e dois milhões de Reais são uma quantia bastante razoável para comprar consciências de formadores de opinião e forjar qualquer tipo de mentira. Basta navegar por blogs de jornalistas com banners publicitários milionários de estatais do RS, para se perceber que o ponto de vista em relação à corrupção no estado, é um (ou nenhum); já em relação aos “desvios éticos” de autoridades federais é implacável.

Zero Hora consolidou-se na ditadura militar. Sua primeira edição chegou às bancas em 04 de maio de 1964. Exatamente trinta e quatro dias após o golpe militar de primeiro de abril de 1964, dia dos bobos. O Caderno sobre os 45 anos de ZH é um descaramento que salta aos olhos de quem o lê. Quem procurar a existência de traços de uma ditadura militar que eliminou centenas de cidadãos brasileiros deverá utilizar lupa. É isto que significa ser um jornal confiável?

Fonte: A Carapuça

25.5.09

Traduções e notícias pasteurizadas e uniformizadas


A superioridade civilizatória dos jornalões

Recebo nota de Castor Filho, que está sempre de olho no PIG internacional, digamos assim:

É sempre com certa surpresa que leio notícias traduzidas pelos jornalecões nacionais. Hoje o Meireles, com "news" do Barrionuevo do NYT, e do Langellier do Le Monde, me incentivou a fazer os comentários que se seguem.

Há nas traduções um quê de "condescendência", ou mesmo "vá lá que seja" que não está explícito no texto na língua original. Não vejo neste fato uma falha do tradutor(a), mas uma constatação da mão do editor na "tradução". Melhor dizendo, há uma certa "maldade" na tradução que não é aparente no texto original.

'Tá certo que o Langellier (Le Monde) expressa um certo pedantismo ou mesmo uma "superioridade civilizatória" nas suas reportagens. Aliás, coisa tipicamente francesa, que se nota mais ainda quando trata de assuntos políticos das colônias.

Às vezes, os repórteres/colunistas dos jornais lutécios [parisienses] fazem isso até com reportagens ou artigos sobre políticas internas ou externas dos EUA (para consumo do público francês). Só que, hoje, os papéis estão invertidos, as colônias dos EUA são os europeus em geral e a França de Sarkozy em particular. Os franceses já perceberam isso, mas seus jornais ainda não.

Já o Barrionuevo (NYT) é meramente um "informante interessado". O ódio explícito nutrido pelo ex-latino americano ao Chávez aparece em todas as suas notícias. Se ele fizer uma reportagem sobre "sexo das lagostas em Marte" ele vai fazer, com todo o empenho e certeza, a inefável e constante crítica ao Presidente Chávez. Segue à risca a receita de quem o paga. Isso se coaduna perfeitamente com o texto que interessa à FSP, membro efetivo das Organizações Serra de Comunicação e Propaganda Política Ilegal, panfleto atado ao esquema demo-tucano. Quer dizer: os interesses de "informar" aos leitores norte-americanos coincidem com os interesses de "informar" o leitor/eleitor brasileiro. O nome correto disso é desinformação.

No geralzão, o que vemos/lemos, descontadas as nuances linguísticas, é uma total pasteurização dos textos, independente da língua e o caráter do articulista/repórter. O fenômeno da pasteurização/uniformização da notícia ocorre em toda a mídia ocidental. Incluo, também nesse rol, os repórteres e articulistas ditos de esquerda. Todos, com raras exceções.

Só algumas pessoas que sempre enviam mensagens e traduções para a rede castorphoto, nem preciso citar nomes, tem a preocupação de buscar fontes de informação fora da mídia ocidental. Fato que proporciona a anteposição política como informação mínima.

Hoje, nem sempre consigo fazer isso, dei uma lida/passada na maioria dos jornalecões nacionais unicamente para ler artigos traduzidos. Originais e traduções, é lógico. O Globo, JB, Zero Hora, Jornal de Minas, C. Brasiliense, etc. quando não repercutem traduções de seus co-irmãos, simplesmente copiam as mesmas traduções. É padrão. Até vou enviar esta observação ao Venício Lima (CM e OI) e ver se ele se interessa em fazer pesquisa a respeito. [...]

Fonte: Diário Gauche

Fogaça: coadjuvante faltoso e protagonista de uma farsa


ZH mente que o prefeito furreca vai despoluir o Guaíba

A pauta de mobilizações/reivindicações dos sindicatos e movimentos sociais precisam considerar o papel (deletério) do jornal Zero Hora, e de resto os demais veículos do grupo RBS, na construção de subjetividades favoráveis aos dirigentes político-administrativos da direita guasca.

É inegável que a governadora Yeda Crusius é uma criatura inteiramente esculpida nas oficinas e redações do grupo RBS. Senão, como explicar que uma deputada do terceiro time do Congresso iria se eleger no Rio Grande através de um partido nanico e pouco expressivo como o PSDB? Ela, Yeda, que de medíocre professora de Economia fora guindada, anos atrás, a comentarista televisiva da inflação dos tomates e leguminosas de feira livre.

Vejam o caso do prefeito José Fogaça, um prefeito furreca de Porto Alegre, que não pode apresentar uma única obra consistente de autoria de sua administração, se reelege para mais quatro anos de uma gestão tão vibrante quanto o canto das corujas.

E como age concretamente a RBS? Ora, publica matérias como esta (ver fac-símile acima).

O incauto que a lê, introjeta a idéia que Fogaça é “o cara”. Ele trabalha para despoluir o Guaíba. O impensável está para acontecer: viveremos numa cidade, banhada por águas límpidas, potáveis e balneáveis. Tudo graças ao prefeito José Fogaça, à sua ação administrativa dinâmica e renovadora.

Mas examinemos melhor a verdade dos fatos (encoberta por ZH): Custo do projeto: 586,6 milhões de reais. A Prefeitura Municipal de Porto Alegre aporta somente 67,1 milhões de reais. O projeto é anterior à gestão de Fogaça, que por sua vez está com obras em atraso (a chamada contrapartida do município). Os recursos se originam do PAC (governo federal) e da Caixa Econômica (instituição federal de fomento), bem como do Banco Interamericano de Desenvolvimento (que recebe aval e garantia da Secretaria do Tesouro, do governo federal).

Fogaça – a rigor, no frigir dos ovos – é um mero coadjuvante do projeto de despoluição do Guaíba. Aliás, um coadjuvante faltoso, porque não está cumprindo a contento com as suas tarefas e obrigações de coadjuvante. Ainda assim, a RBS apresenta-o como protagonista.

Protagonista de uma farsa.

22.5.09

Ilha da Magia é porto, mas da nau de garapuvus

Por Míriam Santini de Abreu. Brasil

“Dinheiro, volte

Eu estou bem, cara, mantenha suas mãos fora do meu monte

Dinheiro, é um sucesso

Mas não me venha com essa bobagem

Estou no grupo de viagem de primeira classe e alta fidelidade

E acho que preciso de um jatinho”

Money, Pink Floyd

E então aportaram em Florianópolis os homens de terno preto, nos jatinhos e limusines, para conferir a veracidade da carta de Pero Vaz de Caminha a El Rei D. Manuel, todos a bordo da nau WTTC:

Até agora não pudemos saber se há ouro ou prata nela, ou outra coisa de metal, ou ferro; nem lha vimos. Contudo a terra em si é de muito bons ares frescos e temperados como os de Entre-Douro-e-Minho, porque neste tempo d'agora assim os achávamos como os de lá. Águas são muitas; infinitas. Em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo; por causa das águas que tem!

Aportaram no Costão do Santinho, onde pedras adornadas com misteriosas pinturas rupestres vigiam o mar. Até este sábado, 16, irão mesclar conversas e acepipes enquanto traçam o futuro da Ilha de Santa Catarina e de todo o litoral catarinense. Parte da conta foi paga com dinheiro público, R$ 6,5 milhões, e será – alardeiam – compensada pela “mídia internacional”. O carro-chefe dos impressos do Grupo RBS no Estado, o Diário Catarinense, há uma semana conta em detalhes como será dividido o excelente butim, com o qual também irão se regalar governantes e empresários locais:

Edição de 10 de maio: 37 projetos, somando R$ 12 bilhões, irão transformar Santa Catarina em destino internacional: marinas, ecoresorts em praias “paradisíacas”, campos de golfe. Um dos homens de terno preto profetizou: “Estamos em recessão e temos que procurar por lugares que têm potencial e um valor de futuro”. Na capa da mesma edição, o título “Desolação” referia-se à seca que atinge o Planalto e o Oeste Catarinense.

Edição de 11 de maio: outro homem de terno preto lamenta que haja tanta “burocracia” e “insegurança jurídica” no Brasil impedindo o licenciamento dos empreendimentos. Preocupante, segundo ele, também é a atuação do Ministério Público, que impediria “avanços na área de investimentos estrangeiros e afasta os grandes investidores”. Um dos empreendimentos é em Governador Celso Ramos, que custará R$ 2,5 bilhões, gerando presumivelmente 10 mil empregos diretos e 15 mil indiretos num município que tem cerca de 12 mil habitantes.

Edição de 12 de maio: reportagem afirma que o maior número de empregos gerados no setor destina-se a ocupações de faxineira, recepcionista, camareira, cozinheira, garçom, barman e auxiliar de cozinha.

Edição de 13 de maio: Florianópolis, dizem, precisa de uma “intenção estratégica”, assim como Dubai, um dos Emirados árabes. Ali, na cidade plantada no meio do deserto, erguida com dinheiro do petróleo, clientes especiais podem escolher, a preços de R$ 20 milhões a R$ 133 milhões, 14 modelos de luxo de minissubmarinos construídos nos Emirados, com um alcance de aproximadamente 5.500 km. Nesta mesma edição, um texto de apenas uma coluna fala do fim do Plano Diretor Participativo de Florianópolis.

Edição de 14 de maio: esportistas, empresários e políticos da nau WTTC juntam-se para angariar recursos para uma tal de Fundação Amazônia Sustentável. Um dos homens de terno preto diz que eles irão chamar a atenção de todos “para a necessidade de preservar a maior floresta tropical do mundo”. A página na internet revela que os co-fundadores da tal Fundação são o governo do estado do Amazonas e o banco Bradesco, a mantenedora é a Coca-Cola e o parceiro é a rede de hotéis Marriott. A Cola-Cola está cada vez mais afoita na cruzada para privatizar fontes de água mundo afora. Na Amazônia, nada melhor que manter uma fundação com a chancela do governo do estado. Entre os objetivos da Fundação Amazônia Sustentável estão:

“. Promover a edição, publicação e distribuição de livros, revistas e outras formas de divulgação, bem como apoiar a realização de congressos, seminários, simpósios, exposições e demais eventos de interesse técnico-científico;

. Oferecer condições para que a iniciativa privada possa contar com instrumentos adequados de co-participação na programação de pesquisas e no apoio a programas e projetos de interesse das áreas de meio ambiente, recursos hídricos, biodiversidade e desenvolvimento sustentável.”

Ah, a boa Parceria Público-Privada, com um toque de aval científico!

O conteúdo que foi alvo da breve análise acima, sobre as mais recentes edições do DC a respeito da nau do WTTC, se repete no A Notícia, de Joinville, no Jornal de SC, em Blumenau, no Hora, em Florianópolis, além das rádios, internet e na onipresente programação local e regional da RBS TV. A discussão feita pelo Sindicato dos Jornalistas de Santa Catarina sobre o oligopólio da RBS no Estado, que é alvo de Ação Civil Pública no Ministério Público Federal, mostrou os reflexos disto. O Grupo praticamente monopoliza o discurso de e sobre Santa Catarina, e saiu do intestino da rede gaúcha, nos seus Painéis RBS, a idéia de fazer a nau do WTTC aportar em Santa Catarina.

O corolário disso está em dois fatos recentes no Estado. Na edição de 6 de maio, uma reportagem no DC discorre sobre as medidas adotados pelo governo do Estado contra a seca que arrasa o Planalto e o Oeste Catarinense. E quais são?

1.incentivar a construção de cisternas, poços e açudes; 2.criar um comitê de ação para combater a estiagem e seus efeitos; 3.monitorar a chuva, os rios e as águas subterrâneas; 4.liberar R$ 1 milhão (!) para a contratação de empresas para a distribuição de água.

Detalhe: a conta da construção de cisternas, poços e açudes ficará para quem “aderir à iniciativa”.

É de imaginar a equipe de governo a matutar sobre como convencer a chuva malvada a cair, enquanto aguardava, ansiosa, a vinda da nau do WTTC.

Agricultores que se endividaram para construir chiqueiros e aviários e assim atender o agronegócio estão com a produção parada. Estudos mostram que, nos últimos nove anos, sete foram de estiagem. A falta de chuva não é novidade; o desequilíbrio ambiental também não. E a resposta estrutural que o governo do Estado dá é sancionar, em abril, o Código Ambiental, que vai ao encontro da necessidade de lucro cada vez maior, especialmente da cadeia do agronegócio. O jornal da Assembléia Legislativa de 30 de abril registra a visita da comitiva parlamentar catarinense à Câmara dos Deputados e ao Senado para defender a nova lei ambiental, alvo de Ação Direta de Inconstitucionalidade. Na foto, deputados, em seus ternos chiques em volta de uma mesa, são o retrato macilento da penúria da política.

Que grande orquestração, este Código Ambiental sob medida para “os negócios”, essa nau do WTTC à cata de ouro, prata ou outra coisa de metal ou ferro, esse discurso hegemônico da mídia RBSiana que vende a paisagem e se importa tão pouco com as pessoas!

Basta relembrar a célebre entrevista do governador Luiz Henrique da Silveira na TVBV, no qual ele desfia suas recorrentes reclamações acerca de qualquer iniciativa, movimento ou discurso que se contraponha ao que ele planeja para Santa Catarina. Em certo trecho LHS afirma: “Agora você me diz: e a favela do Siri? Do lado do campo de golfe que não querem deixar o Fernando Marcondes (de Mattos, dono do Costão do Santinho Resort) fazer? Por que não se proíbe a proliferação de favelas, que jogam, me permita a expressão irada, cocô para a praia, para provocar doenças nas nossas crianças? Por que não se atua nisso aí para impedir? Né? A favela pode poluir a praia! Agora um resort, um hotel, um campo de golfe para atrair turista e gerar emprego e renda não pode!”

Isso está em http://video.google.com/videoplay?docid=-8286208201407673708 A favela à qual o governador de Santa Catarina se refere é retratada, assim com a luta de seus moradores, na mais recente edição da revista bimestral Pobres & Nojentas.

Fica a critério de cada um analisar os sentidos que o discurso de Luiz Henrique da Silveira provoca. Mas a prática está escancarada, e jorra inesgotável daquele pavilhão construído no Costão do Santinho, inspirado nas arenas da Grécia, onde as escotilhas da nau do WTTC deram passagem à piratas bem-vestidos e com cabeças-de-planilha.

Por tudo isso é que, com gosto, fotografei o Plenário lotado da Câmara de Vereadores de Florianópolis na audiência pública que, nesta quinta-feira, 14 de maio, discutiu o golpe que o prefeito Dário Berger está aplicando para barrar o Plano Diretor Participativo da Capital. Gente reunida ali, em noite de chuva, para dizer NÃO! Acesse http://www.youtube.com/user/SindiJornalistasSC para saber mais sobre o assunto.

Pero Vaz de Caminha disse na Carta a El Rei D. Manuel: E cerca da noite nós volvemos para as naus com nossa lenha.

Ao se desvanecer esta frente fria no outono ilhéu, embarcarão, também, os piratas da nau do WTTC. Mas a lenha que tomaram de nós há 500 anos pode ter ficado mais forte. Os garapuvus de Desterro, árvores-gente-canoa, não vão se desprender da terra assim tão facilmente...

Imagem: jornalismob.files.wordpress.com

MAIS EM http://www.pobresenojentas.blogspot.com/

21.5.09

O Ministro, os jovens e a TV

Pelo Animot:


Certa tarde de domingo, os desafortunados espectadores do Domingão do Faustão assistiram a mais ou menos o seguinte diálogo inusitado entre o apresentador Fausto Silva e a cantora Adriana Calcanhoto:
Fausto: Você gosta de música?
Adriana: Não, eu não gosto de música. Eu odeio música!
O diálogo acima foi inusitado pela resposta irônica da entrevistada, a qual é bem inteligente. Mas não é inusitado pela pergunta estúpida do apresentador. No Faustão, geralmente os entrevistados fazem cara séria, e respondem às perguntas estúpidas como se fossem perguntas inteligentes. Poucos não suportam a estupidez e chutam o pau da barraca, como Adriana Calcanhoto fez.

Programas de TV são povoados por perguntas e pressupostos estúpidos como os que regem a escolha de perguntas de Fausto Silva. (Lembre do "Homer" visualizado pelo jornalista responsável pelo Jornal Nacional.) A doutrina por detrás dessa escolha é que o incompreensível afasta o público, o compreensível o atrai. E a TV quer público em quantidade, pois é remunerada pela quantidade de público. Assim, o pessoal da TV faz perguntas estúpidas na TV e apresenta programas estúpidos porque assim supostamente mantém a audiência dos que não são estúpidos, pois esses podem compreender uma estupidez, e não afasta a audiência dos estúpidos, pois esses compreendem o que é suficientemente estúpido para seu nível de compreensão.

A doutrina acima é perversa, pois estimula a estupidez, e essa não é um bem social, nem deve ou precisa ser estimulada. Podemos chamar tal doutrina da TV de doutrina da estupidez. Se essa doutrina está certa, então os mais estúpidos não são afastados, e os mais espertos aguentam o que é estúpido, pois isso ao menos é compreensível, e todos querem o conforto do conhecido, todos têm medo do desconhecido.

Bem, mas a doutrina está errada, pois nem todos têm medo do desconhecido, e os mais espertos preferem programas mais espertos. Eis porque, com a vulgarização do acesso à internet e a outras mídias onde todos podem produzir conteúdo, e há mais inteligência, houve migração e transformação de espectadores da TV para agentes do universo da web. E assim a TV e outras mídias que se regem pela doutrina da estupidez perderam público.

Entra o ministro das comunicações do Brasil, o sr. Hélio Costa. Ele está muito preocupado com o faturamento das empresas de rádio e TV, nem um pouco preocupado com a nocividade da estupidez para os jovens, como mostra a seguinte notícia:
“Juventude tem que “despendurar” da internet e voltar a ver TV, diz ministro

A abertura do 25º Congresso Brasileiro de Radiodifusão, promovido pela Abert, nesta terça-feira, 19, contou com um comentário inusitado do ministro das Comunicações, Hélio Costa. O ministro fez uma defesa arraigada do setor de rádio e televisão, e sugeriu que os jovens devem usar menos a internet e assistir mais programas de TV e de rádio.

“Essa juventude tem que parar de só ficar pendurada na internet. Tem que assistir mais rádio e televisão”, afirmou o ministro em seu discurso, após relembrar a distância entre o faturamento da radiodifusão e das telecomunicações. “O setor de comunicação fatura R$ 110 bilhões por ano. Desse total, somente R$ 1 bilhão é do rádio e R$ 12 bilhões das TVs. O resto vocês sabem muito bem onde está”, provocou o responsável pelas comunicações do país.” (Teletime)
O Hermenauta comenta:
Vejam que o Ministro não está dizendo que os jovens têm que largar a internet e ir namorar, ou estudar, ou praticar esportes. Está dizendo que os jovens têm que despendurar da internet -- que é uma indústria de telecomunicações -- e se pendurar na televisão -- que é uma outra indústria de telecomunicações, mas é mais próxima ao Ministro.
E, por que os jovens têm que voltar para a TV? Ora, porque o setor de rádio e TV fatura apenas 13 bilhões/ano de um total de 110 bilhões/ano faturado pelo setor de comunicações, só por isso!

Ainda bem que Hélio Costa não é ministro da saúde, pois ele poderia ser convidado a palestrar em um congresso da indústria farmacêutica, e acabaria reclamando das pessoas que abandonam o cigarro e não desenvolvem câncer e das pessoas que abandonam o açucar e não desenvolvem diabetes.

19.5.09

O "Rio Grande" merece isso!

O editorial de hoje do jornal Zero Hora merece ser guardado. É um registro importante para alguém que deseje fazer um dia uma história do comportamento editorial da mídia gaúcha. Raras vezes, a posição editorial do grupo RBS mostrou-se tão desnudada. É uma constrangedora exibição de cinismo, ignorância, delírio, mentira, hipocrisia e irresponsabilidade. Intitulado “O Rio Grande não merece isso!”, o editorial coloca no mesmo saco acusados de roubo, desvio de dinheiro público, formação de quadrilha, peculato, desvio, falsidade ideológica, corrupção ativa e passiva, entre outros crimes, e os denunciantes. Vamos a ele (o texto em itálico refere-se ao editorial):

“Os gaúchos vivem um momento triste da história política deste Estado. Como se não bastassem os inevitáveis problemas decorrentes da crise econômica mundial e das armadilhas do clima, lideranças políticas, autoridades e instituições vêm protagonizando um deplorável jogo de acusações, suspeitas e mentiras que só confunde e decepciona a população. Os cidadãos rio-grandenses já não sabem em quem acreditar, tal é o emaranhado de denúncias sem provas, explicações pouco convincentes, gravações misteriosas e desarrazoadas manobras partidárias voltadas unicamente para a conquista do poder. Será tão difícil assim para o Rio Grande e sua gente retomar o caminho da verdade e da dignidade?”

A primeira frase é verdadeira. Uma das únicas em todo o texto. Na segunda frase, já aparecem a ignorância e a irresponsabilidade. Entre as mazelas do Rio Grande figuram as “armadilhas do clima”. Como assim, “armadilhas”? Para a RBS, o clima é um agente ardiloso que está colocando armadilhas a frente do pobre povo gaúcho? Os fenômenos climáticos atípicos que vem se repetindo com regularidade crescente no Estado (como secas, furacões, enchentes, entre outros) são apresentados como sendo algo completamente dissociado da ação humana. O desmatamento desenfreado, a desertificação, a morte de rios, riachos, lagos e açudes, a destruição de áreas fundamentais para o equilíbrio ambiental – tudo isso é reduzido à categoria de “armadilhas” do clima.

O mesmo parágrafo opera uma lamentável diluição de responsabilidades entre acusadores e acusados. “Os cidadãos riograndenses já não sabem em quem acreditar”, diz o texto. Que tal acreditar nas instituições responsáveis por apurar denúncias de roubo de dinheiro público? Que tal, por exemplo, divulgar ampla e didaticamente para a população o resultado das investigações da Polícia Federal e do Ministério Público Federal na Operação Rodin, que denunciou, com fartas provas, a existência de uma quadrilha instalada no aparelho do Estado, operando inclusive com um braço midiático. Nunca é demais lembrar que, logo após o início da Operação Rodin, uma das pautas dos veículos da RBS foi sobre o uso de algemas em “homens de bem”.

“As mais recentes denúncias contra o atual governo do Estado, de uso indevido de recursos de campanha, lançam uma nova carga de suspeições no ventilador da moralidade pública. De um lado, está uma governadora acuada por incessantes ataques de oposicionistas, servidores descontentes com a administração e inimigos políticos velados. De outro, está uma oposição ansiosa para transformar qualquer gota d’água em tsunami, sustentada tanto pelo fogo amigo de quem gravita em torno do poder com interesses subalternos quanto pela munição clandestina de quem deseja conquistá-lo. No meio deste fogo cruzado, estão os cidadãos, os contribuintes, os eleitores deste Estado, cada vez mais desiludidos com a classe política e confusos em relação a seus representantes”.

Para a RBS, a governadora está “acuada por ataques de oposicionistas, uma oposição ansiosa e inimigos políticos velados”. A governadora não estaria acuada por investigações de instituições republicanas como a Polícia Federal, o Ministério Público Federal, o Ministério Público de Contas e a Assembléia Legislativa, apenas para citar algumas??? E “no meio do povo cruzado” estaria os “cidadãos, contribuintes e eleitores cada vez mais desiludidos com a classe política”. Para a RBS, os cidadãos, contribuintes e eleitores do Rio Grande do Sul não têm qualquer responsabilidade sobre suas escolhas políticas. São eternas vítimas da “classe política” que, supostamente, não é escolhida por eles.

“Ninguém é convincente neste episódio lamentável: nem os denunciantes, que levantam suspeitas sobre tudo e todos, e não conseguem provar nada; nem o governo, que parece mais preocupado em desqualificar seus acusadores do que em se abrir à transparência exigida pelos cidadãos. E o pior é que as instituições independentes, que poderiam abreviar a angústia da população, mostram-se no mínimo insensíveis. Como justificar, por exemplo, que o Ministério Público Federal, ao qual se atribui a guarda de provas decisivas para o equacionamento do impasse, não venha a público para, pelo menos, esclarecer se elas existem?”

Mais uma vez a operação de diluição entre acusadores e acusados. Esse parágrafo beira a cumplicidade com os acusados de formar quadrilhas para saquear o estado. E as “instituições independentes” são insensíveis por não dizerem o que a RBS quer na hora que ela quer.

“Cogita-se, agora, da formação de uma CPI na Assembleia Legislativa do Estado para investigar as novas denúncias contra o governo. Com todo respeito a esse instrumento de ação parlamentar, é difícil imaginar que a pretendida comissão não venha a se transformar apenas num palanque eleitoral da disputa política para o pleito do próximo ano. Numa situação normal, se fosse para realmente apurar a verdade, a investigação seria bem-vinda. Mas no atual momento e considerando-se a mesquinhez das posições políticas vigentes, tende a ser uma perda de tempo e um novo fator de descrença da sociedade nos seus representantes, independentemente da sigla partidária que defendem”.

Aqui, o instrumento da CPI é apontado como “palanque eleitoral da disputa política”. Memória é bom e não faz mal a ninguém. No dia 27 de abril de 2001, o mesmo jornal Zero Hora publicou um editorial elogiando a CPI da Segurança Pública que estaria “cumprindo o seu papel”: “bastou uma inspeção feita de surpresa no Instituto Geral de Perícias (IGP), na capital, para que representantes da comissão de inquérito pudessem constatar in loco as graves deficiências materiais e de pessoal desta instituição cujo trabalho é essencial para o combate à criminalidade”, afirmou o editorial.

Na mesma linha, no dia 22 de março de 2001, a então editora de Política de ZH, Rosane de Oliveira, escrevia: “O sucateamento da frota da Brigada Militar e da Polícia Civil não é uma abstração criada pelos opositores do governo (Olívio) para justificar a criação de uma CPI (…). O governo do Estado está diante de um problema que exige ação imediata” . Nestes e em outros textos de opinião publicados na época não há referências ao “palanque da oposição”

“O que não pode é persistir esta situação de irrespons
abilidade coletiva, que só faz mal ao Estado. O Rio Grande, por sua tradição política e pela índole de sua gente, não merece tanto constrangimento. Ainda que um parlamentar da terra tenha dito recentemente que está se lixando para a opinião pública, somos nós – os cidadãos comprometidos com o progresso e a justiça – que podemos mudar este estado de coisas, transformando a indignação em protesto, em manifestações públicas, em voto consciente, em repúdio inequívoco às mentiras e falsidades. O Rio Grande exige mais grandeza política de seus representantes políticos”.

A irresponsabilidade que faz mal ao Estado é a da RBS e seus agentes político e midiáticos que não respondem por suas escolhas políticas e editoriais. Há décadas, a RBS defende e integra um esquema de poder político e econômico que anda de mãos dadas com a privatização do Estado, a destruição ambiental e a criminalização dos setores da sociedade que lutam contra isso. Quando os privatizadores do bem público são pegos com a boca na botija questiona-se o uso de algemas e dilui-se acusadores e acusados. Apresentando-se como porta-voz da “índole do povo gaúcho”, a RBS oculta seus interesses políticos e empresariais, sonega informações, transforma o clima em um inimigo ardiloso, pisoteia a memória e a consciência histórica do Estado.

Uma última observação: o Rio Grande merece isso sim. Shakespeare colocou na boca de Hamlet: “se todos recebessem o que merecessem, ninguém escaparia do chicote”. O Rio Grande do Sul e a população do Estado, apontada miticamente como a “mais politizada” do país, têm o dever de responder por suas escolhas e omissões.

Fonte: RSurgente.

7.5.09

A RBS e o mundo encantado do jabá

Conforme este Cloaca News já denunciou e provou aqui e aqui, o mais importante telejornal da RBS TV, afiliada gaúcha da Globo, é, na verdade, uma grande central de jornalismo-michê. Nesta quinta-feira, por exemplo, os telespectadores do Jornal do Almoço que pretendiam informar-se dos alarmantes casos de febre amarela no Estado, ou dos vários escândalos de corrupção e incompetência administrativa envolvendo a governadora tucana Yeda Crusius, ou mesmo das conseqüências da impiedosa estiagem que esturrica o Rio Grande do Sul tiveram que esperar quase 12 (doze!!) minutos até que o cast de jornalistas da emissora terminasse de apresentar a reluzente reportagem-boquete negociada com uma feira comercial de Soledade, município a 220 quilômetros de Porto Alegre, tradicional entreposto de pedras semipreciosas.

Quase a metade do tempo "útil" do "noticioso" prestou-se a um acintoso informe publicitário travestido de reportagem. E que momento glorioso da televisão brasileira avistar o comentarista político e porta-voz dos Barões Sirotsky desfilar pelos corredores da ExpoSol entrevistando ametistas e citrinos! Logo ele que, da última feita, não economizou panegíricos a uma mesa de salames em evento doutra freguesia. "Estamos aqui neste mundo encantado das pedras coloridas!", exultou o veterano profissional, que não se deixou ofuscar pelos perendengues de turmalinas e berilos.



Não tivemos acesso, desta vez, às cifras oficiais da negociação. Mas podemos afirmar, peremptoriamente, que a penúltima investida do "jornalismo" da RBS beliscou, limpinhos, nada menos que trezentos mil reais.



Confira aqui mais essa jóia da imprensa venal.




A prova de que há uma articulação entre o Piratini e a RBS







Em 24 horas tucanos fazem um projeto educacional e o lançam através de Zero Hora

Segunda-feira passada, dia 4 de maio, o jornal Folha de S. Paulo, estampava a seguinte manchete principal:

“MEC propõe mudar o ensino médio” (ver fac-símile acima). E informava, também na capa: “Atuais 12 disciplinas seriam reunidas em apenas quatro grupos temáticos; projeto será analisado nesta semana”.

No dia seguinte, terça-feira passada, 5 de maio, o jornal Zero Hora, estampava a seguinte manchete principal:

“Rede estadual planeja agrupar disciplinas em só quatro áreas” (ver fac-símile acima). E informava, também na capa: “Os grupos seriam: Linguagens, Matemática, Ciências da natureza, Ciências humanas”.

Ao contrário do diário paulistano, ZH foi mais prolixa na informação e alertava que a decisão já estava tomada: “Conforme a secretária de Educação, Mariza Abreu, em lugar da atual divisão em disciplinas, a base serão [Argh! Chega a doer no ouvido!] quatro grandes áreas do conhecimento”.

Isso que se chama agilidade administrativa pelo alto! A tucana Mariza Abreu copia grosseiramente um projeto do governo federal e o lança através do boletim oficial do Palácio Piratini – jornal Zero Hora – já como decisão pronta e acabada para uma nova política pedagógico-disciplinar na rede pública estadual do Rio Grande do Sul.

O ato desavergonhado e oportunista do tucanato guasca – mais um, entre tantos outros – mostra que de fato há uma estreita conexão político-administrativa entre o Piratini e o grupo RBS.

Sem entrar no mérito do projeto em si (particularmente, me parece bom), a medida é profundamente autoritária e intempestiva. Não é possível mudar os conceitos de um semestre para outro. O próprio governo federal está tomando cautelas com a agrupação de disciplinas do ensino médio, para tanto, está propondo um grande debate nacional, que deve contar sobretudo com a participação de professores, alunos, pais e as comunidades envolvidas, bem como as escolas superiores de pedagogia e ensino docente.

Assim como quer o governo Yeda Crusius, o projeto servirá de instrumento e motivo para novas investidas contra os direitos dos professores, redução numérica dos docentes na rede estadual e uma simplificação pedagógica que resultará em mais vulgarização e mais rebaixamento da qualidade do ensino na rede pública.

Voltaremos ao tema.

Fonte: Diário Gauche