29.4.09

Elaine Tavares: A RBS no banco dos réus

A RBS no banco dos réus

Por Elaine Tavares – jornalista

O Sindicato dos Jornalistas de Santa Catarina realizou no dia 28 de abril de 2009 uma discussão histórica, colocando no banco dos réus o oligopólio da Rede Brasil Sul, a RBS. Mas, esta proposta de transformar a maior rede de comunicação do sul do país em ré comum não foi privilégio da direção do sindicato, portanto a ela não se pode reputar nenhuma intenção ideológica. O responsável por esta façanha é o Procurador Regional dos Direitos do Cidadão em Santa Catarina, Celso Antônio Três, que apresentou uma ação civil pública ao Ministério Público Federal contra a empresa dos Sirotski, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica e a União.

Baseado exclusivamente na letra fria da lei, o procurador apela para a tutela dos direitos de informação e expressão do cidadão, a pluralidade, que é premissa básica do Estado democrático e de Direito. Com base nisso ele denuncia e exige providências contra o oligopólio da mídia sustentado pela RBS no Estado de Santa Catarina e no Rio Grande do Sul. Segundo Três, é comprovada documentalmente a posse de 18 emissoras de televisão aberta, duas emissoras por cabo, oito jornais diários, 26 emissoras de rádio, dois portais na internet, uma editora e uma gravadora. Ele lembra ainda que o faturamento do grupo em 2006 chegou a 825 milhões de reais, com um lucro líquido de 93 milhões, tudo isso baseado no domínio da mente das populações do sul que atualmente não tem possibilidade de receber uma informação plural. Praticamente tudo o que se vê, ouve ou lê nos dois estados do sul vem da RBS.

No debate realizado pelo SJSC o procurador insistiu que filosoficamente ser é ser percebido e isso é o que faz a mídia, torna visível aqueles que ela considera “ser”. Os pobres, os excluídos do sistema, os lutadores sociais, toda essa gente fica de fora porque não pode ser mostrada como ser construtor de mundos. Celso Três afirma que na atualidade o estado é puro espetáculo enquanto o cidadão assume o posto de espectador. Nesse contexto a mídia passa a ser o receptor deste espetáculo diário, ainda que não tenha a menor consistência. “Nós vivemos uma histeria diária provocada pela mídia e o país atua sob a batuta desta histeria”.

No caso de Santa Catarina o mais grave é que esta histeria é provocada por um único grupo, que detém o controle das emissoras de TV e dos jornais de circulação estadual. Não há concorrência para a RBS e quando ela aparece é sumariamente derrotada através de ações ilegais como o “dumping”, como o que aconteceu na capital, Florianópolis, quando da abertura do jornal Notícias do Dia, um periódico de formato popular com um preço de 0,50 centavos. Imediatamente a RBS reagiu colocando nas bancas um jornal igual, ao preço de 0,25 centavos. Não bastasse isso a RBS mantêm cativas empresas de toda a ordem exigindo delas exclusividade nos anúncios, incorrendo assim em crime contra a ordem econômica.

Sobre isso a lei é muito clara. Desde 1967 que é terminantemente proibido um empresa ter mais que duas emissoras de TV por estado. A RBS tem mais de uma dezena. A Constituição de 1988 determina que a comunicação não pode ser objeto de oligopólio. Pois em Santa Catarina é. Segundo Três, na formação acionária das empresas existem “mais de 300 Sirotski” , portanto não há como negar que esta família controle as empresas como quis fazer crer o Ministério das Comunicações, também réu na ação. “Eles alegaram que a RBS não existe, é um nome de fantasia para empresas de vários donos. Ora, isso é mentira. Os donos são os mesmos: os Sirotski”.

O procurador alega que a lei no Brasil, no que diz respeito a porcentagem de produção local que deve ter um empresa, nunca foi regulamentada, mas não é por conta da inoperância do legislativo que a Justiça não pode agir. “Nós acabamos utilizando a lei que trata do mercado de chocolate, cerveja, etc. Nesta lei, uma empresa não pode controlar mais que 20% do mercado. Ora, em Santa Catarina, a RBS controla quase 100% da informação”.

Aprofundando o debate sobre a ação oligopólica da RBS, Danilo Carneiro, estudioso do sistema capitalista e membro do Grupo Tortura Nunca Mais do Rio de Janeiro, deu uma aula sobre a formação do sistema capitalista e mostrou como atualmente o capitalismo já não consegue mais reproduzir a vida, tamanha a sua dominação sobre a vida das pessoas e sua sanha por lucros. Desde as cidades-estado italianas, onde o comércio impulsiona a acumulação de lucros, até os dias de hoje a consolidação do capitalismo está ligada à exploração dos trabalhadores e da natureza. Para que isso aconteça é necessário manter as gentes em estado permanente de alienação e aí entram os Meios de Comunicação de Massa. Não é à toa, portanto, que instituições governamentais como o CADE e o Ministério das Comunicações façam vistas grossas ao oligopólio da RBS assim como da Globo. Tudo faz parte da manutenção do sistema.

Sobre a ação na Justiça contra a RBS, Danilo lembrou que hoje no Brasil existem mais de 60 milhões de ações em andamento e isso por si só já dá um panorama do que pode acontecer. Sem uma mobilização política efetiva das entidades e do povo catarinense, essa ação pode se perder no sumidouro da Justiça brasileira.

Na platéia do debate um público muito representativo do movimento social de Florianópolis, tais como representantes do Diretório Central dos Estudantes da UFSC, da União Florianopolitana de Entidades Comunitárias (UFECO), Sindicato dos Previdenciários (SINDPREVS), Sindicato dos Eletricitários (SINERGIA), jornalistas, estudantes, professores. Cada um deles compreendeu que à corajosa atitude do procurador Celso Três, devem se somar ações políticas e de acompanhamento da ação. O Sindicato dos Jornalistas deve se colocar como assistente do Ministério Público, abastecendo-o com informações e as demais entidades vão difundir as notícias e fazer a pressão necessária para o andamento da ação.

Conforme bem lembra Celso Três, esta não é uma ação voluntarista ou ideológica, ela é objetiva e se fundamente na lei maior. Oligopólios são proibidos e as populações de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul tem direitos a uma informação plural e diversificada. Não há amparo legal para a propriedade cruzada, o pensamento único e muito menos para a dominação econômica.

Na senda da fala de Danilo Carneiro, que deixou claro que sob a ditadura do capital é impossível a democratização da comunicação, também assomou entre os presentes a necessidade da discussão e da luta por outra comunicação e outro estado que não esse no qual imperam as relações de dominação. Agora é ficar atento e aprofundar a luta. Sem isso, não anda a ação, e tampouco acontecem mudanças estruturais.

Fonte: Viomundo

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http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=516DAC002


ENTREVISTA / CELSO TRES
"É a RBS que governa o estado"

Por Rafaela Mattevi e Cora Ribeiro em 16/12/2008

Publicado originalmente no jornal-laboratório Zero, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), edição de novembro 2008

Na quarta-feira (10/12), o Ministério Público Federal de Santa Catarina entrou com uma Ação Civil Pública (processo nº. 2008.72.00.014043-5) contra o oligopólio da empresa Rede Brasil Sul (RBS) no Sul do Brasil. O MPF requer, entre outras providências, a diminuição do número de emissoras da empresa em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul, de acordo com a lei; e a anulação da compra do jornal A Notícia, de Joinville, consumada em 2006 – que resultou no virtual monopólio da empresa em jornais de relevância no estado de Santa Catarina. O quadro geral da situação pode ser conferido a seguir, na entrevista realizada em novembro com Celso Tres, um dos procuradores que elaborou a medida judicial.

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O Cade também é réu

Desde 2006, o MP fala em processar a RBS pela compra do jornal A Notícia. Isso vai acontecer?

Celso Tres – Sim, a ação está sendo instruída há dois anos, por meio de um Inquérito Civil Público (ICP), porque é bem complexa. Também participam vários procuradores no estado. A RBS tem uma posição totalmente dominante. No RS e em SC, são 18 emissoras de televisão, dezenas de estações de rádio, uma dezena de jornais. E a culminância disso foi quando a RBS comprou o jornal A Notícia, o que a tornou dona de todos os jornais de expressão dos dois estados.

Então, o que nós vamos discutir é essa questão do oligopólio à luz inclusive da lei que regula a ordem econômica, não é nem a lei da mídia propriamente dita. É tão grotesco isso, que nem essa lei que regula a atividade de economia em geral permite o oligopólio – obviamente, é muito menos lesivo numa sociedade você ter um oligopólio de chocolate, pasta de dente, do que ter oligopólio da mídia. Falo oligopólio, porque monopólio seria a exclusividade absoluta; mas a RBS tem posição quase totalitária.

A tendência da economia é a concentração e, por isso, certas compras de empresas têm que ser analisadas. Esse caso da RBS é um escândalo, ela governa o estado. Como o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) aprovou a compra do AN? O Cade é réu na ação porque aprovou isso.

Violação a direito difuso

O que vai ser requerido, especificamente, na ação?

C.T. – Em linhas gerais, o que o MP demanda é: primeiro, que a compra do AN seja desfeita – eles vão ter que devolver o jornal para o antigo dono ou vender para terceiros; segundo, que seja cumprida a lei que diz que eles só podem ter no máximo duas emissoras no estado, ou seja, que acabe essa farsa que é de ser tudo da mesma família; e terceiro, o que eu acho mais importante, a implementação da programação local. A Constituição Federal determinou que é obrigatória a programação local. Só que em 20 anos nunca se adequou a lei. Então, o MP está querendo que a Justiça arbitre um percentual – 30% de programação local no âmbito do estado e 15% em cada região, no mínimo.

São inúmeros réus: todas as pessoas físicas da RBS, cada "emissora", o Cade; a União, por causa do Ministério das Comunicações (MC). E o MP pede para que a Justiça estabeleça uma multa por violação a um direito difuso, em razão da omissão do poder público. A gente vai entrar com a ação nos próximos meses e a sentença em primeiro grau deve sair em um ano.

Evitar concentração

O que foi feito no Inquérito?

C.T. – O ICP não é um processo judicial, não tem contraditório, ou seja, quem é investigado não tem direito de resposta. Mesmo assim, o MP abriu pra RBS se manifestar e, inclusive, eles vieram com o mesmo discurso do Ministério da Comunicação. Eles [a RBS e o MC] se comunicaram, é uma piada. A mesma pessoa que redigiu a resposta do Ministério redigiu a da RBS, é uma coisa vergonhosa. O mesmo discurso: "Não, porque a lei diz que é a mesma pessoa física só que no caso não é." É chamar o legislador de imbecil.

Quando a lei diz que tu não podes ser titular de mais de dois veículos, qual é o objetivo dela? É evitar concentração. Se é da mesma família, se tem a mesma programação, está concentrado, é evidente. É uma fraude clara ao objetivo da lei. Não teria sentido proibir que alguém seja proprietário de mais de dois meios de comunicação e permitir que esse meio de comunicação transmita a mesma programação, tenha a mesma linha editorial etc. É a mesma coisa que nada.

Pessoa física, e não pessoa jurídica

Então o problema do oligopólio é a fiscalização?

C.T. – A nossa legislação é desacatada porque o uso da radiodifusão sempre foi um benefício político. Essa relação do poder público está tão viciada que o MC não faz absolutamente nada para reprimir esses ilícitos e o caso da RBS é muito claro.

Na última eleição [para governador], isso ficou bastante evidente. A tríplice aliança de Luiz Henrique foi com a RBS; foi uma vergonha porque no primeiro turno a RBS anunciava que não ia ter segundo turno. Daí, deu segundo turno e eles anunciaram até um dia antes da eleição dizendo que a diferença era astronômica e, no final, deu 5% de diferença entre o Amin e o Luiz Henrique. Então não há dúvida de que a RBS elegeu o Luiz Henrique. Independentemente da pressão política, isso é irrelevante para o MP. Mas qualquer inocente sabe que a massificação de alguém que está na frente arrasa, induz o povo a votar.

Em cada estado, um titular só pode ter no máximo duas emissoras – emissoras, não retransmissoras. Este é outro vício: as emissoras têm outorgas de emissão, ou seja, elas deveriam produzir programação, mas não produzem ou fazem uma programação local ínfima, como é o caso da RBS. Existem várias "emissoras", em Florianópolis, Criciúma, Lages, Xanxerê, Blumenau, Joinville. Mas, na verdade, elas só produzem um noticiário local.

Hoje, na verdade, em SC, ou você trabalha na RBS ou você está fora. Você vai estar trabalhando ou em órgãos bem pequenos, espaço de trabalho inclusive bastante reduzido, caso do que eles fizeram com o AN. As matérias são as mesmas, teve um momento assim que chegaram ao ridículo de colocar a mesma manchete, a mesma matéria.

A radiodifusão – emissora de rádio e TV – deve estar em nome de pessoa física, não de pessoa jurídica, e cada pessoa só pode ter duas por estado. Daí, o que eles fazem é colocar em nome de pessoas da família. E isso tudo está demonstrado claramente na ação. Inclusive a questão da retransmissão.

Dizimar a concorrência

E isso não é contrato simulado, colocar tudo no nome da família inteira?

C.T. – Essa questão da titularidade é uma questão criminal, porque é uma falsidade ideológica. Isso a gente vai verificar mais tarde. O objetivo, agora, é mudar a realidade. O MC diz que não controla isso porque a RBS está em nome de terceiros. É óbvio que é irrelevante que a concessão esteja no nome de A ou B, até porque – como é o caso de Blumenau, que não está no nome da família Sirotsky – retransmitem a mesma programação, essa é a grande questão, o conteúdo.

A lei diz que ter 20% do mercado é ter posição dominante e obviamente a RBS tem isso. E essa questão tem vários aspectos: direito à informação e direito à expressão, e também a questão da publicidade. Por exemplo, o Diarinho de Itajaí, o que a RBS faz com os caras? Na Rede Angeloni, faz contratos publicitários, impedindo que o supermercado coloque lá o Diarinho para os caras venderem. Então não existe concorrência, acabou. A concorrência é dizimada. Na Grande Florianópolis, eles lançaram o jornal A Hora a R$ 0,25, o que é claramente um preço inferior ao de custo, pra dizimar com a concorrência. Essas são as práticas deles.

Executivo subalterno

Existe solução?

C.T. – A questão é permitir a multiplicidade. A rede pública de televisão, com a criação da TV Brasil, poderia ter sido uma saída, mas o governo fez tudo errado. O correto seria que o Estado disponibilizasse canais, não adianta tentar produzir programação.

Seria fácil: criar 30 canais de TV para serem disponibilizados à população. Depois seria só colocar retransmissoras públicas nos centros urbanos, para os canais transmitirem programação independente. Uma medida simples, percebe? Bastava criar os canais e construir as retransmissoras. É uma questão tecnológica e de vontade política.

Custaria muito mais barato do que o governo tentar produzir programação e todos teriam oportunidade de fazer sua produção. O governo faria as retransmissoras, pura e simplesmente. Seria uma revolução na comunicação. A mídia, em pouco tempo, mudaria porque, com uma multiplicidade de canais, o canal com maior audiência chegaria a 15%, 10%, como é nos EUA, que é o correto.

Certamente se o governo viesse "Ah, vamos fazer aplicar a lei das duas emissoras", eles iam dizer, "Não! É uma lei da ditadura! O Lula é o Chávez." É uma besteira. O que diz a lei? Cada cidadão tem que ter um número x de canais, essa é a meta. Podia botar no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) isso aí. É uma questão econômica, direitos individuais, gera muito emprego, oportunidades, veiculação comercial; atingiria em cheio a própria economia.

O principal modo de democratizar não seria combater o monopólio e o oligopólio?

C.T. – O primeiro passo seria esse, mas, como eu falei, os órgãos do executivo são muito subalternos e também a RBS pode virar o governo. Qual a finalidade de um deputado federal que vai lá propor uma legislação mais rígida para isso? Se é um deputado de SC, a RBS vai fazer algumas reportagens contra o cara e ele está acabado. O cara não se reelege mais.

Você já foi ameaçado?

C.T. – Não, por isso não.

23.4.09

Carta Maior promove debate sobre a mídia no Brasil

Carta Maior convidou alguns dos mais expressivos nomes do jornalismo e da academia brasileira e um destacado professor da Universidade de Buenos Aires para um debate sobre a atuação da mídia no Brasil. Encontro reunirá os professores Laurindo Leal Filho, Venício Lima, o jornalista Luis Nassif e o professor Damian Loreti, da Universidade de Buenos Aires, além de convidados especiais Antonio Roberto Espinosa e Ivan Seixas. Debate ocorrerá nesta sexta-feira (24), às 19 horas, no Hotel Macksoud Plaza, em São Paulo. A TV Carta Maior transmitirá ao vivo.
Redação - Carta Maior
Leitura completa AQUI.
SERVIÇO:

O que: A Mídia em Debate
Quando: Sexta-feira, 24 de abril
Onde: Hotel Macksoud Plaza (Alameda Campinas, 150, São Paulo-SP)
Horário: 19 horas
Transmissão ao vivo pela TV Carta Maior

Participam:
Laurindo Leal Filho
Professor da Universidade de São Paulo-SP

Venício Lima
Pesquisador da Universidade de Brasília – UnB

Luis Nassif
Jornalista

Damian Loreti,
Professor da Universidade de Buenos Aires – Argentina

Participações Especiais:

Antonio Roberto Espinosa,
Professor da Escola Pós-Graduada de Ciências Sociais (FESP) e da Escola Superior Diplomática
Ivan Seixas
Jornalista

22.4.09

Manual prático de manipulação da mídia

Olha que jóia encontrei no Youtube. É o trabalho realizado pelos alunos de uma escola estadual em Jacarezinho, Paraná. Entendem perfeitamente como os recursos da edição são utilizados para a manipulação da informação. Gravaram o trabalho em vídeo e colocaram no Youtube. E são secundaristas da rede estadual, perfeitamente integrados na dinâmica digital e na guerrilha da Internet.
Clique aqui, quem não estiver vendo o vídeo.
Para quem acredita em teoria conspiratória, duas informações:
1. Descobri agora esse vídeo, quando ia atrás do vídeo do Biscaia. Tinha trezentas e poucas exibições apenas.
2. Porque só a Globo? Ué, porque é a líder inconteste do mercado, alguma dúvida?



Fonte: Blog do Luis Nassif

16.4.09

Mobilização Pró-Conferência Nacional de Comunicação


Videoconferência

17 de abril de 2009 (sexta-feira)
das 9 h às 12 h
Local: Assembléia Legislativa* do RS (sala a confirmar no dia)

Pauta: Repasse do debate às Comissões que não puderam estar presentes na reunião do dia 16/04 em Brasília, ou para um número maior de pessoas nos estados.

Atenciosamente,
Comissão RS Pró-Conferência Nacional de Comunicação
*Procure informações na Assembléia Legislativa do seu Estado.

11.4.09

Duas notas sobre o MST e as escolas itinerantes

Sexta-feira, 10 de Abril de 2009

ZH mergulha de vez no gênero “panfleto político”


Criança desobediente é o fim do mundo!

Não é possível deixar passar batido o material anti-MST veiculado ontem pelo jornal Zero Hora. Aliás, este jornal – na atualidade – é certamente o mais conservador do País, porque além de estampar matérias de nítido conteúdo anticomunista, com estilo e linguagem em desuso, sustenta valores reacionários, promovendo ações políticas que legitimam um governo estadual desmoralizado e desgovernado como o de Yeda Rorato Crusius.

Pois, o jornal do grupo RBS (monopólio ilegal de uma rede de mídias no RS e SC) ontem resolveu estabelecer uma divisão valorativa no tema das escolas itinerantes do MST no Estado. De um lado estão os “ameaçadores agentes do mal” (o MST), de outro, estão os “vitimizados agentes do bem” (o MP/RS e a Secretaria Estadual da Educação).

O linguajar empregado pela editoria de ZH é próprio da velha tradição do “panfleto político” – hoje, já quase um gênero político-literário consagrado, tanto pela esquerda quanto pela direita, embora tenha tido origem nas lutas jacobinas, na anti-restauração, nos embates no âmbito da esquerda do século 19 e na vida orgânica dos partidos políticos populares do século 20. Não temos nada contra o gênero panfletário, ao contrário, este blog bebe diariamente nesta fonte fecunda. Mas, à ZH e seus amestrados jornalistas falta legitimidade para praticarem tais artes e ofícios. A mão é pesada e o resultado, grosseiro.

OK, ZH é um panfleto da direita guasca. Mas é um panfleto fake. A pilcha de panfletários cai mal em ZH. O chapéu é de caubói e as boleadeiras são de plástico.

Tem uma matéria – a propósito de “análise” – assinada por um certo Carlos Wagner (assim mesmo, sem sobrenome) onde o neopanfletário cobra continuidade à sanha regressista do condomínio MP/Secretaria Estadual de Educação, ao lembrar o seguinte:

“No meio da luta, ficou de lado uma questão importante: o debate do conteúdo do que é ensinado nas escolas itinerantes”.

Este é o ponto sensível para a direita guasca. Eles não admitem que as crianças que estudam nas escolas itinerantes do MST recusem as cartilhas enfeitiçadas do sistema produtor de mercadorias. Como pode o filho de um despossuído miserável ousar querer saber de conteúdos que não falem de obediência, submissão, disciplina para o trabalho assalariado, e servilismo à relação docilidade política/utilidade econômica? Onde vamos parar sabendo que crianças e jovens estão aprendendo conteúdos de cidadania autônoma e emancipação política?

De fato, é o fim do mundo. Deles, direita guasca.

De resto, sejam bem-vindos ao gênero panfletário - este debate muito nos interessa.

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Domingo, 8 de Março de 2009

RBS está indo longe demais


Produzindo “provas” contra o MST

O jornal Zero Hora produziu hoje mais uma daquelas matérias que serão arquivadas pela banda da direita do Ministério Público estadual. Num futuro próximo, vocês verão que algum promotor da banda da direita do MP/RS usará argumentos e cacoetes ideológicos estampados hoje em ZH. Mais: nas hipotéticas futuras ações diabolizantes do MST constará – como “prova documental” – a matéria de hoje de ZH.

A RBS, em definitivo, está indo longe demais.

Fonte: Diário Gauche

10.4.09

A febre amarela e o latifúndio da informação

Quais as causas do aumento da incidência da febre amarela no Rio Grande do Sul? Segundo o secretário estadual da Saúde, Osmar Terra, a propagação do vírus, que teria vindo da Argentina, surpreende pela rapidez e se deve a uma superpopulação de mosquitos. Provavelmente em função de mudanças climáticas”, arrisca. É alarmante o pouco interesse das autoridades sanitárias em investigar a fundo as causas deste problema que vem se agravando no Estado. Se há uma superpopulação dos mosquitos transmissores da doença é porque houve um desequilíbrio ambiental alterando, entre outras coisas, a população de espécies que se alimentam destes insetos. Recentemente, a região do Vale do Sinos, registrou um problema de superpopulação de mosquitos em função da mortandade de peixes. Superpopulações não surgem por acaso.

O desinteresse em investigar as causas da proliferação da doença no Estado não chega a ser surpreendente em um governo que trata Saúde Pública e Meio Ambiente como áreas estanques e que tem como principal política na área ambiental o atropelo e o desrespeito à legislação para favorecer empresas. Os meios de comunicação têm sua parcela de responsabilidade também e ela não é pequena. O tratamento editorial dado à área ambiental é subordinado aos interesses dos anunciantes. Há vários fenômenos alarmantes. Não se trata apenas da febre amarela. Em março deste ano, o surgimento de três casos de leishmaniose visceral colocou em situação de emergência a cidade de São Borja. Nos últimos anos, a dengue tornou-se um problema com índices epidêmicos. Em Porto Alegre, há pelo menos um registro confirmado da presença de raiva, problema ligado à proliferação de morcegos.

Uma das maneiras de não atacar esses problemas é justamente tratá-los de forma isolada, sem dedicar atenção às suas causas e relações. Neste sentido, a blogosfera pode dar uma importante contribuição à população, ocupando o latifúndio informativo deixado pela imprensa e pelo governo estadual. Faltam recursos para isso, é certo. Mas há uma coisa que pode ser feita: divulgar informações e estudos que tratem das causas e das relações entre esses fenômenos. Esse é um desafio também para os pesquisadores das universidades gaúchas. Há fortes indícios que apontam para a relação entre os problemas ambientais no Rio Grande do Sul e essas doenças. As autoridades sanitárias correm para apagar os focos de incêndio, mas pouco ou nada fazem para entender por que eles estão ocorrendo com regularidade crescente. A ignorância anda de mãos dadas com a irresponsabilidade.

O cruzado Thums e a conspiração do MST: Zero Hora e a guerra das palavras


“Procurador denuncia pressões e abandona ações contra o MST”.

“A desistência do homem que enfrentava o MST”.

“Como o MST tramou a reação”.

“Gilberto Thums jogou a toalha em sua cruzada contra o MST”

Essas foram algumas das manchetes e frases escolhidas pelo jornal Zero Hora para tratar do recuo do promotor Gilberto Thums, do Ministério Público do Rio Grande do Sul, na decisão de fechar as escolas itinerantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. Uma rápida visita ao dicionário (Houaiss, neste caso) nunca faz mal a ninguém:

Denúncia: “imputação de crime ou de ação demeritória revelada à autoridade competente”.

Enfrentar: “encarar frente a frente, arrostar”.

Tramar: “fazer maquinação, intriga; urdir; armar complô ou conspiração; conspirar”.

Cruzada: "expedição militar e religiosa, conduzida principalmente por nobres cristãos na Idade Média entre os anos de 1095 a 1270, com o fim de fazer a guerra denominada santa contra os muçulmanos, e reconquistar Jerusalém e o túmulo de Cristo. Qualquer movimentação militar de intuito religioso contra os representantes de determinadas heresias na Idade Média".

Ou seja, o que as manchetes de Zero Hora dizem é:

O promotor que teve a coragem de travar uma cruzada e lutar frente a frente com os hereges do MST denuncia que foi vítima de uma tramóia armada pelo movimento de bárbaros. Thums é a vítima. O MST é o vilão. Isso porque não concordou com a decisão do fechamento das escolas itinerantes, patrocinada pelo promotor e pelo governo Yeda Crusius. Isolado, o cruzado Thums foi obrigado a abandonar sua guerra santa e se render aos inimigos.

Parafraseando o âncora do programa Conversas Cruzadas, Lasier Martins, em recente debate sobre o movimento dos estudantes contra o governo Yeda Crusius, lançamos aqui uma pesquisa interativa: essa edição é “autêntica” ou é “política”???

Fonte: RSurgente

4.4.09

Os donos do poder e sua mídia

Os indivíduos têm direito de revisar suas crenças e opiniões. A mídia também. Por exemplo. A revista Exame, da Editora Abril, escrevia quando a Operação Narciso da Polícia Federal, dia 13 de julho de 2005, invadiu a Daslu e prendeu dona Eliana Tranchesi pela primeira vez: “A Daslu virou vidraça, o templo paulistano do luxo se tornou o grande alvo da histeria anticapitalista no Brasil”. Era a véspera do aniversário da Queda da Bastilha.

Apanho a edição desta semana de Veja, nau capitânia da mesma Abril. Depois de admirar na capa o fantasma de dona Eliana a exalar ectoplasmaticamente da maquete da célebre loja, leio que a nova prisão da senhora em questão “pode marcar o fim de uma era de permissividade”. Na qual chafurdaram, como diriam cronistas de antanho, os barões midiáticos, entre outros senhores do poder. Não esqueçamos que à inauguração da “loja dos ricos”, como sublinha Veja, esteve presente para cortar a fita o próprio governador de São Paulo, então Geraldo Alckmin. Se fosse hoje, estaria José Serra? Aposto que sim.

Vale não esquecer outros fatos. As reportagens que celebraram o evento histórico da presença na capital bandeirante de um empreendimento comercial sem similares no mundo, a demonstrar que o espírito dos desbravadores continuava lépido. As denúncias da truculência da Operação Narciso, sem contar as lágrimas de Antonio Carlos Magalhães ao saber do vexame sofrido por sua protegida Eliana. De fato, ACM apreciava um terno Armani, levemente desestruturado.

Cabe a pergunta: por que a mídia, com exceção de O Estado de S. Paulo, privilegiou, dia 27 de março passado, a prisão de dona Eliana em lugar da notícia da Operação Castelo de Areia, que indicia o pessoal da Camargo Corrêa e pretende desvendar pretensa trama para favorecer partidos da oposição? Sinceramente, não tenho resposta. Permito-me caminhar por tentativas de explicação, sem descurar das principais características da chamada elite nativa.

De saída, acentue-se que, antes do futebol, esta porção nobre da sociedade nacional pratica com afinco e perícia o chute do cadáver. A queda da Daslu já foi, faz quase quatro anos. Hoje assistimos à consequência, e os tais 94 anos de prisão, cominados pela juíza Maria Isabel do Prado, tidos como absurdos antes que surpreendentes, nada significam além do vezo da Justiça brasileira de somar penas previstas para cada crime cometido. No passado, até recente, houve condenações a mais de 200 anos. E hoje a mesma Abril que enalteceu a Daslu colhe os sintomas de uma mudança histórica com a condenação de dona Eliana.

O comportamento dos diários parece confirmar a tese. Fiquemos por aqui? Não enxergo serviço prestado à razão. Haverá quem diga, do alto da experiência jornalística: ofereceu-se ao distinto público aquilo que de fato o excita. Sim, sim, mas a que público aludimos? Obviamente, ao público dos frequentadores da Daslu (40 mil cadastrados em 2005) e dos aspirantes a fregueses. O creme do creme, a cúspide da pirâmide. Meditemos a respeito: não há espanto se a mídia nativa cuida de comunicar-se, apenas e tão somente, com os privilegiados e com os empenhados em chegar lá. Os esperançosos do bom êxito do seu alpinismo.

Recomendável outra consideração: que tal desviar a atenção do escândalo levantado pela Operação Castelo de Areia? Se as acusações forem provadas, o caso incrimina mais uma vez o sistema, desde o uso de caixa 2 até a evasão fiscal. A rigor, ninguém dos graúdos fica em perfeita segurança nestes domínios. Está na moda, como sabemos, proclamar a corrupção política. E onde se esconderiam os corruptores? Estamos diante da denúncia de um caso destes, e de grande porte. Não seria a hora de ir ao fundo do problema?

A mídia, como sempre, a não ser que o envolvido seja o governo Lula, receia avançar demais, quando, com expressão impávida, não trapaceia, omite ou mente. Que esperar, porém, da mídia verde-amarela? Tropeço, tardiamente, no Jornal da ABI destinado a celebrar o aniversário da Associação Brasileira de Imprensa. A qual teve boas passagens, mas, ao comemorar um século de existência por meio de seu Jornal, canta em prosa e verso em vez de momentos de puro, independente jornalismo os feitos dos patrões: Marinho, Civita, Frias, Mesquita, Bloch, Chateaubriand, Saad. Com o pronto aval de ilustres intelectuais, partícipes da comissão de honra, e de jornalistas não menos ilustres.

Repito, mansamente: este é o único país que conheço onde os profissionais chamam os patrões de colegas. Quanto à Daslu, no momento da Operação Narciso não faltou quem avisasse: não se iludam, não é a Bastilha.


Mino Carta, 3 de abril de 2009.

Fonte: Carta Capital

De como nós mudamos

Há algum tempo era praticamente natural e quase universal a impressão de que o que não saísse nos jornais não existia.

Hoje somos muitos os que lemos e ouvimos os jornais, e nos parece que o que está dito ali é que não existe.


Jean Scharlau, 18 de março de 2009.

2.4.09

Nasce uma estrela na rede Fox News

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O nome é Glenn Beck (foto de Nicholas Roberts para o New York Times). Chamei atenção para ele antes, duas vezes, neste blog. Primeiro, em setembro, quando estava no canal Headline News, da CNN, e entrevistou Sarah Palin. Depois, a 25 de fevereiro, citei a contratação dele pela Fox News, onde criou em seu programa um quadro fixo, diário, sobre o governo Obama: The Road to Socialism (A Rota para o Socialismo).

nyt_090330Nos dias, semanas, meses e anos que se seguiram ao 11 de setembro de 2001, a Fox News - do império de mídia do magnata australiano Rupert Murdoch - funcionou como uma espécie de fonte irradiadora de um terrorismo oficial patrioteiro, que ao mesmo tempo glorificava a figura do presidente George W. Bush como herói combatente de três guerras, uma delas meramente metafórica.

A guerra de mentirinha - ou marca de fantasia - consagrada na expressão bushista global war on terror (guerra global ao terrorismo), ou na sigla GWOT (leia mais AQUI), conviveu com as duas de verdade - a do Afeganistão, hoje agravada e deteriorada, e a do Iraque, resultante da invasão ilegal seguida de ocupação, em desafio aberto à Carta das Nações Unidas, onde o Conselho de Segurança negara apoio à aventura.

Para desespero do presidente Bush e seu onipresente gênio do mal, o vice Dick Cheney, uma das primeiras decisões do presidente Barack Obama, primeiro negro na história a chegar à Casa Branca, consistiu em “desencantar” a guerra da fantasia bushista - enquanto, paralelamente, reforçava as tropas no Afeganistão e abreviava o prazo para a retirada dos soldados que ainda permanecem no Iraque.

O rumo “socialista” de Obama

Um problema incômodo para o novo governo, no entanto, é a sobrevivência nos EUA da barulhenta máquina de informação - ou desinformação - manipulada antes pelo governo Bush para “defender o país do terrorismo”. Nela atua, incansável, o grupo neoconservador que produzira a ficção bélica e comandara a campanha contra o Iraque. Pois agora esses neocons reciclam o terrorismo - mas contra o governo.

A Fox News de Murdoch mantém esse terrorismo no ar, das primeiras horas do dia até o final da noite. Da mesma forma como nos anos Bush aterrorizava as pessoas contra as poucas vozes da oposição que ousavam expor violações das liberdades civis nos EUA, prática e terceirização da tortura em Guantánamo e nas prisões secretas da CIA espalhadas pelo mundo, agora vê comunismo no governo.

foxnation_040109Na nova fase, reciclada, do terrorismo pos-11/9, patrioteiro, cujo alvo central passou a ser o próprio governo, estão alguns dos mesmos combatentes retóricos inflamados do período bushista, do campeão de audiência Bill O’Reilly, que nega ser ideológico, ao vorazmente ideológico Sean Hannity, que se livrou do incômodo penduricalho liberal Alan Colmes. E eles ganharam um reforço de peso: Glenn Beck.

Beck não assusta por ser louríssimo e de olhos azuis. Apavora pela aparência de charlatão sem escrúpulos, capaz de qualquer excesso exibicionista. Se necessário, chora. Derrama lágrimas abundantes, verdadeiras. Enquanto a Fox News criou uma Fox Nation (Nação Fox - conheça AQUI a webpage e veja acima a foice e o martelo que ontem ilustrava entrevista na qual um deputado republicano dizia que os EUA estão virando uma noa URSS), ele lançou seu próprio “Projeto 12 de Setembro” - esforço explícito para reviver a histeria que se seguiu ao terrorismo de 11/9 (saiba mais sobre o projeto AQUI).

O terrorismo e a raiva conservadora

É difícil adivinhar aonde isso tudo vai parar. Os indícios são de que se pretende, tirando partido da incerteza trazida pela crise econômica, legado da dupla Bush-Cheney, produzir certo populismo, apoiado nos setores pos-11/9 mais histéricos, para um desafio nacional maciço ao governo Obama - retratado como “ameaça comunista” às liberdades, atribuídas ao capitalismo.

beck_nyt_090330Ver tudo isso como mero entretenimento da mídia seria subestimar os resultados já obtidos pela Fox News. O próprio New York Times registrou a 30 de março, na primeira página (veja no alto a primeira página, e ao lado o detalhe da matéria; e leia o texto na íntegra AQUI), que Beck, mesmo na periferia do horário nobre - de 6 às 10 da noite pontificam jornais em rede nacional e talk shows de mais sucesso, como O’Reilly e Hannity - já é uma das vozes poderosas a refletir “a raiva populista conservadora da nação”.

Em período pouco superior a dois meses, o programa de Glenn Beck, no horário ingrato de 5 da tarde, é um fenômeno: atrai 2,3 milhões de telespectadores e supera todos os demais das redes de notícias na TV a cabo, excetuados os de O’Reilly e Hannity no horário nobre (8 e 9 da noite). Segundo o Times, significa uma façanha para a Fox News, que sofrera uma queda na campanha eleitoral.

Beck, como outros donos de talk shows, nega ser jornalista (a profissão parece em baixa junto ao público). Diz que começou como “palhaço de rodeios” e compara-se a Howard Beale, aquele âncora de noticiário de TV no filme Network (Rede de Intrigas). Esse personagem anunciou no ar a intenção de matar-se diante das câmeras, numa reação à queda de audiência de seu programa.

Muitas tea parties como a de Boston

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Como a ameaça de suicídio causa impacto, Beale (interpretado por Peter Finch) ganha um horário para falar de sua revolta (“I’m mad as hell” é o grito de guerra dele) contra o que está errado no país e em sua vida. O “Projeto 12/9″, de Beck, pretende efeito igual. Com ele Beck encoraja pessoas em todo o país a reeditar em sua cidade a tea party de Boston (veja a reprodução acima e saiba mais AQUI), o evento que marcou em 1773 o início da revolução dos colonos contra a Coroa.

O populismo de Beck e Rush Limbaugh, rei do talk show de rádio desde os anos 1990, lembra o do padre católico Charles Coughlin (foto abaixo, à direita), cujo sucesso começou com pregações pelo rádio em 1927.

coughlin_fathercharlesContratado pela CBS em 1930, atraia 40 milhões de ouvintes para suas palestras semanais, que no início exaltavam o New Deal de Roosevelt e depois voltaram-se contra o presidente, aderindo ao anti-semitismo e apoiando Hitler e Mussolini (saiba mais AQUI).

O Times definiu Beck no título de sua reportagem como “a louca, apocalíptica e lacrimosa estrela em ascensão da Fox News”. Segundo a reportagem de Brian Stelter e Bill Carter, ele faz uma salada de ultraje, lições baratas de moralismo e visão apocalíptica do futuro. Não por acaso, gente como Beck e Coughlin costumam chegar ao centro do palco em meio a crises como a de 1929 e a de agora.

Haverá casamento de interesses mais perfeito? De um lado o potencial do império Murdoch, com o poder (testado depois do 11/9) de aterrorizar o país. Do outro, o populismo moralista, ultrapatriota, religioso, hipócrita e capaz de atrair a preconceituosa massa conservadora, frustrada com a derrota do Partido Republicano e pronta a acreditar que o complô subterrâneo liderado, da Casa Branca, por Obama vai comunizar o país.

Fonte: Blog do Argemiro Ferreira