29.1.09

Clã Sirotsky condenado a pagar indenização milionária

Um passarinho nos contou e fomos conferir no blog do Políbio Braga: dia 30 de dezembro de 2008, o juiz Eduardo Kothe Werlan condenou a Família Sirotsky, nas figuras de Jayme Sirotsky, Nelson Pacheco Sirotosky, Carlos Eduardo Schneider Melzer, José Pedro Pacheco Sirotsky, Sônia Sirotsky, Marcelo Sirotsky mais Luiz Alberto Barichello e Terra Ville Participações Ltda., a pagar indenização de R$ 24.525.000.00 (vinte e quatro milhões, quinhenteos e vinte e cinco mil reais) para Mário César Terra Lima, idealizador e primeiro dono do condomínio horizontal Terra Ville.

Destacamos algumas partes da sentença [cabe recurso] de 52 páginas e vocês podem tirar as conclusões que quiserem a respeito de como afastar alguém que "atrapalhe o negócio":

[...] constata-se que os problemas verificados integram a atividade e não comprometem a qualificação profissional do engenheiro Mário César Terra Lima. Isto ficou estampado no laudo sério e irretocável da engenheira-perita Isabela Beck da Silva Giannakos nos autos apensos da cautelar da perenização da prova. A acusação de incapacidade laboral apenas escamoteava a intenção de afastar dos negócios o idealizador do Condomínio Terra Ville. [...]

[...] A tese argüida, no sentido de que o engenheiro Mário César teria assinado alguns dos contratos mencionados sem condição de saúde física e psicológica que lhe permitisse adequada avaliação e comprometimento do ato não pode ser acolhida, primeiro porque inexiste laudo técnico datado da época da assinatura para sustentá-la e segundo porque o próprio, autor Mário César Terra Lima disse ter firmado os pactos de bom grado, ainda que entendendo que merecessem alguma ressalva, assinando-os mesmo após ter sido alertado pelo advogado de acordo com seu depoimento de fl. 1458: “ ... Eu voltei e assinei tudo o que me pediram. Tudo o que me pediram eu assinei. E vou lhe dizer eu assinei tanta outras vezes porque tinha confiança absoluta no seu Jaime e no filho dele. Tinha confiança absoluta na família ... Temos que fazer uma reunião eu, o senhor (Jaime) e o Marcelo junto ... então a mudança essa, patrimonial, para a minha família, foi chocante. Então eu mostrei para o seu Jaime isso, ele concordou, naquela época ele concordou que nós tínhamos que rever, então, e assinar outro contrato ...”; fl. 1473: “... Eu jamais falei que o contrato era nulo. Jamais falei que por eu estar doente o contrato era nulo. Isso não.”. Na realidade Mário César não se revela apenas inteligente na área de engenharia, foi sempre muito experto para os negócios como na ocasião em que relatou ter adquirido área de 14 hectares por cerca de cem mil reais, a qual foi incorporada aos muros do Terra Ville e passou a valer o dobro para cada um de seus vários lotes produzidos com o espaço original.

Desse modo, ainda que os contratos reflitam apenas parte da realidade negocial existente, eles não podem ser considerados nulos ou passíveis de anulação posto que sob o ponto de vista formal não apresentam ou apresentaram vícios na origem nem durante sua execução, estando alguns inclusive já resolvidos. [...]

[...] De igual sorte, em feito conexo, constata-se a inexistência de descumprimento de cláusula contratual por parte da empresa Terra Lima Construções e Incorporações Ltda., representada por Mário César Terra Lima, que pudesse resultar na rescisão do contrato de prestação de serviços, eis que não restaram comprovados vícios construtivos capazes de sustentar tal pedido feito pelos atuais representantes da empresa Terra Ville nos termos da análise da produção antecipada de prova, bem como pela falta de comprovação da adoção de conduta duvidosa na liberação das plantas junto à Prefeitura e ameaças aos demandados por parte de Mário César, conforme decisão exarada nos autos nº 001/1.05.0161195-2 (ação de resolução de contrato cumulada com cobrança de multa contratual e indenização por danos morais), processo que demonstrou o descumprimento do pactuado por parte da contratante Terra Ville Ltda. Pela perda do “affectio societatis”. [...]

O total das indenizações pelos três módulos I, II e III globaliza R$ 24.525.000,00.

Aérea do condomínio de luxo na zona sul de Porto Alegre.
Parte das terras pertenceram ao falecido Maurício Sirotsky Sobrinho.
Fonte: Dialógico

28.1.09

RBS quer voltar à casa do Pai


De partido político da direita guasca à Disneylândia de bombachas?

Não é de estranhar que o jornal Zero Hora ao falar em Guerra Fria no Rio Grande (ver suelto abaixo, de 26/1) esqueça de mencionar que um dos combustíveis do conflito Leste-Oeste foi o anticomunismo.

No RS, hoje, o anticomunismo foi atualizado por um sucedâneo ideológico chamado antipetismo. O constructo do antipetismo é uma construção puramente mental – a exemplo do anticomunismo – usado com a funcionalidade de impressionar os espíritos simples do senso comum e mobilizar preconceitos e mitos os mais arraigados.

Quando esses elementos primitivos são excitados no fundo escuro de um espírito ingênuo ou mal formado, a razão passa longe e o indivíduo fica dominado por sensações que vão do medo à intolerância mais funda – presa fácil da propaganda mais simplificadora e rebaixada.

O anticomunismo tinha o mesmo efeito que o bicho-papão para as crianças. Ambos não existiam, mas operavam no susto. A velha União Soviética nunca quis exportar a revolução, aliás, um dos motivos pelos quais não se pode chamar aquele falecido regime estatal de comunista ou socialista.
Se o comunismo foi um bicho-papão que não era bicho nem papão, o mesmo se pode dizer do petismo, especialmente na atual fase de descenso e acomodação conciliatória.

Como se vê, a RBS usa velhos truques manjados para continuar assustando a população menos atenta com tigres de papel pintado.

O Rio Grande do Sul sempre se notabilizou por ter uma imprensa partidária forte e atuante. Do final do século 19 até boa parte do século 20, o Estado e suas principais cidades do interior ostentaram jornais e publicações identificados com os partidos políticos que faziam o debate público regional. O castilhismo-borgismo fez a sua revolução burguesa também através das páginas de “A Federação”, bem como os órgãos de imprensa alinhados com os maragatos, ferrenhos opositores dos republicanos sul-rio-grandenses.

A luta das frações de classe burguesa no Rio Grande sempre foi pública e publicada, pelos menos até o advento do golpe de 1964. Com o regime civil-militar golpista houve um rearranjo neste esquema.

Os dois principais jornais do RS – Zero Hora e Correio do Povo – modificam a trajetória de alinhamento político da imprensa regional. O Correio, criado em 1895, surgiu precisamente para quebrar o paradigma de que jornal deveria estar vinculado a partido político, e não se afiliou a nenhuma linha partidária, mas acabou ficando porta-voz do latifúndio e do setor primário em geral. Hoje, completamente desfigurado é apenas uma caricatura do seu passado.

O jornal ZH, do grupo RBS, é criado imediatamente após o golpe de abril de 1964 e se fortalece à sombra do crescimento da televisão como meio de comunicação de massa no Estado. ZH não tem a mesma origem dos demais órgãos de imprensa do País, cuja personalidade como jornal forjou-se na forma tradicional de fazer diários. Zero Hora resultou da reciclagem errática de um jornal com opinião política aberta – a Última Hora – e firma-se como orgão de mero apoio comercial à mídia televisão, uma espécie de revista de variedades, com notícias e informações em segundo plano. Seu criador, Maurício Sirotsky Sobrinho, sempre foi um animador de programas de auditório com afinado instinto comercial, e depois proprietário de rádios, e jamais teve formação de jornalista militante de redações diárias. Esse é um dos motivos de ZH ser tão pobre em texto e reportagem, as bases são insólitas e não há o menor traço de pedigree jornalístico.

Criado e crescido, portanto, na estufa morna da ditadura civil-militar, ZH cultivou hábitos de ocultar sua filiação político-ideológica, preferindo a política da dissimulação e da camuflagem. Mas isso não significa que não tenha personalidade política e identificação ideológica, ao contrário, não só ZH mas os demais veículos da RBS acabaram ocupando a lacuna funcional dos anêmicos partidos cartoriais do conservadorismo guasca.

Existe alguma ilegitimidade ou ilegalidade nesta representação política delegada da direita? Na origem, nenhuma. O que se contesta é a ocultação permanente desta representação. Aí passa a constituir-se num desvio de função e numa falsidade ideológica (para não falar em constituição de oligopólio de meios de comunicação, que é considerado crime, ao qual o MP Federal de Santa Catarina já está investigando) que deve ser reprovada e denunciada todos os dias.

Recentemente, o grupo RBS recebeu aporte de capital do investidor Armínio Fraga, cerca de 4% do seu capital social. Objeto do aporte: tornar um braço do grupo um forte player no ramo do entretenimento de massas no Brasil.

Vê-se que a RBS retorna ao seu leito de origem, como no mito bíblico, o bom filho à casa torna. Maurício Sobrinho, seu fundador, foi um animador de auditório bem sucedido, pois, agora, seus sucessores fazem justiça ao legado do patriarca voltando ao ramo do entretenimento – de onde nunca deveriam ter saído.

Agora, espera-se que dêem o looping negocial: que saiam do ramo partido-político-da-direita-guasca e migrem em definitivo para adotarem o figurino da Disneylândia de bombachas.

Que Ha-shem os ilumine (e Fraga os financie)!
Fonte: Diário Gauche

27.1.09

A metalinguagem da Guerra Fria




Realimentando o antipetismo guasca

A política tradicional consagrou – entre tantos outros – um mandamento na sua prática deletéria que afirma haver quatro ordenamentos no pensamento político:

1. O que se pensa e se diz;
2. o que se pensa, se diz, mas não se escreve;
3. o que se pensa, mas não se diz, nem escreve;
4. e finalmente aquilo que nem se pensa – ou por perigoso ou por disparatado.

Pois bem, o impensável está acontecendo no RS – por perigoso e por disparatado: a governadora Yeda Rorato Crusius está querendo se reeleger.

Para tanto, o grupo RBS – que tem a funcionalidade orgânica de um verdadeiro partido político (na lacuna dos simulacros partidários que conhecemos), cogitando, debatendo, fabricando versões favoráveis da realidade, sondando, e muitas vezes até arbitrando em favor dos interesses da direita guasca – através de seus principal jornal, Zero Hora, ontem, na edição dominical, lançou um balão de ensaio sobre a reeleição da governadora tucana.

Usando o modelo formal da metalinguagem, ZH apropria o imaginário da Guerra Fria para descrever uma possível reativação de conflitos a partir do caso Busatto-JJ. Só que ao usar a metáfora da Guerra Fria, o próprio jornal-partido está promovendo a Guerra Fria, ele mesmo. Para tanto, não se cansa em lembrar velhos pequenos mitos negativos usinados (pela própria RBS/ZH) para estigmatizar o PT e o governo estadual do petista Olívio Dutra (1999-2002), o incêndio do relógio dos 500 anos da Globo, Clube da Cidadania, Diógenes de Oliveira, invasão da Assembleia, CPI da Segurança Pública (cuja decisão de executá-la com ímpeto golpista foi realizada simbolicamente numa cachaçaria, em alusão a uma atribuída preferência do então governador Olívio), e até um pequeno boneco onde o governador petista é representado com o nariz alongado de Pinóquio. Zero Hora juntou todas essas alusões e referências negativas – construídas e divulgadas pelo próprio jornal – e fez uma memória do que chama de Guerra Fria do Rio Grande. Não falta nem uma bandeira vermelha da URSS em oposição à estelar bandeira estadunidense – imagens fortes que realimentam imaginários que o senso comum não gostaria de reviver.

Como bons intelectuais orgânicos da direita guasca que são, o grupo RBS está dando a largada para a corrida eleitoral de 2010. Trata de refrescar a memória do senso comum para o clima que deve ser evitado no próximo quadriênio administrativo no Estado. Ao mesmo tempo, quer mostrar um PT ressentido, isolado e distante do que está sendo o PT do lulismo na área federal.

A conclusão da matéria não é favorável à nova candidatura da governadora Yeda, e nem desfavorável. O objeto dos editores não foi construir uma positividade, mas uma negatividade. Visa realimentar o constructo do antipetismo de maneira a favorecer, numa segunda etapa da campanha, aí sim, um José Fogaça, um Germano Rigotto, um Pedro Simon e, no limite, até o impensável – uma Yeda Rorato Crusius.

Coisas da vida.

Fonte: Diário Gauche

25.1.09

Kayser


Quod erat demonstrandum

C.Q.D. – Como Queríamos Demonstrar. Tudo funcionando perfeitamente, de acordo com o fluxograma.

Agências que atuam em Gaza protestam contra a BBC

Sede da BBC em Londres
Pena que a moda não pega por aqui! Lemos, no blog do Omar, que, em Londres, 200 pessoas se reuniram em frente a BBC para reclamar de sua editoria, que se negou a veicular mensagem de apelo humanitário para os residentes na Faixa de Gaza.

Motivo: manter a condição de imparcialidade na sua programação pela qual a BBC é reconhecida internacionalmente.

Aqui, cabe um destaque. Entendemos que não existe imparcialidade na mídia, uma vez que a escolha da pauta já propõe um recorte naquilo que é ou não notícia, ou entretenimento. No caso da BBC, no entanto, reconhecemos a diversidade da pauta e a busca de uma produção de qualidade tanto do conteúdo, como na sua apresentação.

Desta forma, entendemos que a mobilização se deu em virtude de uma decisão parcial da editoria da empresa de televisão pública respeitadíssima pelo seu público. Tanto é assim, que o presidente da Iniciativa Muçulmana Britânica, Mohammed Sawalha, afirmou que a BBC "deveria se envergonhar da cobertura sobre a agressão de Israel”.

A notícia da mobilização é encontrada na própria página da BBC/Brasil. E, segundo o Omar em seu blog: A publicação dessa notícia no próprio sítio da BBC deixa margem a algumas interpretações. Uma delas é de que parece haver uma disputa a respeito de sua linha editorial, pelo qual concordamos plenamente.

23.1.09

ZH emburrece o leitor


Prende eles tudo, Protógenes!

O site do pasquim da Ipiranga hoje dá uma demonstração inequívoca do tipo de jornalismo praticado pelo grupo RBS. É inacreditável a capacidade daquela redação de distorcer e encobrir torturando a verdade.
O Ministério da Justiça, a Polícia Federal e o Ministério Público Federal de São Paulo conseguiram finalmente identificar a propriedade dos valores bloqueados no exterior pela chamada Operação Satiagraha. São quase meio bilhão de dólares e de contas do Banco Opportunity. Estas contas financiaram os esquemas de corrupção ainda sob investigação. Conforme o Estadão, pode-se saber a relação do dinheiro e do banco com Celso Pitta, Naji Nahas e Daniel Dantas, nada disto o jornal gaúcho aponta.
Já em ZH, o leitor além de não saber a conexão do dinheiro com o mundo real (nome aos bois), ainda amarga uma conexão malévola do delegado da polícia federal responsável pela investigação e pelas duas prisões de Dantas: Protógenes Queiroz citando supostas escutas ilegais e a processo disciplinar na PF. A intenção de ZH é aliviar o lado de Dantas, parceiro de longa data e patrão de Antônio Britto no banco que comprou a CRT privatizada por ele e aplaudida pela RBS.
Este blog apoiaria a proposta de uma estátua de Protógenes Queiroz na Praça da Alfândega, afinal ele foi o honrado servidor público que conseguiu a façanha de prender Dantas, duas vezes, um banqueiro! No Brasil! Alguém já viu isto antes? Protógenes é o cara, e ZH tenta desmoralizá-lo. Gostei ainda mais dele.
Fonte: Agente65

12.1.09

Celetistas da RBS fazem propaganda de Israel

O pleno exercício da violência simbólica

Alguns blogs já publicaram em tom crítico a charge de ZH, do último sábado. Faço questão de também registrar aqui no DG esse material de propaganda subliminar israelense.

Essa “piada” de péssimo gosto vale por um editorial. Como pegaria mal uma família judaica (Sirotski), dona de uma rede midiática (RBS), publicar editoriais com divulgação de razões e justificações para o genocídio de civis na Faixa de Gaza, eles optam por fragmentar o tema em pequenas pílulas venenosas assinadas ou vocalizadas por celetistas da empresa. Ora é um colunista conhecido, ora é um pitaco em meio a um programa esportivo, ora um comentário em programa de rádio, ora uma charge “engraçadinha” no jornal Zero Hora.

Nome do chargista bufão: Iotti.

Daqui a 50 ou 60 anos quando já existir - espero – o Estado da Palestina (e faço votos que seja um Estado laico, separado da religião islâmica) e quando se construir um Memorial do Holocausto Palestino, se reunirão todos esses materiais de propaganda de incitamento ao genocídio.

A charge acima deverá constar dessa memória da violência simbólica, que ocorre antes e depois da violência física dos bombardeios, invasões de territórios, assassinatos, destruições e privações de todo gênero. A violência simbólica (Bourdieu) da propaganda israelense prepara, sustenta, normaliza e reproduz condições e espíritos para a aceitação da brutalidade das mortíferas ações bélicas contra civis e inocentes (com a devida vênia de Habermas).

Ontem, o caderno “Mais!” da Folha publicou entrevista com o velho jornalista inglês Phillip Knightley, autor de uma alentada obra sobre a cobertura jornalística em guerras, onde ele estuda a guerra da propaganda travada pelos países em confronto. Comentando sobre a máquina de propaganda israelense, Knightley diz o seguinte:

“É muito sofisticada. Todos os porta-vozes são altamente treinados para o contato com a mídia, repetem sempre a mesma mensagem, num inglês impecável. É claro que funciona. A repetição, de modo profissional e sem recuo, acaba por fixar a ideia. Eles não param de dizer que ‘toda nação tem o direito de se defender, ‘toda nação tem o direito de proteger seus cidadãos, estamos protegendo os nossos’. Ficam dizendo isso o tempo todo e as pessoas acabam por acreditar, como se se tratasse apenas disso” – completa o jornalista de 79 anos.

Ainda não dá para sustentar que a RBS, como corporação, seja um dos porta-vozes israelenses, referidos por Phillip Knightley, mas pode-se sim afirmar que muitos de seus celetistas estão engajados simbolicamente no esforço de guerra contra – sobretudo – as crianças palestinas.

Fonte: Diário Gauche

11.1.09

Sobre fenômenos ópticos, sob uma certa ótica



Volta e meia, a depuradora de melífluos sabores gaba-se de divulgar informações em primeira mão, ato mais conhecido entre o vulgo como "furo".

Que sentido há, todavia, em se falar em "furo" em um sistema comunicacional onde se detém tanto o monopólio do deslumbramento quanto o da bajulação, no qual o único feedback tolerado provém do exercício barato do auto-elogio e do auto-engano?

i) O Grupo RBS não está solito na comunicação gaúcha, é fato. Contudo, um histórico de sabujice ajudou a consolidar uma rede física de informação em mídia eletrônica e impressa que lhe garante, na prática, não só o monopólio de sua versão dos fatos como, também e por conseguinte, o monopólio do alumbramento.

A rede de jornalismo impresso e de retransmissores periféricos do que é produzido em rádio e tv pela sede do império RBS não é uma versão dos fatos, mas a versão gaúcha dos fatos. A empresa reforça cotidianamente essa imagem e o imaginário coletivo local lhe reconhece como "a emissora dos gaúchos". Um dos maiores méritos estratégicos do Grupo foi ter percebido, desde sempre, que a exploração de um certo telurismo ufânico guasca, apropriado de crenças e valores locais, solidificaria esse processo de identificação: "aqui, o Rio Grande se vê" é o espelho de narciso gaudério.

Trata-se da Alegoria da Estância, ilustrada acima pelo talento de Hupper. No latifúndio imaginário criado pelo Grupo RBS, o palhaço que se mira representa tanto o modo como a sociedade gaúcha é tratada pela empresa quanto todo gaúcho que acredita ser essencialmente aquilo refletido no espelho criado pelo Grupo, enquanto a imagem do símbolo maior da viril idiotia guasca - a estátua do laçador - nele refletida representa todas as crenças e valores locais enviesadamente apropriados pela empresa e apresentados como nossa identidade: a "gauchidade" reforçada diariamente no apelo do Grupo a fim criar um elo entre si e a comunidade.

Sim, somos todos palhaços apaixonados pela imagem refletida nas águas que também espelham o mais belo pôr-do-sol do mundo, vendo tanto o que o Grupo RBS quer que vejamos por conveniência mercadológica quanto, também, aquilo que queremos ver. Não esqueçamos que Narciso definhou porque se apaixonou pela imagem que tinha de si mesmo, que viu refletida nas águas. Quem "se vê" no espelho sirotskiniano tende a definhar intelectualmente até o ponto da total indigência mental. Não somos todos vítimas inocentes, portanto. Sem a colaboração de boa parte da sociedade gaúcha, o apelo da empresa não teria boleado nossa própria história.

E quem não quer ver refletida sua imagem nessas inebriantes águas? E quem, inclusive, sequer sendo nativo, mas tendo interesses sedutores e vontade de ser reconhecido como tal - vide o caso clássico de nossa atual governadora, de triste figura em um famoso programa da Rede Globo tentando "ser" gaúcha -, não faz hercúleos esforços para se encaixar nessa imagem pré-concebida?

ii) O monopólio do deslumbramento, entretanto, não é suficiente. O sistema comunicacional da Alegoria da Estância também necessita do monopólio da bajulação.

Não basta apenas o Rio Grande "se ver" nessas sedutoras águas. Também é preciso adulá-lo convenientemente. O Narciso gaudério, portanto, além de reconhecer-se como tal, também precisa manter-se convencido de que a imagem dele refletida corresponde efetivamente à sua auto-imagem, ao seu auto-engano.

Nada melhor, para isso, do que lhe ciceronear em viagens internacionais, conceder-lhe distinções e galardões, anunciar nascimentos, casamentos e doenças de filhos seus e servir-lhe de assessoria de imprensa, vez por outra, mesmo que isso vá de encontro ao conceito de jornalismo.

Pois quem precisa de jornalismo independente, quando o que se vê é o que se quer ver?

Nisso o Grupo RBS também revelou-se insuperável. Graças ao monopólio físico da informação e do alumbramento, esse consequencia daquele, manter Narciso hipnotizado é fácil: basta permanecer sabujamente ao seu lado e com ele trocar impressões estéticas baseadas no jogo de cena e no falso elogio mútuo. Ter seu telefone sempre a mão, a fim de correndo lhe alcançar uma escova ou um creme facial, por exemplo, é indispensável.

No contexto comunicacional de um sistema como o da Alegoria da Estância, portanto, falar em "furo" jornalístico por colunistas sociais políticos soa quase como uma piada. Jornalismo que se faz em ante-salas perfumadas e por trás de telefones, aliás, sequer merece tal epíteto.

(La Vieja agradece profundamente ao talento de Roberto Annes, mais conhecido como Hupper. Sem ele, a Alegoria da Estância jamais teria sido ilustrada com tamanho brilhantismo. Embora a idéia do palhaço diante do espelho que reflete a face de um dos ícones do gauchismo acéfalo ter sido de La Vieja, foi de Hupper a idéia de criar tal arte sobre o clássico "Narciso", de Caravaggio)

Fonte: La vieja bruja

5.1.09

Parte 4: De fábulas e fatos

De Ayrton Centeno para RSurgente

Quem freqüenta o RS Urgente, sabe que, periodicamente, o Instituto de Pesquisas Brancaleone (IPB), cuja palestínica finalidade é atirar pedra em tanque, publica aqui um apanhado do comportamento das manchetes de capa de Zero Hora, numa aparente dissipação de tempo&trabalho para confirmar o óbvio mas que também opera como régua para medir o tamanho da obviedade.

Franciscano, o IPB tem um corpo funcional constituido apenas pelo locutor que vos fala. Seu labor não ostenta arrogância de ciência mas também procura arduamente não confrontá-la. Consiste, apenas para relembrar, em separar e catalogar as manchetes de capa de ZH. De pronto, aparta-se aquelas consideradas neutras – embora em se tratando da mídia de Pindorama e particularmente do órgão da família Sirostsky, neutralidade seja um termo mais afeiçoado à ficção do que à narrativa da vida social. São, vá lá, neutras as manchetes que destacam tragédias, festas, trânsito, meteorologia, esporte, polícia, ciência etc. Feita a peneirada, ficam somente as manchetes políticas, aquelas que mais claramente deixam ver com que turma anda o jornal e como desmente no dia-a-dia seu marketing da “vida por todos os lados” ao privilegiar somente um dos lados, a quem dedica muito mais beijos do que tapas.

Para Lula – e para todos – este 2009 de que pisamos os primeiros dias está cheio de interrogações. Mas todos sabem que 2008 foi um ano formidável para o governo central, apesar dos primeiros reflexos da crise mundial dos mercados desatada nos EUA. Sentindo-se confortáveis com a economia e percebendo o alcance das políticas sociais, as pessoas expressaram sua confiança no país e no presidente, fazendo sua popularidade bater recorde sobre recorde. Já a governadora Yeda Crusius, mesmo antes do desabar da tempestade, passou o ano em mar encapelado, atirando do tombadilho cargas e mais cargas de secretários e assessores, na tentativa de manter o barco navegando embora com o casco perfurado continuamente por novas e más notícias. Sua popularidade, invisível a olho nu, é hoje objeto de estudo da microbiologia.

Mas uma coisa é a vida e outra a sua interpretação. Desse modo, na capa de ZH, Lula, seu partido, seu governo, suas alianças e o país foram alvejados por 31% das manchetes políticas de 2008. Portanto, praticamente uma de cada três manchetes políticas do diário depreciou o presidente, seus aliados e seu governo. As manchetes positivas foram somente 14%, menos da metade das negativas. No caso de Yeda, de seu, vamos dizer, governo, de seus aliados e do Rio Grande os tiros foram de balas de mel. Aqui, as capas desfavoráveis estacionaram em 24% do total, enquanto as favoráveis chegaram a 29%.

Com isso, ZH ensina aos seus leitores que eles vivem em transe hipnótico num universo paralelo. Que aquilo que constatam nas ruas, na escola, no campo, no trabalho e no bolso não passa de uma miragem. É um encantamento que o jornal tenta quebrar a golpes incessantes de papel e tinta. Depois então, irá resgatá-los e devolvê-los ao mundo das realidades irretorquíveis, onde Lula é um pária e Yeda é uma governante sábia, justa e popular. É uma tarefa complicada já que 71% dos brasileiros pensam exatamente o oposto do jornal. E quem garimpou tal percentagem não foi o risível IBP mas institutos de pesquisas de tão nobre estirpe que ZH lhes encomenda, paga e publica os números. É duro viver assim mas é o que acontece com quem se auto-isola num planeta à parte, onde a fábula usurpa o lugar dos fatos.

Leia também as partes 1, 2 e 3 AQUI, AQUI e AQUI respectivamente.

3.1.09

Doze Regras de Redação da Grande Mídia Internacional Quando a Notícia é do Oriente Médio

Lemos no Cloaca News, um texto que circula há alguns anos e que é sempre bom retomá-lo:

JORNALISMO DE ESGOTO GLOBALIZADO

Assinado apenas por "Paulo Cesar", encontramos o texto abaixo na caixa de comentários do excelente blog RS Urgente. Diz o comentarista tratar-se de uma adaptação de um texto em francês, de autoria desconhecida. Pela sua pertinência, resolvemos reproduzi-lo aqui.
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Doze Regras de Redação da Grande Mídia Internacional Quando a Notícia é do Oriente Médio
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Regra Um - No Oriente Médio, são sempre os Árabes que atacam primeiro e sempre Israel que se defende. Esta defesa chama-se represália.
Regra Dois - Os Árabes, Palestinos ou Libaneses não têm o direito de matar civil. Isso se chama "Terrorismo".
Regra Três -Israel tem o direito de matar civil. Isso se chama "Legitima Defesa".
Regra Quatro - Quando Israel mata civis em massa, as potências ocidentais pedem que seja mais comedida. Isso se chama "Reação da Comunidade Internacional".
Regra Cinco - Os Palestinos e os Libaneses não têm o direito de capturar soldados de Israel dentro de instalações militares com sentinelas e postos de combate. Isso se chama "Seqüestro de Pessoas Indefesas".
Regra Seis - Israel tem o direito de seqüestrar a qualquer hora e em qualquer lugar quantos Palestinos e Libaneses desejar. Atualmente, são mais de 10.000, dos quais 300 são crianças e 1000 são mulheres. Não é necessária qualquer prova de culpabilidade. Israel tem o direito de manter os seqüestrados presos indefinidamente, mesmo que sejam autoridades democraticamente eleitas pelos Palestinos. Isso se chama "Prisão de Terroristas".
Regra Sete - Quando se menciona a palavra "Hezbollah", é obrigatório a mesma frase conter a expressão "apoiado e financiado pela Síria e pelo Irã".
Regra Oito - Quando se menciona "Israel", é proibida qualquer menção à expressão "apoiada e financiada pelos Estados Unidos". Isso pode dar a impressão de que o conflito é desigual e que Israel não está em perigo existencial.
Regra Nove - Quando se referir a Israel, são proibidas as expressões "Territórios Ocupados", "Resoluções da ONU", "Violações de Direitos Humanos" ou "Convenção de Genebra".
Regra Dez - Tanto os Palestinos quanto os Libaneses são sempre "covardes" que se escondem entre a população civil, a qual "não os quer". Se eles dormem em suas casas com as sua famílias, a isso se dá o nome de "Covardia". Israel tem o direito de aniquilar com bombas e mísseis os bairros onde eles estão dormindo. Isso chama "Ações Cirúrgica de Alta Precisão".
Regra Onze - Os Israelenses falam melhor o Inglês, o Francês, o Espanhol e o Português que os Árabes. Por isso eles e os que os apóiam devem ser mais entrevistados e ter mais oportunidade do que os Árabes para explicar as presentes Regras de Redação (de 1 a 10) ao grande público. Isso se chama de "Neutralidade Jornalística".
Regra Doze - Todas as pessoas que não estão de acordo com as Regras de Redação acima expostas são "Terroristas Anti-Semitas de Alta Periculosidade".