16.9.09

Viva a Semana Farroupilha!


Por Antônio Oliveira, Jornalista

Semana Farroupilha é sempre uma convocação à meditação. Lembrar nossos históricos ídolos e suas façanhas. Uma reavaliação daquilo que fomos, do que somos e fazer projeções. É importante que façamos isto sem ressentimentos e com consciência e responsabilidade cívicas. Sempre com o foco no aprimoramento das instituições democráticas para o bem da coletividade e para o aprofundamento das relações de respeito entre os humanos.

Um exame da nossa história dos séculos passados e mais recente mostrará feitos memoráveis em todas as áreas, literatura, artes, imprensa, inclusive a desportiva, por que não? E a desportiva é importante até que se destaque para evitarmos no futuro episódios lamentáveis como o ocorrido recentemente, em que a memória da torcida gremista foi traída ao formar uma seleção de todos os tempos, deixando de lado Airton Ferreira da Silva e Alcindo Martha de Freitas, para citar só duas das maiores injustiças, já que alguns lembraram até de um tal de China.

Quem é esperto já deve ter notado que estou despistando para não mostrar nas primeiras linhas o caminho por onde e o lugar onde quero chegar. Vivo os tempos atuais e é nele que meus pensamentos se debatem diariamente. Não é possível lembrar nossos heróis de outros tempos sem sentir a falta que eles nos fazem nos dias atuais.

Temos num caso só e recente dois exemplos de fatos que a sociedade gaúcha lamenta e deixa margens para pensarmos até que aqueles gaúchos de faca na bota, honrados, do qual tanto nos orgulhamos, já não existem mais. Viraram pura ficção. Areia voando no deserto.

Podem até me recriminar, dizendo que propriedades são invadidas no Estado e ninguém faz nada, e então, só para complicar, eu perguntaria quem são os donos originais destas terras, mas não há Cristo que me justifique um assassinato de alguém a tiros, pelas costas. E executado por alguém que, justamente ao contrário, deveria proteger aquele que teve, de maneira estúpida e covarde, sua voz calada a balas.

Refiro-me ao sem terra, sem nada, só com esperança e coragem, Elton Brum da Silva. Morto, dia 21 de agosto, em São Gabriel, por um soldado da Brigada Militar (nos quartéis todos são soldados, do raso ao coronel, ao almirante, ao brigadeiro, ao general) que não devia estar portando arma letal naquele momento. Imaginem se os comandantes da Brigada Militar de antigamente, de outros tempos, deixariam de divulgar e mandar prender imediatamente um soldado que matasse alguém irresponsavelmente como foi o caso. Impossível de imaginar, claro. Já houve tempos em que os comandantes da Brigada Militar eram justos e respeitavam os gaúchos que lhes pagam os salários. E os Pedro e Paulo desfilavam na minha rua, na Vila do IAPI, e até tomavam café nas casas das pessoas.

Neste mesmo caminho, levanto outra questão, justamente na área em que atuo, o jornalismo. Lembro de outras épocas em que nos orgulhávamos dos jornalistas do Rio Grande do Sul. Pelas suas competência, criatividade, coragem e desprendimento. Lembramos com saudades das histórias de João Batista Aveline disfarçado de funcionário dos Correios para buscar uma denúncia sobre fardos de correspondências que eram jogados no lixo em vez de serem distribuídos aos seus destinatários. De Sérgio Caparelli tendo dificuldades para sair do Hospício São Pedro depois de passar alguns dias internado lá para fazer matéria denunciando os maus tratos que sofriam os doentes mentais internos.

Recentemente, até Giovani Grizotti andou passeando dentro dos prédios da Secretaria de Segurança Pública para mostrar que ali não havia nenhuma segurança. Fardado de brigadiano, passou por todas as portarias sem que alguém lhe pedisse uma identificação ou lhe impedisse a passagem.

É por isso que não entendo a razão de até hoje (um dia depois do 20 de setembro completará um mês) um só jornalista não ter publicado o nome deste brigadiano assassino. Imagino que isto não teria acontecido em outros tempos. Garanto que em 24 ou 48 horas, o nome dele já estaria publicado na imprensa. E não vou citar nomes de jornalistas que atuam hoje, e que poderiam fazer a coisa certa, mas não o fazem, para evitar constrangimentos. Em tempos muito mais rudes, sob a ditadura militar, de um dia para o outro denunciamos o nome de um delegado de polícia torturador que exagerou no castigo (um caldo) a um jovem enteado seu e o matou.

São estas as razões que me levam a crer que não se fazem mais gaúchos heróicos, sérios e honrados como antigamente. Na Polícia e no Jornalismo. Por isso, a Semana Farroupilha tem que ser cada vez mais prestigiada, festejada, para revivermos os heroísmos do passado. Talvez um dia recobremos a hombridade, a vergonha na cara. Viva a Semana Farroupilha ! E vejam que eu escrevi tudo isto e em nenhum momento citei a palavra corrupção.

Charge: Santiago

Fonte: RSurgente

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