9.9.09

O cru e o cozido do jornalismo-estupor


A ignorância midiática está aumentando

A qualidade do texto nos jornais brasileiros sempre foi ruim. Com a decadência de sua hegemonia, as tiragens e o faturamento em queda, tudo se precipita, se agrava, se degrada, se achata. A vulgaridade vira norma.

Vejam a manchete acima do jornal Zero Hora, edição de hoje. O principal diário do grupo RBS garante ter havido uma "chuva histórica" em São Paulo.

Como assim?

Vamos separar as coisas para compreendermos melhor o tamanho e a profundidade da burrada rebessiana.

A chuva - até expressão contrária da ciência e dos elementos - pertence à ordem Natural. A história pertence à ordem Cultural. Os conceitos das ciências naturais não dão conta dos conceitos das ciências humanas e culturais. Misturá-los, é trabalhar em erro grave.

A ciência define que o homem se separou da Natureza quando acertou que o incesto é proibido e quando conseguiu distinguir o cozido do cru. Neste preâmbulo da vida social, constituídas essas leis universais - que todos reconhecem e acatam - o homem funda a sua própria ordem de existência - separando-se da Natureza - e inventando a Cultura. Agora, para além da sua constituição física e biológica, os homens são capazes de projetar a própria existência simbólica, a sua cultura. Com isso, se destacam da vida animal e passam a se verem como humanos, portadores de Cultura, capazes de atribuírem à realidade novas significações, através da palavra, do trabalho, da memória, da tridimensão do tempo, e pela valoração das coisas e dos outros homens.

Desde então, o homem vem narrando a sua existência na Terra, seja no que diz respeito à Natureza, seja quanto à Cultura. À essa bidimensionalidade narrativa do humano em movimento se dá o nome de História.

Portanto, a chuva - qualquer intempérie - não tem história. Quem tem história, quem porta a história e significa as transformações são os homens, somente estes.

Já se vê que os editores de ZH estão comendo cru. E não é quibe ou bife Tartar.

Fonte: Diário Gauche

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