21.11.09

O atrevido editorial de Zero Hora




Pede menos ideologia ao presidente Lula no caso Battisti

Maquinista de um bojudo e fuliginoso trem ideológico, o jornal Zero Hora, em seu editorial de hoje, se atreve a exigir do presidente Lula "mais sensatez, menos ideologia" no que se refere ao pedido de extradição do prisioneiro brasileiro Cesare Battisti.

Pelo que se depreende do editorial de ZH, aliás, grafado em texto confuso, mal escrito e onde há mais sofismas do que vírgulas, a expressão "sensatez" poderia ser traduzida como "estrito cumprimento das exigências do Estado democrático".

Todas as vezes que algum veículo da RBS invoca a palavra "democracia" soa tão falso quanto um coelho (sem ser o de Alice) pronunciar sílaba por sílaba a palavra pneumoultramicroscopicossilicovulcanoconiótico (vocábulo de 46 letras, que seria segundo o dicionário Houaiss, a maior palavra da língua portuguesa). Enquanto a RBS não fizer a já tardia autocrítica por ter apoiado e - sobretudo - se beneficiado do golpe civil-militar de 1964-85, haverá uma permanente (e incômoda) interdição cívico-moral sobre a autenticidade de suas convicções democrático-republicanas. Ponto.

Dos sofismas: "...Lula recebe agora uma carta extra de pressão: nunca na história deste país um presidente brasileiro deixou de seguir uma orientação do Supremo Tribunal Federal" - consegue dizer o editorial.

O editorialista de ZH, por algum deficit cognitivo irrecuperável, ainda não entendeu o que se passou no âmbito do STF relativamente ao caso Battisti. Como não é possível - aqui - usar o recurso lúdico-pedagógico do desenho com canetinha infantil hidrocor, vamos resumir de forma bem esquemática, o que foi exarado pelo STF, dois dias atrás: quatro Excelências votaram pela não extradição do ex-ultra italiano; cinco Excelências votaram pela devolução de Battisti à Itália. Muito bem, só que aqueles quatro primeiros - os adeptos da não-extradição acrescido do ministro Ayres Britto, portanto, cinco agora, portanto, formando maioria, optaram por não decidir nada, passando o ananás-do-mato com recheio de pregos para o presidente Lula. Assim, o STF decidiu que nada estava decidido, a decisão é do presidente da República. Foi isto.

Eis o sofisma grosseiro de ZH, o pai cascudo de tantos outros sofismas-júniors espalhados pelas linhas e entrelinhas do editorial de hoje: o STF não deu "orientação" alguma ao chefe do Poder Executivo. Aliás, chama a atenção o comportamento dos ministros do STF, durante quase um ano examinaram o caso Battisti e decidiram que nada decidiriam, tingindo o judiciário brasileiro com o sinal amarelíssimo da pusilanimidade e omissão. Ademais, os votos textuais dos senhores ministros são um primor de primarismo na interpretação do Direito, sejam aqueles contra, sejam aqueles a favor da extradição.

De resto, o editorial da Azenha serve para a RBS provocar (de forma rebaixada, oportunista e eleitoreira) o ministro Tarso Genro, candidato petista à sucessão do yedismo de fracassos, no qual ZH tem saliente protagonismo e indisfarçada influência. Mas quem deve ser "sensato" e evitar a "ideologia" é o presidente Lula.

Vá entender.

Imagem: fac-símile parcial da página 3 de ZH, edição de hoje. O desqualificado garatujador de sinais, um certo MA, bem que poderia ilustrar o editorial de hoje, uma vez que estão nivelados em atrevimento e desprezo, tanto à ética quanto à estética. MA, aliás, é a imagem que a RBS faz de si própria - a realidade em traços borrados, ignorância e as piores intenções.

Fonte: Diário Gauche

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