Vera Spolidoro escreve:
Como colega, mesmo conhecendo os mecanismos da nossa profissão, fico impressionada pelo fato de uma informação se tornar verdade, de tão repetida, ainda que não seja verdadeira. Assim, peço tua paciência para a leitura do que segue:
1. Durante o Pan, cinco atletas pediram refúgio ao Brasil. Estão vivendo aqui, até hoje, o ciclista Michel Fernandez Garcia; o jogador de handebol Rafael Capote; e o treinador de ginástica artística Lazaro Raynel Lamelas Ramirez.
2. Os outros dois atletas, os boxeadores Guillermo Rigondeaux e Erislandy Lara, inicialmente quiseram ficar, para depois ir para a Alemanha. Eles tinham um contato com empresário que prometera levá-los para lá. Deixaram a delegação cubana, foram para um hotel numa praia do Rio e esperaram. O empresário não apareceu. Pediram a um pescador que fizesse contato com a polícia, pois estavam sem dinheiro e sem saber o que fazer. Foram ouvidos pela Polícia Federal, na presença de um procurador da República, Leonardo Luiz Figueiredo Costa, e do conselheiro da OAB-RJ, Cláudio Pereira de Souza Neto. A todos, declararam que queriam voltar para Cuba, e assim foi feito. Não pediram refúgio, ao contrário de seus outros três colegas.
3. Em março deste ano, Lara deu entrevista ao Esporte Espetacular da TV Globo. Confirmou que quis voltar a Cuba, ele e Rigondeaux, já que os planos de ir para a Alemanha naquela ocasião do Pan não tinham dado certo. De Cuba, Lara acabou indo para o México, depois para a Alemanha e atualmente vive em Miami.
4. Há no Brasil 124 cubanos refugiados. O refúgio mais recente foi dado a um grupo de músicos, no final do ano passado, que vieram para um festival e hoje vivem em Recife.
Portanto, o ministro Tarso não teria motivos para negar refúgio aos dois boxeadores, visto que o concedeu a outros três atletas, no mesmo período, o dos Jogos Pan-americanos do Rio. E mais recentemente, ao grupo de músicos.
O vídeo da entrevista concedida dia 1° de março de 2009, ao Esporte Espetacular, foi removido do arquivo do programa. “Conteúdo indisponível”, informa a página de vídeos do programa.
O editorial de ZH repete o procedimento argumentativo tacanho que lhe é habitual: apresenta-se como porta-voz do bom senso e atribuiu ao outro a pecha de “ideológico”. O texto de Umberto Eco sobre o fascismo (ver post abaixo) tem um bom nome para esse tipo de prática.
Mais sobre o assunto:
Lancenet: Pugilista cubano: Quisemos voltar para Cuba
Observatório da Imprensa: A mentira durou mais de um ano
Fonte: RSurgente
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