5.1.09

Parte 4: De fábulas e fatos

De Ayrton Centeno para RSurgente

Quem freqüenta o RS Urgente, sabe que, periodicamente, o Instituto de Pesquisas Brancaleone (IPB), cuja palestínica finalidade é atirar pedra em tanque, publica aqui um apanhado do comportamento das manchetes de capa de Zero Hora, numa aparente dissipação de tempo&trabalho para confirmar o óbvio mas que também opera como régua para medir o tamanho da obviedade.

Franciscano, o IPB tem um corpo funcional constituido apenas pelo locutor que vos fala. Seu labor não ostenta arrogância de ciência mas também procura arduamente não confrontá-la. Consiste, apenas para relembrar, em separar e catalogar as manchetes de capa de ZH. De pronto, aparta-se aquelas consideradas neutras – embora em se tratando da mídia de Pindorama e particularmente do órgão da família Sirostsky, neutralidade seja um termo mais afeiçoado à ficção do que à narrativa da vida social. São, vá lá, neutras as manchetes que destacam tragédias, festas, trânsito, meteorologia, esporte, polícia, ciência etc. Feita a peneirada, ficam somente as manchetes políticas, aquelas que mais claramente deixam ver com que turma anda o jornal e como desmente no dia-a-dia seu marketing da “vida por todos os lados” ao privilegiar somente um dos lados, a quem dedica muito mais beijos do que tapas.

Para Lula – e para todos – este 2009 de que pisamos os primeiros dias está cheio de interrogações. Mas todos sabem que 2008 foi um ano formidável para o governo central, apesar dos primeiros reflexos da crise mundial dos mercados desatada nos EUA. Sentindo-se confortáveis com a economia e percebendo o alcance das políticas sociais, as pessoas expressaram sua confiança no país e no presidente, fazendo sua popularidade bater recorde sobre recorde. Já a governadora Yeda Crusius, mesmo antes do desabar da tempestade, passou o ano em mar encapelado, atirando do tombadilho cargas e mais cargas de secretários e assessores, na tentativa de manter o barco navegando embora com o casco perfurado continuamente por novas e más notícias. Sua popularidade, invisível a olho nu, é hoje objeto de estudo da microbiologia.

Mas uma coisa é a vida e outra a sua interpretação. Desse modo, na capa de ZH, Lula, seu partido, seu governo, suas alianças e o país foram alvejados por 31% das manchetes políticas de 2008. Portanto, praticamente uma de cada três manchetes políticas do diário depreciou o presidente, seus aliados e seu governo. As manchetes positivas foram somente 14%, menos da metade das negativas. No caso de Yeda, de seu, vamos dizer, governo, de seus aliados e do Rio Grande os tiros foram de balas de mel. Aqui, as capas desfavoráveis estacionaram em 24% do total, enquanto as favoráveis chegaram a 29%.

Com isso, ZH ensina aos seus leitores que eles vivem em transe hipnótico num universo paralelo. Que aquilo que constatam nas ruas, na escola, no campo, no trabalho e no bolso não passa de uma miragem. É um encantamento que o jornal tenta quebrar a golpes incessantes de papel e tinta. Depois então, irá resgatá-los e devolvê-los ao mundo das realidades irretorquíveis, onde Lula é um pária e Yeda é uma governante sábia, justa e popular. É uma tarefa complicada já que 71% dos brasileiros pensam exatamente o oposto do jornal. E quem garimpou tal percentagem não foi o risível IBP mas institutos de pesquisas de tão nobre estirpe que ZH lhes encomenda, paga e publica os números. É duro viver assim mas é o que acontece com quem se auto-isola num planeta à parte, onde a fábula usurpa o lugar dos fatos.

Leia também as partes 1, 2 e 3 AQUI, AQUI e AQUI respectivamente.

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