28.1.10

O Fórum visto (ou não) por Zero Hora e Correio do Povo

O Fórum Social Mundial 2010 vai chegando ao fim e já se pode fazer uma análise do que têm sido / foram as coberturas realizadas a respeito. A comparação entre o que fizeram os dois jornais de maior circulação no Rio Grande do Sul expõe aos berros contradições claras entre o entendimento sobre o que é o Fórum.

Zero Hora, como demonstrarei a seguir, simplesmente virou as costas para o FSM. No pré-Fórum, insistiu por meses na tecla do esvaziamento do Fórum. Na hora de cobri-lo, fez o possível para comprovar sua tese, ignorando as dezenas de oficinas, painéis e encontros que vêm acontecendo nesta semana. Fez da cobertura do Fórum uma cobertura eleitoral, destacando (e citando) apenas questões relacionadas à política partidária, quase sem exceções para confirmarem a regra editorial.

O Correio do Povo, como tradicionalmente faz, teve textos mais curtos, mas sua cobertura foi infinitamente mais clara do que a do outro jornal. Na verdade, o Correio fez uma cobertura do Fórum Social Mundial, o que já é muito mais do que não a fazer, caso de ZH. Vamos aos números:

Na terça-feira (o Fórum começou na segunda) o CP anunciou em sua capa duas páginas para o FSM. Foram seis matérias, com cinco assuntos diferentes, além de três notas. Por sua vez, Zero Hora anunciou cinco páginas de cobertura – mais que o dobro, portanto –, mas teve apenas quatro matérias, além de um comentário e uma crônica. Os assuntos foram mais ou menos parecidos, apesar de enfoques diferentes (que não serão analisados neste post).

No dia seguinte, o Correio anunciou 3 páginas para a cobertura, enquanto ZH anunciou 11, incluindo matéria sobre o Fórum Econômico de Davos. No Correio, foram nove matérias, abordando oito assuntos diferentes, além de seis notas, contra três matérias em Zero Hora, que trataram de dois assuntos: o discurso de Lula e a diminuição da presença do MST no Fórum (a entrevista com João Pedro Stédile, publicada juntamente com a tal “cobertura”, nada tem a ver com o FSM). O Correio do Povo tratou de oficinas e painéis a respeito da Cisjordânia, de Honduras, da questão dos quilombos, do meio ambiente, entre outros, além obviamente de duas matérias sobre a fala do presidente Lula.

Por fim, esta quinta-feira não foi diferente. Em duas páginas, o CP publicou sete matérias sobre sete assuntos diferentes – trabalho escravo, transporte coletivo, habitação, drogas, Marcha Mundial das Mulheres… –, além de seis notas, enquanto Zero Hora publicou quatro matérias sobre os seguintes temas: o ministro Vannuchi e o Plano de Direitos Humanos, Tarso Genro defendendo o debate sobre drogas, a fala de Marina Silva, e o Acampamento de Juventude.

Nos três últimos parágrafos é muito fácil perceber o tipo de abordagem feita pelo jornal do Grupo RBS. Para ele, o Fórum Social Mundial é um encontro de políticos, que nada ou pouco tem a ver com a população, sem participação popular, sem debates. Apenas discursos político-partidários, apenas jogo eleitoral. Não estou dizendo com tudo isso que a cobertura do Correio do Povo tenha sido uma maravilha. Faltou aprofundamento, faltou espaço. Mas o CP mostrou o verdadeiro Fórum, cheio de questionamentos, críticas, ações, debates, pessoas, enquanto ZH virou as costas para o FSM, para a cidade e para as pessoas.

* A contabilidade das primeiras páginas da Zero Hora desta quinta-feira é doída. Entre as páginas 2 e 25, são 14 páginas e meia de anúncios. Duas e meia de supermercados, meia de anúncio da casa, uma e meia do governo do Estado, e dez (sim, 10!) de condomínios fechados no litoral norte gaúcho. E aí, com construtoras, imobiliárias e “empresas de urbanismo” financiando empresas de comunicação, se entende o porquê de alguns silêncios e alguns gritos constantes por aí.


Fonte: JornalismoB

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