10.4.09

A febre amarela e o latifúndio da informação

Quais as causas do aumento da incidência da febre amarela no Rio Grande do Sul? Segundo o secretário estadual da Saúde, Osmar Terra, a propagação do vírus, que teria vindo da Argentina, surpreende pela rapidez e se deve a uma superpopulação de mosquitos. Provavelmente em função de mudanças climáticas”, arrisca. É alarmante o pouco interesse das autoridades sanitárias em investigar a fundo as causas deste problema que vem se agravando no Estado. Se há uma superpopulação dos mosquitos transmissores da doença é porque houve um desequilíbrio ambiental alterando, entre outras coisas, a população de espécies que se alimentam destes insetos. Recentemente, a região do Vale do Sinos, registrou um problema de superpopulação de mosquitos em função da mortandade de peixes. Superpopulações não surgem por acaso.

O desinteresse em investigar as causas da proliferação da doença no Estado não chega a ser surpreendente em um governo que trata Saúde Pública e Meio Ambiente como áreas estanques e que tem como principal política na área ambiental o atropelo e o desrespeito à legislação para favorecer empresas. Os meios de comunicação têm sua parcela de responsabilidade também e ela não é pequena. O tratamento editorial dado à área ambiental é subordinado aos interesses dos anunciantes. Há vários fenômenos alarmantes. Não se trata apenas da febre amarela. Em março deste ano, o surgimento de três casos de leishmaniose visceral colocou em situação de emergência a cidade de São Borja. Nos últimos anos, a dengue tornou-se um problema com índices epidêmicos. Em Porto Alegre, há pelo menos um registro confirmado da presença de raiva, problema ligado à proliferação de morcegos.

Uma das maneiras de não atacar esses problemas é justamente tratá-los de forma isolada, sem dedicar atenção às suas causas e relações. Neste sentido, a blogosfera pode dar uma importante contribuição à população, ocupando o latifúndio informativo deixado pela imprensa e pelo governo estadual. Faltam recursos para isso, é certo. Mas há uma coisa que pode ser feita: divulgar informações e estudos que tratem das causas e das relações entre esses fenômenos. Esse é um desafio também para os pesquisadores das universidades gaúchas. Há fortes indícios que apontam para a relação entre os problemas ambientais no Rio Grande do Sul e essas doenças. As autoridades sanitárias correm para apagar os focos de incêndio, mas pouco ou nada fazem para entender por que eles estão ocorrendo com regularidade crescente. A ignorância anda de mãos dadas com a irresponsabilidade.

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