10.3.09

Folha: 2 mil cancelamentos de assinatura?

Do blog do Sakamoto:

08/03/2009 - 10:38

Folha reconhece que errou no Caso “Ditabranda”

O jornal Folha de S. Paulo publica na edição deste domingo uma declaração do proprietário e diretor de redação Otavio Frias Filho reconhecendo (finalmente) que o jornal fez besteira quando chamou a última ditadura brasileira de “ditabranda”.

O uso da expressão “ditabranda” em editorial de 17 de fevereiro passado foi um erro. O termo tem uma conotação leviana que não se presta à gravidade do assunto. Todas as ditaduras são igualmente abomináveis.

Do ponto de vista histórico, porém, é um fato que a ditadura militar brasileira, com toda a sua truculência, foi menos repressiva que as congêneres argentina, uruguaia e chilena -ou que a ditadura cubana, de esquerda.

No editorial de 17 de fevereiro, a Folha de S. Paulo chamou a última ditadura brasileira (1964-1985) de “ditabranda”. O objetivo era fazer um contraponto entre os regimes da década de 70 e 80 na América Latina e a atual situação na Venezuela. Leitores chiaram (fontes de dentro do jornal dizem que uma onda de cancelamento de assinaturas teria acendido uma luz amarela – fala-se em perdas de até 2 mil assinantes) e até profissionais da casa lamentaram o uso do termo. A Folha também respondeu de forma arrogante aos professores Fábio Konder Comparato e Maria Victoria Benevides, que se posicionaram contra o jornal pelo ocorrido em cartas enviadas à redação, o que levou o ombudsman a dizer que faltou cordialidade ao veículo. Um abaixo-assinado circula contra a postura no editorial e já conta com mais de 7 mil adesões.

A declaração de reconhecimento do erro veio acanhada, aparecendo em forma de box na página do ombudsman (A06), longe da página A02 dos editoriais, em que foi publicada o texto que originou essa crise. Além disso, Otavio Frias não ficou na defensiva e atacou:

A nota publicada juntamente com as mensagens dos professores Comparato e Benevides na edição de 20 de fevereiro reagiu com rispidez a uma imprecação ríspida: que os responsáveis pelo editorial fossem forçados, “de joelhos”, a uma autocrítica em praça pública.

Para se arvorar em tutores do comportamento democrático alheio, falta a esses democratas de fachada mostrar que repudiam, com o mesmo furor inquisitorial, os métodos das ditaduras de esquerda com as quais simpatizam.

Ontem, uma manifestação em frente ao jornal, na região central de São Paulo, juntou mais de 400 pessoas para protestar contra o editorial do jornal e demonstrar apoio aos professores Comparato e Benevides. É importante ressaltar que a Folha cobriu a manifestação e publicou a íntegra do abaixo-assinado neste domingo.

Tanto a manifestação quanto as declarações do diretor de redação não colocam um ponto final no caso. Mas não vejo utilidade em tentar descobrir se essas declarações surgiram para colocar um fim nos protestos (e em uma evasão de assinantes) ou se foi fruto de uma autocrítica pelo qual a direção do jornal passou. O que importa é que o caso expôs como o maior e mais importante jornal do país conseguiu relativizar a História, sem grandes problemas de consciência até então, com o objetivo de defender um ponto de vista. Mas também mostrou o poder do consumidor de notícia, ao reclamar da atitude do seu fornecedor, e da mobilização pela internet, essencial para que a crítica ao editorial chegasse aonde chegou.

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