10.12.09

Zero Hora corre para o vinagre




Três exemplos de como não se faz jornalismo


Vá entender as editorias do jornal Zero Hora. Não tente, você pode adquirir um torcicolo mental a ponto de comprometer as suas faculdades cognitivas para todo o sempre.

Na edição de hoje, três abordagens de três temas distintos fritam o cabeção de qualquer um. Ignora-se onde os caras querem chegar, tamanha é a distorção dos princípios básicos do bom jornalismo.

O jornal da RBS quer ser engraçadinho quando menciona o "reino do Chávez". Engraçadinho e impreciso. A Venezuela é uma república democrática, não é uma monarquia. Se quiser insistir, o editor então deve mandar confeccionar os textos inteligentes chamados "para seu filho entender". Quanto à abordagem da chamada "crise bancária venezuelana" esta é puramente ficcional. Sugiro que os editores/redatores leiam a Folha de S. Paulo de hoje, o insuspeito diário dos Frias, certamente confiável à empresa dos Sirotsky. Na Folha serrista, se fica sabendo que o Judiciário da Venezuela mandou prender banqueiros "acusados de apropriação indevida de fundos de poupadores, fraude e formação de quadrilha, em sete bancos privados de pequeno porte". Em ZH, há uma livre re-interpretação da notícia, assim: "Presidente [Hugo Chávez, agora ele é "presidente", acima é chamado de "monarca"] já fechou sete bancos e prendeu oito executivos, causando apreensão entre correntistas". O Judiciário da Venezuela está procurando sanear o sistema bancário do País, com o objetivo de precisamente preservar a poupança e os investimentos dos cidadãos e cidadãs venezuelanos. Mas a matéria de ZH passa uma idéia inversa, a de que a intervenção "do Presidente Chávez" está trazendo insegurança para os correntistas dos bancos corrompidos por seus próprios donos e executivos financeiros.

A desonestidade jornalística dos editores de ZH, neste caso, é mais que evidente, é gritante. Trata-se de um estelionato midiático constrangedor. Pode ser objeto de estudos comparativos nas faculdades de Comunicação Social pelo Brasil afora. O professor coloca ZH e a Folha, lado a lado e compara o tratamento da referida matéria. Notem que estou - propositalmente - sugerindo a Folha, um jornal que não é propriamento o paradigma da honestidade jornalística, mas vá lá.

Outra matéria da edição de hoje, em ZH: essa não foi vítima da desonestidade dos editores, mas da inutilidade da notícia. Os caras estampam como manchete a clássica notícia do "cachorro que mordeu o transeunte". Ou seja, o governador Arruda nega enriquecimento. Ponto. Isto é notícia? Que relevância tem esta platitude para ocupar a manchete no alto de página? [Desculpem o oxímoro "platitude relevante".]

Outra, também de hoje: colocar na capa do jornal as desculpas esfarrapadas do "egrégio" ex-reitor da Ulbra. Onde está a relevância disso? A intenção é mesmo reabilitar a reputação de um suspeito de impor gestão temerária numa Universidade que envolveu alto risco à profissão e às expectativas e sonhos de mais de cem mil pessoas? Afinal, de que lado ZH está?

A continuar assim - com esse jornalismo de verdades particulares - ZH vai a passos largos para o vinagre da nossa indiferença.

Fonte: Diário Gauche

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