Ontem houve uma consulta pública em Porto Alegre para escolher entre dois projetos quase igualmente prejudiciais para a orla do Guaíba. Não sabia? Pois é, nem a RBS. A coisa é absurdamente confusa, cheia de idas e vindas. Uma confusão dessas merecia um espaço grande na imprensa, já que não é simples de ser explicada. Várias matérias, um bom tempo na TV, espaço nos jornais… Não viu nada disso? É porque a RBS descobriu sábado que haveria essa consulta, e deu uma matéria simples no Jornal do Almoço. Não vou falar das (poucas) matérias que apareceram depois da consulta. Preferi me ater aos momentos anteriores, em que a imprensa deveria informar a população do que aconteceria.
Uma matéria de cerca de três minutos, como qualquer outra. Simples, como não o é o tema. Superficial, como não poderia deixar de ser diante de tão pouco tempo. Faltaram diversas explicações. Assim foi a matéria do Jornal do Almoço de sábado. E assim foram as poucas matérias que trataram do tema. Nessa, especificamente, foram entrevistadas duas fontes, uma defendendo o “Sim” e outra defendendo o “Não”. Ambas fracas, não souberam desenvolver o assunto. Falta de habilidade da repórter Cristine Gallisa e de discernimento para escolher as pessoas do produtor.
Os antecedentes da história, como a compra polêmica da área, e os lucros que a permissão de construção de residências na área do Pontal do Estaleiro trariam para a empresa que a comprou, não foram nem abordadas. A questão ambiental foi citada por uns cinco segundos. A privatização do espaço e da vista do Guaíba não foi nem mencionada. Já os lados positivos da construção e as maquetes eletrônicas, obviamente muito bonitas, porque tentam justamente vender a ideia, foram amplamente mostrados. Enquanto os lados negativos ficaram restritos àqueles segundos que eu acabei de falar, os lados positivos tiveram um tempo grande do off, que citou as áreas públicas do projeto, a segurança que ele traria para a região e os sistemas de prevenção de impactos ambientais, entre outras supostas vantagens.
A matéria existiu porque a RBS não podia ignorar completamente. Mas ela seguiu a mesma linha de vantagens que a RBS vê em ignorar o fato. Ela defendeu o “Sim” (mesmo sem mostrar a qual pergunta o eleitor responderia), o lado da empresa, que já até perdeu parte do interesse na área de tantas idas e vindas que o projeto teve e que a emissora não mostrou para o cidadão, já há meses. Não falar na Consulta Popular segue essa linha, de não discutir a cidade, de não aceitar soluções coletivas, voltadas para a população. As únicas manifestações que se via pela cidade na última semana eram dos movimentos ambientais e de defesa da cidade, que conclamavam pelo voto no “Não”, mesmo ressalvando que ele não serviria mais para muita coisa. Uma eleição fajuta, cujo único objetivo era valorizar o governo Fogaça por supostamente ouvir a população, mesmo que o que a população dissesse não servisse para nada.
E foi isso que a matéria do Jornal do Almoço fez. Mostrou como a Prefeitura de Porto Alegre foi legal ao convocar a população para votar em um projeto que a gente sabe que não vai influenciar diretamente em nada. A ideia principal vem sendo cumprida, que é não discutir a função pública da orla do Guaíba e não discutir a cidade como um todo, favorecendo, assim, as grandes empresas de construção.
* Como sempre que trata do MST, a cobertura da Zero Hora sobre a morte do integrante do movimento Elton Brum da Silva pela Brigada Militar foi vergonhosa. Assinada por Humberto Trezzi, a principal matéria sobre o assunto foi publicada na edição de sábado, e basta ver o título para entender do que eu falo: “MST ganha seu mártir”. Uma completa inversão da notícia.
Fonte: JornalismoB
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