9.2.10

Zero Hora omite causas do crescimento da classe C


Eis que está na capa da Zero Hora de domingo, dia 7: “A vez da classe C”, com o subtítulo explicando que 32 milhões de brasileiros ascenderam e agora têm acesso a novos bens de consumo. A reportagem é do caderno Dinheiro, o que gera uma certa desconfiança, mas, como começou bem, levei fé. Me dei mal.

O texto é bom, não há como negar. Apesar de ser de um caderno de economia, é agradável de ler e se esforça para aproximar o leitor do tema abordado. Não vai direto a números e fatos duros de economês, muito antes pelo contrário. Gira em torno de histórias de vida para mostrar de que forma vive a nova classe média, as pessoas que ascenderam à classe C. E faz isso bem, com exemplos concretos, nomes, fotos. Há quatro casos na página central do caderno, de pessoas que compraram carro, andaram de avião, aderiram a um plano de saúde e compraram apartamento.

Na capa do caderno, a reportagem começa com a descrição da trajetória de uma mulher que voltou a estudar e se formou pedagoga, muito bem narrada, por sinal, por Gisele Loeblein e Rodrigo Müzell. Os números que dão a perspectiva concreta da situação do país aparecem em boxes espalhados pela página central, o que torna leve e faz com que o leitor comum ganhe proximidade com um caderno normalmente tão enfadonho. A análise das consequências desse boom da classe C para a economia ficam em um box no fim da reportagem.

Mas quando tudo parece ir muito bem, a gente percebe que está faltando alguma coisa. É óbvio, eles mostram o tempo inteiro como é a vida nos novos classe C, a quantidade de gente que subiu na vida, falam até como alguns conseguiram, mas não explicam por quê.

Não é mencionado em nenhum momento que esse fenômeno recente se deu em função de programas de governo, do aumento do emprego formal, de uma economia mais sólida e todas essas coisas que qualquer economista sério cita de olhos fechados. É como se as pessoas tivessem melhorado de vida só por mérito próprio. Trinta e três milhões de suados trabalhadores que ascenderam, de uma hora pra outra. E que nunca pensaram em fazer isso antes de Lula se tornar presidente. Engraçado, não? Pois é, o texto não questiona nada disso. Aliás, a leveza da narração vai conduzindo o leitor de tal forma que ele não se pergunte por que isso vem acontecendo.

O fato de tanta gente melhorar de vida parece quase um milagre, sem causas aparentes. Mais uma vez, Zero Hora manipula a informação, omite dados, engana o leitor. A diferença é que agora fez bem feito, o que é mais assustador do que quando é escancarado.

Por Cris Rodrigues

Fonte: JornalismoB
Atualizado em 10/02/2010 às oh36min.

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